O novo quadro político brasileiro por Luis Nassif
Como será a oposição após as eleições?
Tenho escrito algumas vezes sobre o tema. De imediato, sobressaem duas linhas nítidas.
Uma, a do confronto, a tentativa de desestabilização do próximo governo, já
que Lula não estará à frente do Executivo. Essa tendência é nítida no
comando atual do PSDB, a partir da ala paulista de José Serra e Fernando
Henrique Cardoso, em aliança com alguns grandes órgãos de mídia.
A tendência será explorar a simpatia do governo com países como Venezuela,
Bolívia e Cuba. FHC é suficientemente preparado para separar ação
diplomática de política interna. Mas suficientemente esperto para utilizar
a arma que lhe foi oferecida.
A outra tendência, a partir de Minas Gerais, será a de iniciar vida nova,
desenhar uma nova oposição, que identifique vícios reais da situação e
comece a construir propostas alternativas. Mas sempre dentro de um clima de
boa vontade, sem tentativas de botar gasolina na fogueira.
O pacto de Minas, de 2006 – que juntou Aécio Neves e o prefeito petista de
Belo Horizonte, Fernando Pimentel – é o primeiro ensaio desse novo modelo.
Ontem, em sabatina na UOL, o candidato de Aécio ao governo de Minas,
Antonio Anastasia, enfatizou esse ponto. Disse claramente que a nova
opinião pública está pouco se lixando para o que aconteceu quarenta anos
atrás. E que ele é melhor do que o candidato do governo Hélio Costa no
quesito gestão pública – o que interessa efetivamente ao eleitor.
Esse novo modelo político será reforçado com a eleição de Geraldo
Alckmin para governador de São Paulo. Ao contrário de Serra, Alckmin não
cultiva o confronto. Sabe que, em um ambiente federativo, existe a hora de
disputar e a hora dos pactos construtivos.
Cientista político e especialista em pesquisas, o diretor do Instituto
Sensus, Ricardo Guedes, acredita que o modelo político brasileiro poderá se
definir por duas linhas distintas. Uma, a da social democracia alemã, na
qual dois partidos próximos do centro disputam o eleitorado, mas sem
grandes alterações nas grandes linhas políticas.
A segunda alternativa é a italiana, na qual a política, de tão anacrônica,
se despregou completamente da sociedade e da economia. É o atraso completo
em um país com grandes manchas de modernidade.
Nesse quadro, o ex-presidente FHC prestou um enorme desserviço ao país,
quando ofereceu ao PSDB o discurso do rancor. O partido abrigava, até
então, quadros técnicos de centro-esquerda que refutavam a politização
excessiva na vida pública, empresários da economia real, quadros técnicos
das universidades.
De repente, jogou-se fora esse contingente para se apoiar em um discurso
totalmente desfocado da realidade, em que entram atores dos mais
improváveis possíveis. Qual a relevância de um Evo Morales, de um Hugo
Chávez para a vida política e econômica nacional?
O grande desafio das novas lideranças será descontaminar o partido desse
ódio e apresentar propostas e resultados claros em suas gestões, para se
tornar alternativa de poder em futuras eleições.
Artigo publicado em www.luisnassif.com.br