O fim do modelo político-midiático por Luis Nassif
Tempos atrás escrevi que a transparência trazida pela
Internet e pelo acesso aos bancos de dados mais reservados liquidaria com o
modelo político.
Os escândalos de hoje são um bom exemplo.
Com os partidos preparando-se para as eleições, não sobra um.
Aí está o DEM envolvido, o PPS, na hora em que se quiser levantam-se os esquemas
políticos por trás do Detran-SP, as compras da Secretaria da Educação e tudo o
mais. Diria que hoje em dia o partido mais cuidadoso é o PT, mas por uma razão
externa: é o mais visado pela mídia. Em compensação, a falsa certeza de
blindagem tornou São Paulo suscetível a uma série de futuras denúncias
graves.
São práticas seculares, que sobreviviam graças ao cartel que
dominava o mercado de opinião. Como escrevi várias vezes, os escândalos ficavam
guardados, como produtos de gôndola de supermercados. Quando a velha mídia
pretendia atingir alguém ía lá, na prateleira dos escândalos, e tirava o produto
de que necessitava.
Com a entrada da blogosfera, o mercado tornou-se competitivo.
Não dá mais para prosseguir no jogo hipócrita de utilizar escândalos para
interesses políticos, achaques ou chantagem.
É só conferir a Folha de hoje – que não é das publicações que
recorre a achaques. Depois do desastre da declaração de César Benjamin, foi
obrigada a sair correndo, na tentativa infrutífera de salvar a imagem. A
primeira página – inédita – diz que "Ex-secretário liga tucano a mensalão" – em
circunstâncias normais jamais sairia, aliás nem tem muita relevância porque pega
o inexpressivo diretório do Distrito Federal. Depois, abre espaço para Jânio de
Freitas analisar o rombo na tática do PSDB para as eleições. Prossegue com
chamada para os escândalos do Detran-SP e ressuscita o quase extinto (para a
mídia) tema do inquérito da Camargo Correia.
Não chegará ao ponto de analisar a Fundação de
Desenvolvimento da Educação, pois aí seria pedir demais. Mas esse movimento, se
não será suficiente para colar a trinca no cristal de credibilidade da Folha,
mostra que o jogo das denúncias seletivas acabou.
No fundo, esse conjunto de denúncias traz apenas uma
novidade: serve para desmascarar os Catões, como Roberto Freire. Mas o que ele
fez não é diferente das práticas de quem ele acusa. Ou seja, são práticas
generalizadas, tanto na oposição quanto na situação.
Agora se entrou no período eleitoral. Mas o modelo
político-partidário-midiático implodiu. Se a classe política não começar a
trabalhar logo em mudanças na legislação eleitoral, no financiamento de
campanhas, este país se tornará ingovernável.
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