Aldeia Nagô
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O efeito tequila dos tucanos por Emir Sader

3 - 4 minutos de leituraModo Leitura

Se os tucanos estivessem governando o Brasil – seja
com a vitória de Serra em 2002 ou de Alckmin em 2006 – os efeitos da crise que
o país está superando, seriam tão devastadores como foram os da crise de
janeiro de 1999.






O Brasil teria elevado a taxa de juros a alturas
estratosféricas – em 1999 foi para quase 50% -, os gastos públicos sofreriram
novo corte drástico, se assinaria novo acordo com o FMI, com a obrigação dessas
medidas, mais privatizações de empresas estatais, etc., etc., como o governo
FHC tinha acostumado ao país.

Para não ir mais longe: teríamos o mesmo destino do México. Como os tucanos são
adeptos dos Tratados de Livre Comércio – tinham comprometido o Brasil com a
Área de Livre Comércio para as Américas, Alca, que o governo Lula enterrou –
estaríamos sofrendo as mais duras e diretas consequências da recessão
norteamericana. O México, ao assinar o TLC da América do Norte – o Nafta – teve
seu comércio com os EUA elevado para mais de 90% do total. Podemos imaginar o
tamanho da recessão mexicana. Calcula-se que a economia terá um retrocesso de
7% neste ano, sem perspectivas de recuperação. Não por acaso o governos do
México bateu uma vez às portas do FMI, com as consequências que se conhece,
pela assinatura de mais uma Carta de Compromisso.

Combinam-se no México vários elementos explosivos de crise: para começar, um
presidente neoiberal, Calderón, que procura dar continuidade ao programa de governo
Fox, com a agravante de que triunfou por uma margen exígua de votos, com muitos
indícios de fraude. Em segundo lugar, a profunda crise econômica, resultado das
políticas neoliberais, agravada pela abertura econômica do Tratado de Livre
Comércio assinado pelo México, com as consequências da recessão norteamericana.
Em segundo lugar, a explosiva expansão do narcotráfico, com a aceleração da
violência e da crueldade da ação das gangues e do exército e das polícias,
fruto da situação limítrofe com os EUA, o maior mercado consumidor de drogas do
mundo. Em terceiro lugar, a situação difícil dos trabalhadores mexicanos nos
EUA, que sofrem mais diretamente os efeitos da crise: diminui a ida de
mexicanos, porque os postos de trabalho diminuíram sensivelmente, ao mesmo
tempo que diminui enormemente o envio de dólares para as familias mexicanas.

O livre comércio trouxe para o México, inicialmente, a promessa de
desenvolvimento econômico, que ficou no entanto restrito à fronteira norte,
onde o trabalho de mulheres e crianças nao sindicalizadas atraía capitais pela
superploração da mão de obra. Mas mesmo essa "vantagem comparativa"
desapareceu, conforme a China, mesmo situada incomparavelmente mais distante,
atraiu as empresas, pela maior qualidade da mão de obra, seu preço menor e,
especialmente, a capacidade de consumo do mercado chinês.

Hoje o México vive situação que viveria o Brasil, uma brutal ressaca do tequila
com que os tucanos teriam embebado o país.

Artigo publicado originalmente no site da Carta Maior

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