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O martírio norte-americano, por Daniel Afonso da Silva

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DANIEL-AFONSO

O assassinato de Alton Sterling e Philando Castile, na Louisiana e em Minnesota, nesta semana, reforça a ilusão da era pós-racial nos Estados Unidos intuída pela eleição de um presidente afro-americano, Barack H. Obama, em 2009.

Mais uma vez policiais brancos retiram impiedosamente a vida de jovens negros. Nas duas ocasiões, em Baton Rouge (Louisiana) e Falcon Heights (Minnesota), o horror das atrocidades foi partilhado em tempo real entre os conectados.1

Em resposta, as vozes de Ferguson voltaram a eclodir. Milhares de afro-americanos protestam nas ruas de várias cidades norte-americanas desde quinta-feira, 7/7.

Na quinta-feira, 7/7, em Dallas, ao menos onze policiais foram atingidos por snipers e cinco acabam morrendo.2

Desde Varsóvia, onde participa da reunião da Otan, o presidente Obama lançou seu protesto. Primeiro por facebook.3 Depois em discurso.4

Mesmo contendo a emoção e a revolta, ele condenou enfaticamente o ocorrido e explicitou o dissenso norte-americano no assunto.

As estatísticas raciais nos Estados Unidos falam por si.

Os afro-americanos são ao menos 30% mais parados, investigados, inquiridos e assassinados pela polícia e por brancos que não-negros. Representam, junto com os hispânicos, parcela majoritária da população carcerária do país. Dispõem de menos capacidade de defesa e, em consequência, costumam ficar na prisão, pelos mesmos crimes, mais que a média dos outros.

Esse tratamento desigual advém de uma única razão: sua cor de pele.

Após o assassinato de Michel Brown em Ferguson a 9 de agosto de 2014, para conter a violência policial de cunho racial, o presidente Obama apresentou, em julho de 2015, o conjunto de recomendações nominado Task Force on 21st Century Policing Recommendations: From Print to Action.5 O essencial do documento sugere como saída a confecção de maiores pontes de solidariedade e cumplicidade entre policias e lideranças comunitárias.

Semanas após o lançamento do Task Force ocorreria o fatídico assassinato da jornalista Alison Parker e do cinegrafista Adam Ward cometido por Vester Lee Flanagan a 26 de agosto de 2015 no estado da Virgínia. Agora, os incidentes de Louisiana e Minnesota vêm reforçar ainda mais a sua insuficiência.

No discurso desde Varsóvia, o presidente norte-americano suscita reflexões a partir de dois questionamentos:

a) o que nos trouxe até essa situação? e

b) O que podemos fazer melhor para sair dessa situação?

São questionamentos e reflexões claramente retóricos, mas oportunos.

As raízes do racismo e da discriminação racial talvez sejam as maiores chagas do Ocidente. E, nos Estados Unidos, elas se manifestam de formas recorrentemente cruéis e inconsequentes. Os incidentes de Ferguson, da Virgínia, de Louisiana e Minnesota só vêm demonstrar e confirmar.

Combater essas chagas em todo o mundo representa uma urgência sempre urgente. Não se trata de uma questão política. É um imperativo moral. Como concluir o presidente Obama desde a Polônia: “podemos fazer melhor; podemos ser melhores”.

Artigo publicado originalmente em http://jornalggn.com.br/noticia/o-martirio-norte-americano-por-daniel-afonso-da-silva

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