O novo bestialógico do colunista da Época contra os correspondentes estrangeiros. Por Paulo Nogueira
Guilherme Fiúza, da Época, gravou um vídeo no qual confirma a impressão que sua infame coluna provocou: é um idiota. Melhor, um midiota. O vídeo está no seu Twitter.
Na coluna, ele insinuou que o NYTimes estava no bolso do PT por adotar uma linha crítica contra o golpe. O desvario começava no título: “Carta aos Covardes”.
Ainda que o PT houvesse comprado toda a imprensa mundial, e mais o Papa Francisco, e mais todos os intelectuais e políticos que condenaram o golpe em tantos lugares no exterior: que isto tem a ver com covardia?
Nas redes sociais, a coluna de Fiúza foi objeto de amplo, geral e irrestrito escárnio. Os correspondentes internacionais se juntaram ao do NYT no Brasil, Simon Romero, para expressar sua estupefação com tamanha sandice. Ele rivalizou com o estapafúrdio artigo que João Roberto Marinho mandou ao Guardian para negar o golpe e dizer que a mídia brasileira é plural.
Foi notado também, além do português claudicante, o inglês primitivo. Fiúza usou o termo “dear fellows” — que muito tempo atrás caiu em desuso e hoje atrai gargalhadas para quem o emprega.
Fiúza quis dizer, não em tom contrito, mas estranhamente eufórico e desafiador, que quis fazer uma piada. Que foi irônico quando, por exemplo, mandou os correspondentes se mudarem para a Venezuela.
Mas o alvo mesmo de Fiúza eram os sites de esquerdas. E é aí que ele revela, gloriosa, sua mistura de inépcia e obtusidade, acrescida de má fé.
Ele acusa os sites de esquerda de serem financiados pelo PT.
Ora, ora, ora.
Nos anos do PT no poder, a Globo de Fiúza recebeu 6 bilhões de reais em publicidade. Isso só a televisão, e mesmo com as constantes quedas de audiência em toda a sua programação, do jornalismo às novelas.
Ao longo de sua história, a Globo sempre viveu do dinheiro público. Recomendo a Fiúza que leia Dossiê Geisel, um livro da FGV-Rio que compila os documentos pessoais de Geisel em seus contatos com os ministros.
Ali está relatada a saga de Roberto Marinho. Como conta um dos homens fortes de Geisel, Roberto Marinho vivia pedindo à ditadura “favores especiais” por seu seu “mais fiel e constante amigo” na imprensa.
Favores especiais eram novas concessões, publicidade copiosa, mamatas fiscais — e por aí vai. Até hoje, a imprensa — saberá Fiúza disso? — goza de reserva de mercado. Os Marinhos jamais estiveram expostos à concorrência internacional, um privilégio abominável. Os Marinhos, como seus congêneres, continuam a não recolher impostos sobre o papel que compram para imprimir seus jornais e revistas. É o “papel imune”.
Foi o dinheiro público — do BNDES — que patrocinou a gráfica nova e ruinosa da Globo, inaugurada no final da década de 1990. A gráfica em si foi construída pela Odebrecht: podemos imaginar os termos do negócio.
No livro de Geisel, o ministro Armando Falcão escreveu para seu chefe um fato lamentável da vida: “Nenhum jornal vive ou sobrevive sem o governo.” O governo deveria usar isso, acrescentou.
A ditadura fez isso. O dono do Jornal do Brasil, Nascimento Brito, foi pessoalmente informado por um figurão do regime que deveria revogar imediatamente a contratação de Carlos Lacerda como colunista. (Lacerda, um golpista contumaz, tinha àquela altura rompido com os militares, que não lhe deram de bandeira a presidência como ele desejava.)
FHC, pelo BNDES, salvou a Globo quando os Marinhos investiram desastrosamente em tevê por assinatura e quebraram.
E Fiúza tem a coragem de apontar os dedos desinformados para para os sites independentes? Um relatório vazado pela turma de Temer falou em 11 milhões de reais em publicidade — repito: publicidade — para todos os sites de esquerda somados.
É uma cifra insignificante, miserável diante do público dos sites independentes. Mostra o quanto eles foram descriminados na era PT em favor da mídia plutocrata e golpista.
E notemos: a audiência da mídia digital progressistas é composta de muitos milhões de brasileiros que detestam e desprezam a Globo de Fiúza e a Veja, e a Folha, e o Estadão.
São pessoas que abastecem seus carros, escolhem seus bancos e fazem tudo aquilo que o público midiota faz. Mas para a Secom, o departamento do governo que administra a publicidade, elas foram simplesmente ignoradas.
O que os barões da mídia querem é que desapareçam os sites independentes, para que eles voltem a ter o monopólio da opinião e da narrativa dos fatos.
Em sua sanha pelo dinheiro público, a Globo de Fiúza acabou por incorporar a sonegação milionária de impostos.
Recursos que deveriam construir escolas, hospitais, portos acaba no bolso dos Marinhos para reforçar seu patrimônio bilionário e, com as sobras, pagar fâmulos como Guilherme Fiúza.
Artigo publicado originalmente em http://www.diariodocentrodomundo.com.br/o-novo-bestialogico-do-colunista-da-epoca-contra-os-correspondentes-estrangeiros-por-paulo-nogueira/