O que é bom para o Lula, é ruim para o Brasil? por Emir Sader
A mídia mercantil
(melhor do que privada) tem um critério: o que for bom para o Lula, deve ser
propagado como ruim para o Brasil. A reunião de mandatários sulamericanos em
Bariloche – que o povo brasileiro não pôde ver, salvo pela Telesul, e teve que
aceitar as versões da mídia – foi julgada não na perspectiva de um acordo de
paz para a região, mas na ótica de se o Lula saiu fortalecido ou não.
O golpe militar e a
ditadura em Honduras (chamados de "governo de fato", expressão similar à de
"ditabranda") são julgados na ótica não de se ação brasileira favorece o que a
comunidade internacional unanimemente pede – o retorno do presidente eleito,
Mel Zelaya -, mas de saber se o governo brasileiro e Lula se fortalecem ou não.
Danem-se a democracia e o povo hondurenho.
A mesma atitude têm
essa mídia comercial e venal diante da possibilidade do Brasil sediar as
Olimpíadas. Primeiro, tentaram ridicularizar a proposta brasileira, a audácia
destes terceiromundistas de concorrer com Tóquio, com Madri, com Chicago de Obama
e Michelle. Depois passaram a centrar as matérias nas supostas irregularidades
que se cometeriam com os recursos, quando viram – mesmo sem destacar nos seus
noticiários – que o Rio tinha passado de azarão e um dos favoritos, graças à
excelente apresentação da proposta e ao apoio total do governo. Agora se
preparam para, caso o Rio de Janeiro não seja escolhido, anunciar que se gastou
muito dinheiro, se viajou muito, para nada. Torcem por Chicago ou outra sede
qualquer, que não o Rio, porque acreditam que seria uma vitória de Lula, não do
Brasil.
São pequenos,
mesquinhos, só vêem pela frente as eleições do ano que vem, quando tentarão ter
de novo um governo com que voltarão a ter as relações promíscuas que sempre
tiveram com os governos, especialmente com os 8 anos de FHC. Não existe o
Brasil, só os interesses menores, de que fazem parte as 4 famílias – Frias,
Marinho, Civitas, Mesquita – que pretendem falar em nome do povo brasileiro.
O povo brasileiro vive
melhor com as políticas sociais do governo Lula? Danem-se as condições de vida
do povo. Interessa a popularidade que isso dá ao governo Lula e as dificuldades
que representa para uma eventual vitória da oposição. A imagem do Brasil no
exterior nunca foi melhor? A mídia ranzinza e agourenta não reflete isso,
porque representa também a extraordinária imagem de Lula pelo mundo afora, em
contraposição à de FHC, e isto é bom para o Brasil, mas ruim para a oposição.
O que querem para o
Brasil? Um Estado fraco, frágil diante das investidas do capital especulativo
internacional, que provocou três crises no governo FHC? Um país sem defesa ou
dependente do armamento norteamericano, como ocorreu sempre? Menos gastos
sociais e menos impostos para ter menos políticas sociais e menos direitos do
povo atendidos? Um povo sem auto estima, envergonhado de viver em um país que
eles pintam como um país fracassado, com complexo de inferioridade diante das
"potências", que provocaram a maior crise econômica mundial em 80 anos, que é
superada pelos países emergentes, enquanto eles seguem na recessão?
São expressões das
elites brancas, ricas, de setores da classe média alta egoísta, que odeia o
povo e o Brasil e odeia Lula por isso. Adoram quem se opõem a Lula – Heloísa
Helena, Marina, Micheletti -, não importa o que digam e representem. Sua
obsessão é derrotar Lula nas eleições de 2010. O resto, que se dane: o povo
brasileiro, o país, a situação de vida da população pobre, da imagem do país no
mundo, da economia e do desenvolvimento econômico do Brasil.
O que é bom para o Lula
é ruim para eles e tentam fazer passar que é ruim para o Brasil. É ruim para
eles, as minorias, os 5% de rejeição do governo, mas é muito bom para os 82% de
apoio ao Lula.
Artigo publicado originalmente na revista Patria Latina