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Aldeia Nagô
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O que é que eu posso contra o encanto? por Luiz Sérgio Souza

3 - 4 minutos de leituraModo Leitura
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O para-choque do caminhão declara: “Vivo todo arranhado, mas não largo a minha gata”. Uma declaração de um amor doloroso, com um toque de humor ácido, que nos remete a Eros e Tanatos, pois a dor prenuncia a morte.

O sofrimento é condição indissociável de quem vive, pois o desejo – acompanhado da dor da sua não realização – é inerente à vida. A paz dos cemitérios é a da ausência de desejos.

Mas não é essa a paz que buscamos, pelo menos conscientemente. Queremos a paz de desejos realizados e da aceitação das impossibilidades. Mais uma vez, o para-choque: “não tenho tudo que amo, mas amo tudo que tenho”. O amor, entretanto, não é tão simples como se costuma declarar.
Ele pode nos levar por estradas que não vão dar em nada e por caminhos por onde “sei que ali sozinho eu vou ficar tanto pior”. Mas o que podemos “contra o encanto desse amor que eu nego tanto, evito tanto, e que, no entanto, volta sempre a enfeitiçar”? Um feitiço que me leva a, “de novo, como um tolo, procurar o desconsolo que cansei de conhecer”.

Um usuário de drogas, que busca, em vão, deixar o vício, poderia proferir essas mesmas palavras. Não raro, como no caso das drogas, trata-se de um prazer que cobra um preço demasiado caro. Muitos entre nós já tivemos um dia de trabalho sob uma pesada ressaca, maldizendo-nos por termos farreado na noite anterior. Trata-se do princípio do prazer sobrepujando o princípio da realidade.

Mais sutil ainda, nosso desejo – inconsciente e inteiramente subordinado ao princípio do prazer – muitas vezes atua no sentido contrário do nosso querer – consciente –, pois, ao mesmo tempo em que acreditamos que todo o nosso ser está inteiramente empenhado em nosso bem-estar, o lado inconsciente – que opera clandestinamente – procura um sofrimento para nos livrar de um sofrimento ainda maior. Parece complicado, mas pode ser entendido com relativa facilidade. Um exemplo: Freud teve uma paciente que, num acidente suspeito (ocasionado por seu próprio desejo), lesionou o rosto. Isso a deixou aliviada, pois sofria de uma culpa esmagadora por ter realizado um aborto, ainda que com o consentimento do seu marido. O acidente funcionou como um castigo dos céus, deixando-a absolvida do seu pecado. Por mais paradoxal que pareça, o Princípio do Prazer atuou, precipitando-a em um sofrimento que a livrou de um desprazer maior: a culpa que a atormentava.

Da mesma maneira, podemos encontrar inúmeras pessoas que sofrem e se orgulham desse lugar de vítima, pois o sofrimento as redime. O que podemos contra essa compulsão pelo sofrimento? A condição desejante, não raramente, traz em si o desejo mórbido pela dor. Aqui, penetramos no terreno da psicopatologia psicanalítica. Essa compulsão pode ser considerada um sintoma neurótico. Neurose é, entre outras coisas mais complexas, essa tendência ao sofrimento.

Batatinha pergunta: “Se eu deixar de sofrer, como é que vai ser para me acostumar?”. Essa não é uma questão trivial. A falta do sofrimento, para quem está habituado a ele, abre um buraco no sujeito. O que fazer para se acostumar a esse novo “eu” que evita o gozo do sintoma? Não se descarta um sintoma simplesmente. Sua ausência produz a dor da falta da imagem do sofredor, com a qual me identifico e me preencho.

Os conselhos são copiosos e de fáceis prescrições: “deixe de agir desta maneira”; “dê um basta neste relacionamento que só te faz sofrer” etc. Se as pessoas que dão conselho fossem obrigadas a indenizar o aconselhado toda vez que um conselho seguido se mostrasse desastroso, conselho seria algo muito raro.

Mas o que fazer com a ausência dessa dor que me completa? A resposta pode estar num longo aprendizado, no qual se preenche o vazio que essa ausência é capaz de causar, com novas formas mais saudáveis de lidar com o desejo estruturante da nossa maneira de ser.

Não se pode banir inteiramente o sofrimento  da vida, pois ele é parte integrante da busca pela satisfação do desejo. A ausência total de sofrimento corresponde à morte. Mas podemos buscar uma vida saudável, na qual o sofrimento cotidiano seja tolerável.

Uma análise, entre outras formas eficazes de alcançar esse objetivo, poderá ajudar a levar-nos a preencher o vazio do sintoma por atitudes mais saudáveis e realizar a substituição do sofrimento mórbido da neurose pelo sofrimento saudável de quem vive desejando.

* Psicanalista

Artigo publicado originalmente em http://luizsergio.net/o-que-e-que-eu-posso-contra-o-encanto/

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