O juiz brasileiro enfrentando a extrema direita digital. Por Jon Lee Anderson
Artigo pulicado originalmente no O nova-iorquino The New Yorker
Os esforços de Alexandre de Moraes para combater o extremismo online o colocaram contra Jair Bolsonaro, Elon Musk e Donald Trump.
“Se Goebbels estivesse vivo e tivesse acesso a X, estaríamos condenados”, disse Moraes. “Os nazistas teriam conquistado o mundo.”
O Supremo Tribunal Federal brasileiro, um edifício amplo, baixo e envidraçado com colunatas inclinadas, fica perto da legislatura nacional e do palácio presidencial, em uma vasta extensão pavimentada conhecida como Praça dos Três Poderes. É o lugar mais público que você pode encontrar em Brasília. Ainda assim, poucas pessoas pareceram notar quando, em 13 de novembro, um homem de meia-idade vestido como o Coringa estacionou perto da quadra, afastou-se alguns passos e detonou um dispositivo explosivo improvisado dentro de seu carro, acendendo uma bola de fogo que subiu acima da calçada. Ele foi até a frente do tribunal, onde uma escultura de Justice vendada está segurando uma espada no colo. O homem enfiou a mão em uma mochila, tirou um pano e jogou na estátua, aparentemente com a intenção de incendiá-la. Então, quando os seguranças se aproximaram, ele lançou mais duas bombas no prédio e abriu sua jaqueta para mostrar que estava usando um colete suicida.
Enquanto os guardas observavam, ele se deitou na frente de Justice e desencadeou outra explosão, que trovejou pela praça, matando o homem, mas deixando a estátua ilesa.
O homem-bomba era Francisco Wanderley Luiz, um serralheiro de cinquenta e nove anos de uma pequena cidade no sul do Brasil. Quando uma equipe de busca da polícia localizou o apartamento onde ele estava hospedado, eles enviaram um robô de controle remoto primeiro – uma precaução sábia, como se viu. Wanderley havia equipado um armário com outro dispositivo explosivo, que explodiu quando o robô se aproximou.
Na atmosfera política febril do Brasil, o suicídio público de Wanderley inevitavelmente teve implicações partidárias. Os investigadores descobriram que ele já havia concorrido sem sucesso a vereador, como membro do partido dominado pelo ex-presidente de direita Jair Bolsonaro. Por vários anos, Bolsonaro se envolveu em uma disputa feroz com o Supremo Tribunal Federal – e particularmente com Alexandre de Moraes, um jurista combativo que às vezes é descrito como o segundo homem mais poderoso do Brasil. Depois que Bolsonaro assumiu o cargo, em 2019, Moraes liderou uma série cada vez maior de investigações sobre ele e sua família. Enquanto os apoiadores de Bolsonaro formavam “milícias digitais” que inundavam a internet com desinformação – alegando que os oponentes políticos eram pedófilos, espalhando mentiras descaradas sobre suas políticas, inventando conspirações – de Moraes lutou para forçá-los a ficar offline. Com poderes especiais do Judiciário, ele suspendeu contas pertencentes a legisladores, magnatas e comentaristas políticos por postagens que descreveu como prejudiciais à democracia brasileira. Seus detratores o chamaram de tirano e autoritário, alegando que ele estava violando seus direitos.
No outono de 2022, Bolsonaro concorreu à reeleição contra Luiz Inácio Lula da Silva, um veterano político que tem sido o esteio da esquerda brasileira por décadas. Bolsonaro insistiu durante toda a campanha, sem provas, que falhas de segurança nas urnas possibilitaram o roubo da eleição. A certa altura, ele alertou: “Se necessário, iremos para a guerra”. Depois que Lula assumiu o cargo, uma multidão de cerca de quatro mil apoiadores de Bolsonaro se reuniu na mesma praça onde Wanderley mais tarde se explodiu. Em um espasmo de raiva, eles destruíram a Suprema Corte, a legislatura e o palácio presidencial – uma estranha reprise do ataque ao Capitólio dos EUA dois anos antes.
Bolsonaro negou qualquer envolvimento, e seus apoiadores protestaram que ele nem estava no Brasil na época. Mas, para os investigadores, até mesmo sua ausência na posse de Lula, na semana anterior, parecia suspeita. Em vez de observar o costume de entregar a faixa do cargo ao novo presidente, Bolsonaro voou para a Flórida, onde permaneceu por três meses aparentemente sem rumo, vagando pelos shoppings de Orlando e tirando selfies com expatriados brasileiros.
Eventualmente, Bolsonaro retornou ao Brasil e, em junho de 2023, foi considerado culpado de “abuso de poder político” e “uso indevido de canais de comunicação” para semear desconfiança no sistema eleitoral – não crimes passíveis de prisão, mas aqueles que o impediram de ocupar o cargo por oito anos. Seus seguidores reclamaram que ele foi vítima de uma campanha de “lawfare”, e Elon Musk assumiu a causa. No X, Musk atacou repetidamente de Moraes, referindo-se a ele como um “ditador malvado fazendo cosplay de juiz” e pedindo seu impeachment. Em comícios, os apoiadores de Bolsonaro agitaram faixas com a imagem de Musk e gritaram: “Obrigado, Elon!”
Depois que Wanderley realizou seu ataque suicida, de Moraes o descreveu como mais uma manifestação da retórica virulenta que permeou a internet brasileira. “Cresceu sob o disfarce de um uso criminoso da liberdade de expressão para ofender, ameaçar, coagir”, disse ele. O delegado da Polícia Federal, Andrei Passos Rodrigues, deixou claro que concorda. “Mesmo que a ação visível seja individual, nunca há apenas uma pessoa por trás dessa ação”, disse ele. “É sempre um grupo, ou ideias de um grupo, ou extremismo, radicalismo.” Ambos sugeriram que o Brasil estava envolvido em uma guerra sobre quem detinha o poder de determinar a realidade política. De um lado estavam Moraes e seus aliados. Do outro estava uma coalizão internacional de influenciadores de direita, incluindo Bolsonaro, Musk e, cada vez mais, o presidente Donald Trump.
De Moraes raramente fala com jornalistas, mas concordou em se encontrar comigo para falar sobre o que ele chama de “o novo populismo digital extremista”. A primeira entrevista ocorreu seis semanas antes do ataque de Wanderley, no escritório de Moraes – um espaço arejado com uma parede de janelas com vista para o Lago Paranoá. Desde a primavera, ele vinha entrando em conflito com Musk por causa de contas de mídia social que, segundo Moraes, espalhavam discurso de ódio e propaganda maliciosa. Quando de Moraes pediu sua remoção, X recusou. Quando ele impôs multas, elas não foram pagas e, eventualmente, ele congelou contas bancárias pertencentes a X e Starlink, a rede de satélites de Musk. Em agosto, de Moraes aumentou as penalidades financeiras e implementou uma proibição nacional de X. Musk contornou brevemente a proibição por meio da Starlink, que fornece serviço de internet para muitos brasileiros, mas ficou evidentemente abalado. Seus representantes logo concordaram com as ordens de Moraes, incluindo o aprofundamento das contas infratoras e o pagamento das multas. De Moraes arrecadou cinco milhões de dólares e suspendeu a proibição. Ainda assim, ele sabia que a batalha com a Big Tech não havia terminado.
Em sua opinião, a luta pela internet começou há uma década e meia. “A extrema direita percebeu, durante a Primavera Árabe, que as mídias sociais poderiam mobilizar pessoas sem intermediários”, disse ele. “No início, os algoritmos foram refinados para fins econômicos, para cativar os consumidores. Então as pessoas perceberam como era fácil redirecionar isso para o poder político. Ele lançou a mídia social como uma força definidora de nosso tempo. “Se Goebbels estivesse vivo e tivesse acesso a X, estaríamos condenados”, disse ele. “Os nazistas teriam conquistado o mundo.”
De Moraes me disse que o Brasil ofereceu um campo de testes significativo para os esforços para afirmar o poder político por meio da internet. Os brasileiros são particularmente ativos online – eles estão entre os usuários mais pesados do X e do WhatsApp no mundo. E, ao contrário de outros países, o judiciário realiza eleições. “A extrema direita quer tomar o poder – não dizendo que se opõe à democracia, porque isso não ganharia apoio público, mas alegando que as instituições democráticas são manipuladas”, disse Moraes. “É um populismo altamente estruturado e altamente inteligente. Infelizmente, no Brasil e nos EUA, ainda não aprendemos a revidar.”
Os brasileiros costumam se referir a Moraes como Xandão, ou Big Alex, mas ele não é especialmente alto. Ele está, no entanto, visivelmente em forma; ele corre, levanta pesos e treina com um parceiro de Muay Thai várias vezes por semana. Aos cinquenta e seis anos, ele tem a cabeça raspada e um rosto que parece feito para interrogatório, com uma testa pesada, maçãs do rosto pontiagudas e um queixo saliente. Ele olha sem parecer se importar se está sendo rude.
Em nosso primeiro encontro, de Moraes lembrou que Musk o descreveu como “um cruzamento entre Voldemort e um Sith” – isto é, entre o vilão careca de “Harry Potter” e um vilão careca de “Star Wars”. “Ele misturou os dois e disse que sou eu”, disse-me de Moraes, e riu. “Para ser honesto, acho divertido.” Ele pareceu ofendido, no Os brasileiros costumam se referir a Moraes como Xandão, ou Big Alex, mas ele não é especialmente alto. Ele está, no entanto, visivelmente em forma; ele corre, levanta pesos e treina com um parceiro de Muay Thai várias vezes por semana. Aos cinquenta e seis anos, ele tem a cabeça raspada e um rosto que parece feito para interrogatório, com uma testa pesada, maçãs do rosto pontiagudas e um queixo saliente. Ele olha sem parecer se importar se está sendo rude.
Em nosso primeiro encontro, de Moraes lembrou que Musk o descreveu como “um cruzamento entre Voldemort e um Sith” – isto é, entre o vilão careca de “Harry Potter” e um vilão careca de “Star Wars”. “Ele misturou os dois e disse que sou eu”, disse-me de Moraes, e riu. “Para ser honesto, acho divertido.” Ele pareceu ofendido, noOs brasileiros costumam se referir a Moraes como Xandão, ou Big Alex, mas ele não é especialmente alto. Ele está, no entanto, visivelmente em forma; ele corre, levanta pesos e treina com um parceiro de Muay Thai várias vezes por semana. Aos cinquenta e seis anos, ele tem a cabeça raspada e um rosto que parece feito para interrogatório, com uma testa pesada, maçãs do rosto pontiagudas e um queixo saliente. Ele olha sem parecer se importar se está sendo rude.
Em nosso primeiro encontro, de Moraes lembrou que Musk o descreveu como “um cruzamento entre Voldemort e um Sith” – isto é, entre o vilão careca de “Harry Potter” e um vilão careca de “Star Wars”. “Ele misturou os dois e disse que sou eu”, disse-me de Moraes, e riu. “Para ser honesto, acho divertido.” Ele pareceu ofendido, no entanto, com a recusa de Musk em obedecer às suas ordens: “Como todas as outras empresas, esta deve cumprir a lei brasileira. Quem escalou a desobediência foi a empresa sob o comando direto de seu maior acionista. E naquele momento Musk também se tornou pessoalmente responsável.”
Na conversa, de Moraes muitas vezes oscila entre piadas e afirmações legais bruscas. Ele cresceu em São Paulo, em uma família de classe média; seu pai era empresário e sua mãe professora. Quando jovem, cursou direito na Universidade de São Paulo – campo de treinamento da classe política brasileira que, ao longo dos séculos, formou um terço dos presidentes do país. De Moraes era ambicioso e subiu rapidamente. Com quase vinte anos, ele se tornou promotor e escreveu um livro best-seller sobre direito constitucional. Na casa dos trinta e quarenta anos, ele ocupou uma série de cargos governamentais em São Paulo, como secretário de transportes da cidade e como secretário de justiça do estado e, eventualmente, chefe de segurança pública – essencialmente, o comissário de polícia. Na época, ninguém o teria acusado de simpatias de esquerda. Ele era um defensor da lei e da ordem que professava tolerância zero para o crime. “Os países mais desenvolvidos são aqueles onde as pessoas respeitam a lei – onde as pessoas sabem que, se infringirem a lei, haverá consequências”, ele me disse. Ele comandou uma vasta força de mais de cem mil oficiais e, às vezes, enviava homens uniformizados e veículos blindados para dispersar os protestos.
Então, como agora, Moraes tendia a ignorar as críticas. “Para ser honesto, sempre fui controverso”, ele me disse. No entanto, há momentos em sua carreira que parecem questionáveis até mesmo para seus apoiadores. Um deles foi seu salto para a política nacional. Em 2016, a presidente Dilma Rousseff, protegida de Lula, sofreu impeachment por um grupo de legisladores de direita que incluía Bolsonaro. O vice-presidente Michel Temer assumiu, mas seu mandato foi ofuscado por um escândalo em potencial: um chantagista havia hackeado o telefone de sua esposa e ameaçado divulgar fotos comprometedoras dela. A história foi feita para os tablóides – Temer tinha setenta e cinco anos e sua esposa, uma ex-rainha da beleza, tinha trinta e dois. Quando Temer explicou sua situação, De Moraes rapidamente montou uma equipe de investigadores para rastrear o chantagista e prendê-lo. Como que em agradecimento, Temer o nomeou ministro da Justiça do Brasil.
No cargo, Moraes tinha um talento performático que pouco fez para acalmar seus detratores. O vídeo da época o mostra caminhando por um campo de maconha ilegal, cortando as plantas com um facão. “Quando me tornei ministro da Justiça, toda a esquerda me chamou de golpista”, ele me disse, com um encolher de ombros. “Eles me odiavam. Agora a extrema direita me odeia.” Um meme popular de mídia social brinca com a mudança em sua imagem pública. Ele mostra a filmagem dele cortando o campo de maconha – mas ao contrário, de modo que seu facão parece fazer as plantas brotarem do chão.
De Moraes era ministro da Justiça há menos de um ano quando uma vaga foi aberta no Supremo Tribunal Federal, e Temer o nomeou ministro. O tribunal tem onze membros, cada um servindo até a idade de setenta e cinco anos, e eles exercem um poder extraordinário. “Quando se trata da extensão da autoridade do Supremo Tribunal Federal, não temos limites claros”, disse-me Felipe Recondo, jornalista brasileiro que escreveu vários livros sobre o tribunal. “Eles discutem tudo o que é importante, de impostos a questões raciais e aborto.” Ao contrário dos EUA, muitos casos consequentes vão diretamente para o tribunal, sem a necessidade de passar por apelações. De Moraes esperava atrair polêmica novamente; talvez ele até tenha gostado. Mas, disse ele, “nem meus colegas nem eu poderíamos prever que a democracia brasileira estaria em risco. Atingiu um nível inimaginável.”
Antes de Bolsonaro entrar na eleição presidencial de 2018, poucos observadores políticos o levaram a sério. Depois de se aposentar do Exército, não tendo subido mais do que capitão, ele passou décadas na legislatura, onde se distinguiu principalmente por seu vitríolo. Certa vez, ele descreveu uma oponente política feminina como feia demais para ser estuprada. Outra vez, ele disse que preferia ter um filho morto do que um gay. Talvez o mais alarmante seja que ele era abertamente nostálgico da brutal ditadura militar que governou o Brasil de 1964 a 1985.
Esse regime começou com um golpe que derrubou o presidente de esquerda João Goulart. Foi apoiado pelo governo Lyndon Johnson, durante uma era sombria de apoio dos EUA às ditaduras latino-americanas que pretendiam combater o comunismo. O do Brasil foi particularmente zeloso. Em vinte e um anos, dezenas de milhares de cidadãos foram detidos e torturados, mais de duzentos foram mortos e outros duzentos ou mais desapareceram.
Em março, um painel foi convocado na faculdade de direito da Universidade de São Paulo para comemorar o quadragésimo aniversário da restauração da democracia no Brasil. (De Moraes ministra um curso semanal na escola, que ocupa um edifício neoclássico no centro dilapidado da cidade.) Havia meia dúzia de palestrantes, quase todas mulheres, incluindo uma historiadora e dois professores de direito. Enquanto uma audiência de cerca de quinhentos ouvia atentamente, eles relembraram seus próprios esforços juvenis para restaurar a democracia e insistiram na importância de preservá-la.
Cármen Lúcia Antunes Rocha, a única mulher ministra do Supremo Tribunal Federal do país, relacionou a luta contra o regime com o atual conflito nas redes sociais. “Ser livre é ser livre, ir além das condições de opressão que marcaram nosso passado”, disse ela. “Em vez de as máquinas estarem sujeitas aos humanos, os humanos estão se tornando sujeitos às máquinas, e isso traz novas formas de tirania. Corremos o risco de ser acorrentados por algoritmos – por sistemas que sabem muito bem a quem servem.
O último orador foi Marcelo Rubens Paiva, um escritor proeminente cujo pai estava entre as vítimas do regime. Em 1971, Rubens Paiva, um engenheiro civil e político de quarenta e um anos, foi sequestrado de sua casa no Rio de Janeiro e torturado até a morte, deixando sua família desamparada. Marcelo, um de seus cinco filhos, contou a história em seu livro de memórias “I’m Still Here”, que inspirou o vencedor do Oscar de Melhor Filme Internacional deste ano.
Os homens que sequestraram Paiva foram indiciados por promotores federais em 2014 – mas foram protegidos por uma lei de anistia, aprovada quando o regime estava chegando ao fim, o que efetivamente impediu o país de contar com a selvageria do regime militar. Quando Paiva falou contra a anistia no evento, ele foi aplaudido de pé. “É a lei que minha mãe lutou por décadas para derrubar – não por vingança,mas por justiça”, disse ele. “E até hoje ainda estamos lutando pela verdade.”
Parte do que chocou as pessoas sobre a candidatura de Bolsonaro foi que ele não apenas se recusou a repudiar o regime militar; ele pediu que ela voltasse e terminasse de refazer a sociedade brasileira. “Se algumas pessoas inocentes morrerem, tudo bem”, disse ele. A reverência por Paiva parecia incomodá-lo particularmente. Quando uma estátua foi erguida em memória de Paiva, Bolsonaro cuspiu nela – o tipo de provocação que acabaria por torná-lo uma estrela nas redes sociais.
A maior vantagem de Bolsonaro na eleição de 2018, além de seu dom para trollar, foi que Lula não pôde concorrer: ele havia sido preso por acusações de corrupção, que foram posteriormente revertidas. Bolsonaro venceu por ampla margem e assumiu o cargo prometendo ser um “defensor da liberdade”. Dois de seus filhos também ganharam cadeiras na legislatura. Mas houve dúvidas desde o início sobre como a desinformação online distorceu os resultados.
No período que antecedeu a eleição, a internet brasileira estava repleta de um volume incrível de alegações falsas e inflamatórias. As pessoas distribuíram imagens que supostamente mostravam caixas de cédulas ilícitas na carroceria de um caminhão, ou um político de esquerda posando com Fidel Castro. Uma análise da Agência Lupa, uma importante organização brasileira de checagem de fatos, descobriu que apenas quatro das cinquenta imagens mais compartilhadas eram legítimas. Muitas das falsidades mais ultrajantes foram dirigidas ao oponente de Bolsonaro, Fernando Haddad. Um meme mostrava um cheque de milhões de dólares, ostensivamente pago a Haddad por uma gangue criminosa. Outro, particularmente difundido, alegou que ele estava distribuindo mamadeiras em forma de pênis em escolas primárias, como parte de um “kit gay”. Um estudo publicado posteriormente descobriu que quase oitenta e quatro por cento dos eleitores de Bolsonaro acreditavam nisso.
Aqueles que chamavam a atenção para a desinformação tornaram-se alvos. A Agência Lupa registrava até cinquenta e seis mil ameaças por mês. Entre os maiores antagonistas dos bolsonaristas estava Patrícia Campos Mello, repórter do principal jornal do Brasil, a Folha de São Paulo. Campos Mello, agora com cinquenta e um anos, passou décadas cobrindo grandes eventos no Brasil e no mundo, incluindo as guerras no Iraque, Afeganistão, Líbia e Síria. Quando entrei em contato para perguntar sobre suas reportagens sobre Bolsonaro, ela respondeu de um acampamento da linha de frente no leste da Ucrânia.
Durante a campanha de Bolsonaro, a imprensa brasileira começou a relatar como um grupo de seus assessores próximos, incluindo seu filho Carlos, estabeleceu o que eles chamaram de “gabinete do ódio”, que gerava propaganda online e a disseminava por meio de uma rede de apoiadores e bots. (Carlos e outros associados negaram isso.) Campos Mello divulgou uma série de histórias sobre empresários que estavam financiando uma torrente de mensagens de WhatsApp que denegriram Haddad. “Eles estavam contratando agências de marketing que ofereciam linhas de montagem de desinformação”, ela me disse. “Eles tinham dezenas de pessoas dentro das salas, enviando milhares de mensagens para bancos de dados de eleitores que compraram no mercado cinza.”
Campos Mello garantiu evidências esmagadoras de como as empresas operavam, incluindo fotos, mensagens e depoimentos de ex- funcionários. Quando as histórias foram publicadas, ela me disse, “os trolls de Bolsonaro enlouqueceram”. Eles espalharam alegações de que ela havia sido multada pelo Supremo Tribunal Federal por espalhar informações falsas, que a história havia sido paga pelo partido de Lula e que ela era comunista. Estranhos ligaram para seu telefone, gritando insultos e avisando que iriam atacá-la. “Então eles começaram a enviar mensagens ameaçando meu filho, que tinha seis anos na época”, lembrou ela. “As pessoas gritaram comigo na rua, hackearam meu telefone.”
Ela cancelou aparições públicas e o jornal contratou um guarda-costas para ela. Mas ela publicou mais histórias, mostrando como a operação de mídia social de Bolsonaro obteve acesso a bancos de dados de eleitores e contratou agências estrangeiras para promover falsidades online. Bolsonaro processou por difamação. O processo falhou, mas a campanha de intimidação só ficou mais intensa.
Em fevereiro de 2020, Campos Mello havia acabado de voltar da cobertura da visita de Bolsonaro ao primeiro-ministro indiano quando o legislativo brasileiro convocou uma audiência sobre desinformação na campanha eleitoral. Na audiência, uma de suas fontes testemunhou – mas com representação de um advogado ligado ao partido de extrema-direita do vice-presidente de Bolsonaro. Para seu espanto, a fonte afirmou que ela havia oferecido sexo em troca de informações. Seu depoimento também incluiu fotos da operação de mídia social, que inadvertidamente confirmou sua reportagem, mas esse fato foi rapidamente ofuscado. Logo após a audiência, o filho de Bolsonaro, Eduardo, fez um discurso no plenário da legislatura, acusando-a de seduzir fontes para prender seu pai.
“Foi o fim do mundo”, disse Campos Mello. Apoiadores de Bolsonaro no legislativo e na internet a chamaram de puta. A pior invectiva foi alimentada por um influenciador chamado Allan dos Santos, ela disse: “Ele postou coisas pornográficas sobre mim, me marcou e pediu a seus apoiadores que fizessem memes”. Os trolls criaram imagens pornográficas falsas dela e alguns ameaçaram estupro. Poucos dias após a audiência, Bolsonaro disse a um grupo de apoiadores que Campos Mello “queria obter o furo a qualquer preço”. Em português, a palavra para “colher” também significa “ânus”. Depois disso, os memes e ameaças de estupro começaram a se referir ao sexo anal.
Finalmente, Campos Mello decidiu processar Bolsonaro e um grupo de seus apoiadores, incluindo Eduardo e Santos. Ela também publicou gravações das entrevistas com sua fonte, para demonstrar que não havia sexo envolvido. Enquanto isso, o Partido dos Trabalhadores de Lula entrou com uma ação, com base em suas reportagens, que argumentava que as manipulações online de Bolsonaro desqualificavam sua candidatura. O caso acabou chegando a Moraes e seus colegas juízes, que decidiram por unanimidade contra a anulação da eleição – embora Moraes tenha alertado que tais táticas poderiam ser desqualificantes no futuro. “A justiça é cega, mas não é tola”, disse ele.
Com o tempo, Campos Mello foi amplamente justificado. O WhatsApp reconheceu o uso irregular de sua plataforma durante a eleição e prometeu tomar medidas legais contra as agências de marketing envolvidas. Novas leis foram aprovadas para proibir mensagens em massa em nome dos candidatos. E todos os homens que Campos Mello acusou de caluniá-la foram considerados culpados. “Até agora, Allan dos Santos perdeu o processo e me deve dinheiro, mas atualmente está escondido nos EUA”, ela me disse. “Eduardo Bolsonaro perdeu em vários tribunais e agora está recorrendo ao Supremo Tribunal Federal, dizendo que tem imunidade parlamentar. Mas imunidade para sugerir que os jornalistas são basicamente prostitutas?”
Odireito à liberdade de expressão é garantido pela lei brasileira, mas é menos absoluto do que nos Estados U nidos. Como observa Moraes, a constituição do país, ratificada em 1988 após uma história de golpes e a recente ditadura militar, foi projetada em parte para “resistir a movimentos antidemocráticos”. O discurso racista é proibido. O mesmo acontece com os “crimes contra o Estado Democrático de Direito” (como espalhar falsidades sobre o sistema eleitoral) e “crimes contra a honra” (como alegar que seus oponentes estão estuprando crianças).
Entre as mensagens espalhadas pelo “gabinete do ódio” de Bolsonaro estavam acusações insistentes de que o Supremo Tribunal Federal era ilegítimo. Em pouco tempo, começaram a circular ameaças online sobre sequestro ou assassinato de juízes. Normalmente, o gabinete do procurador-geral investigaria essas ameaças, mas aparentemente nunca o fez. Assim, a Suprema Corte, invocando um estatuto que a autorizava a investigar qualquer “violação da lei penal dentro das instalações do Tribunal”, abriu seu próprio inquérito – essencialmente tornando-se vítima, promotor e juiz. De Moraes foi encarregado do esforço. Ele tinha experiência no trabalho policial e, ao contrário da maioria dos outros juízes, era adepto de manobras políticas. Como Recondo apontou, ele também era extraordinariamente tenaz. “Se você der a ele uma missão, ele a perseguirá até o fim”, disse ele. “E, para ele, este caso foi como sangue na frente de um tubarão.”
Bolsonaro já estava cercado de escândalo. Seu filho Flávio foi encontrado pagando um salário para a esposa e a mãe de um policial fugitivo que era procurado por comandar uma operação de assassinato de aluguel. Havia dúvidas sobre as propriedades imobiliárias da família, que incluíam cerca de cinquenta propriedades no Rio – compradas, implausivelmente, com o salário do governo de Bolsonaro. De Moraes começou a investigar e, disse Recondo, nunca parou de verdade: “Bolsonaro continuou cometendo crimes, e então Xandão continuou liderando novas investigações”.
Durante a pandemia de COVID-19, Bolsonaro descartou o perigo, mesmo quando o país sofreu um dos maiores números de mortes do mundo. Quando o Ministério da Saúde parou de publicar estatísticas diárias sobre a disseminação da doença, Moraes ordenou que começasse a divulgar os dados em quarenta e oito horas. Eventualmente, os manifestantes começaram a se reunir do lado de fora do Supremo Tribunal Federal, irritados com as investigações sobre Bolsonaro e com as restrições da pandemia. Bolsonaro às vezes fazia aparições. Em uma ocasião, ele cavalgou no meio da multidão em um cavalo, dando um alegre sinal de positivo; em outro, ele zumbiu em um helicóptero militar, acenando da janela. Os manifestantes insistiram que estavam lutando pela liberdade, o que frustrou Moraes. “A extrema direita manipulou com sucesso essas palavras para fazer as pessoas acreditarem que são os verdadeiros defensores da democracia”, ele me disse. “É um feito impressionante de lavagem cerebral.”
Às vezes, porém, as investigações de Moraes forçavam os limites de sua autoridade. Ele bloqueou mais de cem contas de mídia social sem fornecer explicações à plataforma. Depois de banir o X, ele impôs uma multa de quase nove mil dólares por dia a qualquer pessoa que acessasse a plataforma por meio de um VPN.
Em um caso polêmico, oito empresários reclamavam do governo em um grupo de WhatsApp, e um deles escreveu: “Prefiro um golpe ao retorno do Partido dos Trabalhadores”. De Moraes teve suas casas revistadas e suas contas bancárias congeladas. (Dois dos homens ainda estão sob investigação, mas os casos contra os outros seis foram abandonados, por falta de provas.) Rafael Mafei, professor da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, disse que a decisão estava “no fio da navalha da legalidade”. No entanto, os juízes tinham motivos para se preocupar. Um funcionário disse ao Times que extremistas foram encontrados falando sobre agredir juízes, rastrear seus movimentos e examinar a planta de um prédio judicial.
O tribunal ao qual Moraes havia ingressado não era particularmente liberal. Os juízes resistiram a aceitar a descriminalização do aborto, que é amplamente ilegal no Brasil. Eles haviam decidido a favor e contra Lula em casos relacionados a alegações de corrupção e sua elegibilidade para o cargo. Mas durante os anos Bolsonaro os ministros se uniram em apoio a De Moraes. “A quadra sempre foi como um cata-vento – flexível, adaptável, basicamente um reflexo da maior parte da sociedade brasileira”, disse Recondo. “A Suprema Corte tinha onze ilhas. Bolsonaro os uniu.”
Em junho de 2022, o judiciário brasileiro elegeu Moraes para liderar o Tribunal Superior Eleitoral, que supervisiona as eleições gerais do país. Em sua posse – realizada em uma câmara formalmente decorada, com vários candidatos presidenciais presentes – ele estabeleceu diretrizes para a campanha. Seu discurso continha um aviso inequívoco para Bolsonaro. “Liberdade de expressão não é liberdade para destruir a democracia”, disse ele. “Liberdade de expressão não é liberdade para espalhar ódio e preconceito. A liberdade de expressão não permite a disseminação de discursos e ideias de ódio contrários à ordem constitucional.” Bolsonaro, que havia se sentado à parte dos outros candidatos, franziu a testa furiosamente. Quando Moraes elogiou a integridade do sistema eleitoral, ele se recusou a aplaudir.
Os esforços de Bolsonaro para desacreditar a eleição já haviam encontrado aliados no exterior. Seu filho Eduardo havia viajado para os Estados Unidos, onde o empresário e aliado de Trump, Mike Lindell, o ajudou a encenar uma apresentação sobre fraude eleitoral no Brasil. Steve Bannon ampliou as acusações. De Moraes me disse que a direita usou táticas semelhantes em ambos os países: “Nos EUA, Trump acusou a votação por correio de ser fraudulenta. No Brasil, Bolsonaro acusou as urnas eletrônicas de serem fraudulentas.” (De Moraes gosta de brincar que, se os brasileiros votassem enviando sinais de fumaça, a direita alegaria que o Tribunal Eleitoral estava soprando a fumaça para fora dos trilhos.) “Não se trata do método de votação”, disse ele. “Trata-se de declarar o sistema manipulado, para justificar a tomada do poder para ‘consertar a democracia’. ”
Em uma extensão alarmante, a campanha de Bolsonaro funcionou. Os relatos de desinformação na internet aumentaram mais de dezesseis mil por cento em relação à eleição anterior. Três quartos dos apoiadores de Bolsonaro disseram aos pesquisadores que os resultados da votação não eram confiáveis. De Moraes se esforçou para responder. O Tribunal Eleitoral expandiu sua autoridade para encerrar ataques online à integridade da eleição. Ele e seus colegas juristas emitiram dezenas de decisões, restringindo a propaganda política, desqualificando candidatos que se deturparam e enviando agentes federais para garantir a segurança no dia da eleição. Quando a polícia rodoviária parou os ônibus que transportavam eleitores de redutos esquerdistas para os locais de votação, ele ordenou que desistissem.
Na noite da eleição, De Moraes foi à televisão para anunciar que Lula havia vencido. Para demonstrar unidade, ele reuniu altos funcionários de todo o país para apoiá-lo. Ele disse a uma multidão eufórica: “Espero que a partir desta eleição os ataques ao sistema eleitoral finalmente parem – os discursos delirantes, as notícias fraudulentas”.
No entanto, muitos brasileiros permaneceram ansiosos. Em uma entrevista comigo na época, Lula expressou preocupação com o fato de os esforços de Bolsonaro para manter a Presidência terem apoiadores poderosos. Eu havia visitado recentemente uma guarnição do Exército nos arredores de São Paulo, onde centenas de legalistas, muitos deles vestindo o amarelo e o verde da bandeira brasileira, lotaram a entrada, rezando, batendo tambores e exigindo que os militares interviessem para manter Lula fora do cargo. Protestos semelhantes estavam ocorrendo em guarnições em todo o Brasil, e parecia óbvio que eles tinham pelo menos a aquiescência passiva das forças armadas. “Precisamos descobrir quem os está financiando”, disse-me Lula, “porque isso não é espontâneo”.
Os aliados de Bolsonaro rejeitaram os avisos de que os protestos se tornariam violentos. Seu filho Flávio, tomando emprestada uma tática da resposta da direita aos ataques de 6 de janeiro, disse a um jornal brasileiro que nos EUA “as pessoas acompanharam os problemas do sistema eleitoral, ficaram indignadas e fizeram o que fizeram. Não houve comando do presidente Trump e não haverá comando do presidente Bolsonaro.” Mas Moraes sabia que Bolsonaro estava determinado a não desistir. “Suspeitamos que algo pudesse acontecer durante a inauguração, especialmente porque, poucos dias antes, houve uma tentativa de bomba no aeroporto de Brasília”, ele me disse. “E em 12 de dezembro, após a certificação dos resultados das eleições, os manifestantes invadiram a sede da polícia federal. Portanto, estávamos preparados para garantir que nada acontecesse no dia da posse. Depois que a cerimônia transcorreu sem incidentes, as forças de segurança sentiram que a ameaça havia acabado, disse ele. “Mas uma semana depois aconteceu – o ataque de 8 de janeiro.”
Durante os tumultos, vândalos invadiram o prédio do Supremo Tribunal Federal, arrombaram um armário contendo a túnica de Moraes e carregaram a porta para a multidão como um troféu. De Moraes parecia pessoalmente afrontado. “Essas pessoas não são civilizadas”, disse ele em um discurso mais tarde. “Veja o que eles fizeram.” Ele começou a emitir mandados de prisão poucas horas após o ataque; mais de mil pessoas foram detidas. “O maior risco era a possibilidade de um efeito dominó”, ele me disse. “As forças policiais militares de outros estados – algumas das quais apoiaram Bolsonaro – também se levantariam? Certos governadores apoiariam a tentativa de golpe?” Ele continuou: “Eu tive que agir imediatamente, no meio da noite”. Para neutralizar funcionários suspeitos de ajudar no levante, ele suspendeu o governador do Distrito Federal e ordenou a prisão do secretário de segurança do distrito e do comandante de sua polícia militar. (O caso contra o governador foi arquivado; os outros dois homens negam irregularidades.) “Isso enviou uma mensagem clara para todo o país”, disse Moraes. “Não vamos tolerar o caos no Brasil.”
Elon Musk, sem aparente ironia, acusou de Moraes de ser um autocrata não eleito. “Como Alexandre de Moraes se tornou o ditador do Brasil?”, tuitou. “Ele tem Lula na coleira.” Críticos mais ponderados observam que Moraes conduz muito mais inquéritos do que qualquer outro juiz e que muitos são mantidos selados, tornando-os difíceis de avaliar. Certamente, algumas das investigações sobre Bolsonaro são por ofensas triviais. Um deles o acusou de penhorar ilegalmente relógios de luxo dados a ele pelos governos do Oriente Médio.
Recondo disse que Moraes se beneficiou da afinidade dos brasileiros com caras durões: “Reverenciamos os caudilhos – homens fortes que tomam decisões que vão além dos limites da lei”. No entanto, ele acreditava que a campanha de Moraes contra a desinformação não era pessoal nem ideológica. “Xandão realmente acredita na importância do caso e, além disso, é apoiado por seus colegas de justiça.” O risco estava em criar autoridade irresponsável. “Pessoalmente, não posso dizer se é bom que um homem tenha tanto poder”, ele me disse. “Porque no final não sabemos realmente quem é Moraes e o que ele pode fazer.”
Alguns brasileiros argumentam que as preocupações com as mídias sociais devem ser abordadas por meio de legislação, e não de litígio. “Não acredito que essa discussão deva estar ocorrendo no Supremo Tribunal Federal”, disse-me a deputada Tabata Amaral. “Deveria estar ocorrendo no Congresso, onde o público pode discutir e debater as questões.”
Amaral, que tem trinta e um anos, está na legislatura há seis anos. Depois de estudar governo e astrofísica em Harvard, ela se juntou a um partido de centro-esquerda e construiu uma reputação como defensora da educação pública. Ela alcançou destaque inicial para uma audiência na qual questionou o infeliz ministro da Educação de Bolsonaro – um interrogatório de seis minutos tão embaraçoso que ele foi demitido logo depois.
Junto com outro legislador, Amaral passou vários anos promovendo uma legislação para responsabilizar as empresas de mídia social por notícias falsas e discurso de ódio. Mas, cada vez que apresentavam o projeto de lei, as plataformas de tecnologia vinham atrás deles, ela me disse. Spotify e Instagram espalharam mensagens críticas, e o YouTube exibiu um “alerta urgente”, alertando os criadores de conteúdo de que o projeto de lei os prejudicaria. O Google retirou anúncios de jornal de página inteira e colocou um link em sua página inicial, logo abaixo da barra de pesquisa, alegando que a legislação “poderia aumentar a confusão sobre o que é verdadeiro ou falso no Brasil”. Eventualmente, o projeto foi retirado e agora Amaral e seus aliados estavam focados
em iniciativas menores. Eles recentemente conseguiram restringir os celulares nas escolas, um passo modesto para reduzir o poder das mídias sociais sobre as crianças.
Parte do problema é que, no legislativo brasileiro, a corrupção e a criminalidade são tão endêmicas que são indissociáveis do trabalho de governança. Amaral lamentou que as falhas do Congresso tenham deixado o Supremo Tribunal Federal intervir. “Há algo fundamental no processo democrático”, disse ela. Mas ela reconheceu que, sem as ações do tribunal, a democracia do Brasil estaria em risco muito maior.
De certa forma, o Brasil tem proteções legais mais fortes do que os Estados Unidos. “Se você for condenado por um crime, não poderá concorrer a um cargo político”, disse Amaral. “Trump não teria sido reeleito aqui.” Mas, mesmo que Bolsonaro tenha sido proibido de buscar a reeleição, ele ainda pode causar muitos danos. Ele já havia arrancado um eleitorado significativo dos conservadores tradicionais do Brasil. “Agora você tem que ir para a extrema direita se quiser ser bolsonarista“, disse ela. Amaral se opõe à expansão do direito ao aborto, então a esquerda nem sempre a vê como uma aliada natural, mas suas opiniões nas redes sociais a tornam um alvo da direita. Ela foi chamada de “Xandão de saia”, e seu oponente na eleição mais recente lançou ataques nas redes sociais culpando Amaral pelo suicídio de seu próprio pai. “A realidade é que, como com Trump, se Bolsonaro está contra você, você está fodido”, disse ela.
O co-patrocinador de Amaral na Lei de Fake News, como ficou conhecida, foi Alessandro Vieira, um ex-chefe de polícia estadual de 50 anos do nordeste rural. Vieira, eleito como um cruzado anticorrupção, apoiou Bolsonaro em 2018. Depois de testemunhar seus abusos nas redes sociais, porém, ele começou a trabalhar no projeto de lei. Nas eleições de 2022, apoiou Lula.
Vieira me disse que o objetivo da legislação deve ser responsabilizar as plataformas, não penalizar os usuários. “Não há uma única vírgula no texto da lei que criminaliza a liberdade de expressão”, disse ele. Mas ele achou o projeto impossível de aprovar. O Brasil criou uma estrutura de lei de internet “em uma era mais romântica, quando as pessoas ainda pensavam na internet como um espaço neutro e democrático”, disse ele. “Agora, a grande maioria do Congresso tem medo da retaliação da Big Tech. Imagine concorrer a um cargo com o algoritmo trabalhando contra você!” Em sua opinião, os esforços do tribunal para controlar as mídias sociais eram uma necessidade desconfortável. “Esta investigação em andamento é autoritária e as ferramentas autoritárias devem sempre ser combatidas”, disse ele. No entanto, por enquanto, “é a única solução possível”.
A questão era global, acrescentou: “Acho que todos os países vão enfrentá-la, e nenhum deles está preparado – exceto talvez ditaduras como a China ou a Rússia, que têm seus próprios ecossistemas de informação”. As democracias seriam mais vulneráveis. Gesticulando para o telefone, ele disse: “O veneno da comunicação desse pequeno dispositivo faz com que parte da população o aplauda e concorde”.
Após o ataque de 8 de janeiro à capital brasileira, Bolsonaro ridicularizou a ideia de que os distúrbios representavam uma tentativa de golpe. Os manifestantes, disse ele, não eram nada mais do que “velhinhas com bandeiras brasileiras e Bíblias debaixo dos braços”. Mais tarde, os investigadores descobriram que vários de seus associados próximos tinham documentos descrevendo esquemas para mantê-lo à força no cargo.
Perguntei a Moraes o quão perto a democracia havia chegado de cair no Brasil. “Definitivamente havia um risco”, respondeu ele. “E ainda há.” Ele observou que oficiais militares estavam envolvidos, juntamente com comandantes seniores da polícia militar que guardam a capital. Todos estavam agora enfrentando processos. “A estratégia era ocupar prédios do governo – não necessariamente destruí-los”, disse ele. “Mas você não pode controlar uma multidão. Seu verdadeiro objetivo era entrar nos prédios, recusar-se a sair e criar uma crise tão grave que o Exército seria forçado a intervir. Assim que os militares chegassem, eles solicitariam apoio para um golpe. Mas o plano falhou. Embora alguns líderes militares tenham apoiado o golpe, as forças armadas como instituição perceberam que nenhuma outra potência ficaria do lado deles.
Quando perguntei a Moraes se ele acreditava que Bolsonaro havia planejado o levante, ele se esquivou da pergunta, dizendo que a investigação estava nas mãos da Polícia Federal, que é independente do Supremo Tribunal Federal. “Como posso ter que decidir sobre este caso, não posso comentar”, ele me disse. Semanas depois, as descobertas se tornaram públicas, em um relatório de oitocentas e oitenta e quatro páginas que citou Bolsonaro como participante direto de uma conspiração golpista. O objetivo não era apenas assumir o governo; houve também uma operação, codinome Adaga Verde e Amarela, para matar Lula e seu companheiro de chapa e “neutralizar” de Moraes. Até agora, cinco homens, incluindo policiais e militares e um confidente próximo de Bolsonaro, foram presos. (Todos eles negaram irregularidades.)
Os conspiradores coordenaram por meio de um bate-papo do Signal, chamado Copa do Mundo 2022, no qual cada um se identificou como uma seleção nacional: Áustria, Alemanha, Gana. Eles rastrearam os movimentos de Moraes por semanas – durante as quais, ele me disse, participou de uma cerimônia com Lula e viajou para São Paulo para um almoço de aniversário com sua família. Em 15 de dezembro, depois que ele voltou para Brasília, um grupo de assaltantes fortemente armados cercou sua casa, planejando matá-lo ou sequestrá-lo, descartar seus telefones e fugir. No último minuto, porém, uma mensagem foi enviada para o grupo de bate-papo, cancelando a greve. (“Abortar. . . Áustria.”) De Moraes supôs que eles não conseguiram garantir o apoio dos militares; No dia anterior, uma proposta para anular a eleição e anunciar o estado de sítio circulou entre os líderes das forças armadas, mas vários se recusaram a assinar. De Moraes sugeriu que sua vida foi salva por conexões nas forças armadas, forjadas durante seu tempo como ministro da Justiça. “Eu brinco com minha equipe de segurança que eu não poderia morrer”, ele me disse. “O herói do filme tem que continuar.”
Depois que Bolsonaro se tornou suspeito de um plano de golpe, as autoridades apreenderam seu passaporte, para impedi-lo de deixar o país. Mas ele e seus aliados esperavam obter ajuda do exterior. Quando Trump ganhou a reeleição, em novembro passado, Bolsonaro disse ao Wall Street Journal: “Trump está de volta, e é um sinal de que também voltaremos”. Antes da posse de Trump, circulou um vídeo de Bolsonaro se despedindo de sua esposa no aeroporto e explicando melancolicamente que ela compareceria em seu lugar.
Trump fez poucas declarações públicas sobre a situação no Brasil, mas há indícios de que ele compartilha as frustrações de Bolsonaro por ter sido censurado por mentir nas redes sociais. Em 20 de janeiro, a Casa Branca divulgou um comunicado reclamando que o governo Biden havia “pisoteado os direitos de liberdade de expressão ao censurar o discurso dos americanos em plataformas online. . . sob o pretexto de combater a ‘desinformação’, ‘desinformação’ e ‘desinformação’. ”
Em 19 de fevereiro, a Trump Media entrou com uma ação contra Moraes nos EUA, acusando-o de censura por ordenar que a plataforma de mídia social Rumble removesse a conta de Allan dos Santos, o apoiador de Bolsonaro que ajudou a liderar a campanha contra Campos Mello. (O governo brasileiro tentou, sem sucesso, extraditar Santos dos EUA.) De Moraes descreveu o processo como “completamente infundado”, acrescentando: “Assim como não posso, aqui no Brasil, emitir uma decisão que obrigue algo nos Estados Unidos, nenhum juiz pode declarar que minha ordem no Brasil é inválida. Mas é uma manobra política, que acabou recebendo cobertura da imprensa.”
Mais tarde naquele mês, o congressista da Geórgia Rich McCormick divulgou um comunicado que alinhou Bolsonaro com Trump e Musk. “A acusação do ex-presidente Jair Bolsonaro não é sobre justiça – é sobre eliminar a competição política por meio de lawfare judicial, assim como o presidente Trump foi alvo antes de fazer o maior retorno político da história”, escreveu ele. McCormick também argumentou que, ao colocar limites nos negócios de Musk no Brasil, de Moraes estava violando os direitos dos americanos à liberdade de expressão: “Os Estados Unidos não podem permitir que juízes estrangeiros ditem o que os americanos podem dizer, ler ou publicar”. Ele pediu que Trump e o Congresso tomem medidas, escrevendo: “Moraes e seus facilitadores devem enfrentar consequências reais, incluindo sanções Magnitsky, proibições imediatas de vistos e penalidades econômicas”.
Outros republicanos logo convocaram uma audiência, na qual o CEO do Rumble e outros palestrantes foram convidados a discutir uma “crise da democracia, liberdade e estado de direito” no Brasil. O deputado Chris Smith, de Nova Jersey, acusou Lula e de Moraes de “abuso político de procedimentos legais para perseguir a oposição política”, acrescentando: “Amigos não permitem que amigos cometam abusos de direitos humanos”. Durante o depoimento, o filho de Bolsonaro, Eduardo, liderou um contingente barulhento de simpatizantes brasileiros na plateia.
Eduardo, que passou a noite da eleição de Trump em Mar-a-Lago, aplaudindo junto com a multidão, tem se apresentado cada vez mais como um adjunto do governo. No mês passado, ele anunciou que tiraria uma licença de sua cadeira no Congresso para se mudar para os EUA, para que pudesse pedir a Trump que interviesse em nome de seu pai.
Ele já tem um aliado em Musk, que agitou a direita brasileira ao alegar que está sofrendo uma das censuras mais severas do mundo, nas mãos de “um criminoso declarado da pior espécie”. Em abril passado, Jair Bolsonaro realizou um comício na praia de Copacabana, onde uma enorme multidão se reuniu para aplaudir seus apelos por “liberdade de expressão”. Bolsonaro pediu a seus apoiadores que aplaudissem Musk especialmente. “Ele é um homem que teve a coragem de mostrar – já com algumas evidências, e mais certamente virão – para onde nossa democracia está indo e quanta liberdade perdemos”, disse ele. Mais tarde, quando um usuário do X perguntou por que não houve tais comícios para De Moraes, Musk respondeu: “Porque ele é contra a vontade do povo e, portanto, da democracia”.
Nos dias após Wanderley se explodir do lado de fora do STF, Lula começou a receber dignitários estrangeiros na cúpula do G-20, no Rio. Em um evento naquela semana, a primeira-dama, Janja Lula da Silva, falou sobre o imperativo de combater a desinformação. Quando seu discurso foi interrompido pelo som da buzina de um navio de um porto próximo, ela disse: “Acho que é Elon Musk. Eu
não tenho medo de você.” Então ela acrescentou, em inglês: “Foda-se, Elon Musk”.
O comentário de Janja causou uma breve sensação na mídia, e Musk respondeu, em X: “Eles perderão a próxima eleição”. Mas pouco mais resultou disso, pelo menos publicamente. Enquanto Trump dirigia ameaças e ultimatos ao México, Canadá e Panamá, ele não sabia nada sobre o Brasil. Em meados de março, o novo governo cobrou tarifas sobre o aço, um dos principais produtos de exportação brasileiros, mas o anúncio foi feito sem comentários.
Ainda assim, quando vi Lula na manhã seguinte à entrada em vigor das tarifas, ele sugeriu que um confronto estava chegando. “Há algo no ar que me preocupa, que é o enfraquecimento do sistema democrático”, disse ele. “Na Europa, metade dos vinte e sete países já tem regimes autoritários de direita. Na América Latina, vemos que os movimentos antidemocráticos e antiinstitucionais também estão crescendo, e metade da sociedade é a favor disso.”
Ele sugeriu que a internet tornava quase impossível governar. “Não acho que em nenhum país do mundo ainda tenhamos uma maneira sofisticada de garantir a soberania”, disse ele. “O Estado-nação está muito enfraquecido, e não é só o Brasil. São os EUA, a China, todos.” Em uma época anterior, disse ele, “autoritarismo significava fechar o Congresso, fechar o judiciário ou colocar tropas nas ruas. Agora alguém pode falar com duzentos e treze milhões de brasileiros sem nunca ter estado no Brasil.” Quando mencionei que o sistema de satélite Starlink de Musk estava sendo usado extensivamente por garimpeiros ilegais que estão devastando a Amazônia brasileira, Lula acenou com a cabeça sombriamente. “Visitei a região e vi a predominância das antenas de Musk”, disse ele. “Não vamos deixar alguém que odeia nosso governo, que odeia a democracia e nosso sistema de justiça, assumir o controle das informações de um país e de uma região como a Amazônia.” Batendo na mesa, ele disse: “Nenhuma empresa, por mais poderosa que seja, colocará nossa democracia em risco”.
Lula disse que o Brasil está trabalhando com o secretário-geral da ONU para elaborar uma proposta de tratado internacional sobre a regulamentação das mídias sociais. De forma menos promissora, ele disse que o Brasil levantaria a questão em uma cúpula em julho para as nações do BRICS, com a presença de representantes da China, Índia, África do Sul, Rússia e Indonésia – países que abordaram amplamente seus problemas com o discurso online criminalizando a dissidência.
Em março, encontrei Moraes novamente em seu escritório. Ele parecia mais relaxado do que cinco meses antes. Até então, o procurador-geral havia acusado Bolsonaro e trinta e três outros de fomentar um golpe. (Bolsonaro nega as acusações, alegando perseguição política.) “A responsabilidade de cada pessoa agora tem que ser determinada na Justiça, porque é quando eles vão apresentar sua defesa”, disse Moraes. “Mas toda a narrativa de perseguição política, a alegação de inimizade pessoal, tudo isso entrou em colapso, porque não foi apenas a polícia federal que os acusou – o próprio procurador-geral decidiu apresentar queixa.”
Perguntei se havia um cenário em que Bolsonaro poderia retomar o poder. “É possível que Bolsonaro seja absolvido no processo criminal, porque o julgamento está apenas começando”, disse Moraes. “Mas ele tem duas condenações do Tribunal Superior Eleitoral por inelegibilidade. Portanto, não há possibilidade de seu retorno – porque ambos os casos já foram apelados e agora estão na Suprema Corte. Somente a Suprema Corte poderia revertê-los, e não vejo a menor possibilidade de isso acontecer.” De Moraes reconheceu que a esposa de Bolsonaro ou um de seus filhos poderia concorrer à Presidência, com seu endosso. Mas, disse ele, “nenhum deles – sejam seus filhos ou sua esposa – tem as mesmas relações com as forças armadas que ele tinha”.
Nos próximos meses, o tribunal emitirá uma decisão importante sobre a regulamentação da internet. De acordo com as leis atuais, as plataformas digitais são responsáveis pelo conteúdo dos usuários apenas se eles ignorarem uma ordem judicial para removê-lo. O tribunal agora tem que decidir se eles podem ser responsabilizados antes que tal ordem seja emitida – obrigando as empresas de internet a realizar um policiamento exaustivo de seus usuários.
De Moraes lançou tais regulamentos como um meio de retomar o controle. A mídia social é “agora o maior poder de todos”, disse ele. “Não apenas influencia as pessoas, mas gera a maior receita de publicidade do mundo, dando-lhe força financeira para influenciar as eleições.” Ele comparou as corporações de tecnologia à Companhia das Índias Orientais, a empresa comercial da era colonial que dominou muitos dos países onde operava. “Eles querem criar uma nova Companhia das Índias Orientais para controlar o mundo”, disse ele. “Eles não querem respeitar a jurisdição de nenhum país, porque, na realidade, procuram ser imunes às nações.”
As ações mais rigorosas de De Moraes apenas inflamaram os seguidores de Bolsonaro. Nas ruas, tornou-se comum ouvir reclamações de que a liberdade de expressão está morta e que o Supremo Tribunal Federal tem poder ditatorial. Oliver Stuenkel, um proeminente cientista político em São Paulo, apoia amplamente as ações do tribunal, mas diz que sua assertividade traz riscos. “O Brasil acabou sendo o garoto-propaganda de como você protege a democracia nos últimos anos”, disse ele. “O desafio é como garantir que o tribunal volte ao normal, porque acho que não é saudável para nenhuma democracia ter a Suprema Corte como um ator político chave o tempo todo.”
Mas de Moraes não considera a crise encerrada. “Acredito que as ações recentes do presidente Trump levarão os governos a perceber que, se não agirem agora para controlar as mídias sociais, será tarde demais”, disse ele. Os líderes europeus já estavam considerando regras mais rígidas. Em agosto, autoridades francesas prenderam o fundador do Telegram, por permitir que sua plataforma hospedasse empreendimentos criminosos que iam do tráfico de drogas ao terrorismo. (O Telegram nega irregularidades.) De Moraes observou que havia suspendido o Telegram há três anos, depois que ele desrespeitou repetidamente as ordens judiciais. Mais recentemente, ele suspendeu o Rumble, por não manter um representante legal no Brasil. “As pessoas vão começar a dizer que estou perseguindo todo mundo agora”, brincou. “Nesse ritmo, serei acusado de perseguir Trump também.” Ele parecia despreocupado com a perspectiva de pressão dos EUA. “Eles podem entrar com ações judiciais, podem fazer Trump falar”, disse ele. “Se eles enviarem um porta-aviões, veremos. Se o porta-aviões não chegar ao Lago Paranoá, isso não influenciará a decisão aqui no Brasil.”
Quando terminamos de conversar, de Moraes me acompanhou passando por uma exibição de alguns objetos valiosos. Eles incluíam uma camisa de seu amado time de futebol Corinthians e duas efígies de madeira de divindades afro-brasileiras. Ele explicou que eram Xangô e Exu – “lei e ordem”, disse ele. Espere, eu disse. Xangô não é um deus da guerra? De Moraes apenas sorriu e me conduziu pela porta.
Jon Lee Anderson, redator da equipe, começou a contribuir para o The New Yorker em 1998. Seus livros incluem “Che Guevara: Uma Vida Revolucionária“.