O episódio emblemático da batalha pelo pix colocou em evidência a sofisticação das campanhas de desinformação no Brasil. Por Sergio Alarcon
A disseminação massiva de fake news sobre a Receita Federal e o Pix, marcada pelo vídeo do jovem deputado mentiroso conhecido como “Chupetinha”, mostrou o óbvio: que essas ações não são fruto de amadorismo ou espontaneidade.
Pelo contrário, revelam a existência de uma estrutura bem financiada, com capacidade técnica e apoio direto de grandes plataformas digitais. O impacto foi tremendo: milhões de visualizações, engajamento astronômico e um rastro de confusão.
Parece claro que a viralização não foi apenas resultado de robôs, embora eles tenham desempenhado um papel importante, mas de um ecossistema digital que inclui influenciadores estratégicos e a própria lógica algorítmica das big techs.
O fato de plataformas continuarem permitindo a circulação de conteúdos duvidosos ou explorarem a monetização desses materiais evidencia sua participação efetiva nesse processo criminoso contra o Brasil e os brasileiros.
O vídeo do deputado Chupeta é mais um exemplo cristalino de como essas campanhas são pensadas para atingir diferentes públicos. O tom apelativo e a linguagem simples teve como objetivo tático fomentar o pânico generalizado contra as medidas da RF adotadas, invertendo seus objetivos.
Curiosamente, ao contrário do disseminado por Chupetinha, essas medidas visavam proteger a sociedade, e os trabalhadores em especial, de bandidos como os grandes sonegadores; como os cabeças dos esquemas de rachadinhas; como lavagem de dinheiro…
Visavam o PCC, as milícias, os capitalistas do mercado ilegal de drogas, e organizações criminosas como a do Jair, que, não por acaso, Chupetinha defende…
Mas a campanha extremista obteve sucesso e, em pouco tempo, fez as pessoas duvidarem do Pix, do Banco Central, da Receita Federal, do Governo, prejudicando a credibilidade pública.
A médio e longo prazo isso resultaria em diversos efeitos deletérios, como a inflexão da inclusão financeira que o Pix gerou, desestimulando o uso do instrumento por quem mais se beneficia dele, especialmente pessoas sem acesso fácil a bancos.
Produziria aumento de custos, com empresas e consumidores gastando mais ao voltarem para métodos de pagamento tradicionais. Facilitaria a ação de criminosos, ao incentivar o uso de dinheiro vivo, que é menos rastreável, favorecendo corrupção e lavagem de dinheiro.
O recuo do Governo foi necessário, e não foi uma “derrota” propriamente. A derrota já era um dado. O recuo foi para reduzir danos políticos que poderiam ser irreversíveis, como foi irreversível, no passado, aqueles 20 centavos…
Esse ataque coordenado serve a objetivos políticos e geopolíticos claros: enfraquecer o Estado, o Governo, alimentar divisões ideológicas e, no limite, desestabilizar a confiança na democracia, tomar o poder para tornar o Brasil elo para o fortalecimento do neofascismo (banditismo) internacional (guerra híbrida digital).
Para enfrentar a guerrilha digital extremista não basta, no entanto, simplesmente recuar e esperar a maré baixar. É preciso estratégia, criatividade e capacidade de antecipação. É preciso estar pronto para também atacar e contra-atacar.
É preciso recursos não apenas intelectuais, mas também materiais. Em defesa da sociedade e da democracia, o Governo, as instituições democráticas, todos que defendem a liberdade civil no limite, os que defendem a civilização plural e laica, precisam usar de força máxima.
Repito com outras palavras: esse episódio do vídeo de “Chupetinha” é mais um alerta (quantos ainda precisam acontecer?): não estamos apenas enfrentando fake news de um menino escroto eleito pela vaga populista do chefe da Orcrim derrotada nas urnas e prestes a enfrentar a justiça, mas um verdadeiro exército internacionalizado de extremistas enlouquecidos.
Esse desafio exige mais do que indignação. Ele pede inteligência, articulação e capacidade de ocupar os espaços midiáticos com força equivalente.
2026 bate à porta: não há mais espaço para a inação. O preço a pagar por uma derrota será trágico… “
Sergio Alarcon