O que está em jogo nas eleições de 2010 por Emir Sader
Em
quatro meses o Brasil terá decidido quem será o próximo(a)
presidente(a).
Destaca-se muitos aspectos da particularidade desta campanha, desde o de
que
Lula não será candidato, pela primeira vez, desde que o fim da ditadura
trouxe
as eleições, até o do protagonismo de duas mulheres entre os três
principais
candidatos.
Mas o tema mais importante é o do julgamento de um governo
até aqui sui generis na história política do país. Um presidente de
origem
operária, imigrante do nordeste, chega ao final do seu mandato com a
maior
popularidade da história do país e submete democraticamente seu governo a
uma
consulta popular, mediante a apresentação como sua possível sucessora da
coordenadora do seu governo.
Um governo que começou rompendo o
caminho do
Área de Livre Comércio das Américas, conduzido pelo governo anterior,
que teria
levado o Brasil e todo o continente à penosa situação do México: 90% do
seu
comércio exterior com os EUA, como reflexo disso na crise retrocedeu 7%
seu PIB
no ano passado, foi ao FMI de novo, assinando a Carta de Intenções
(deles).
O novo governo promoveu uma reinserção internacional do
Brasil,
privilegiando os processos de integração regional e as alianças com o
Sul do
mundo. A China tornou-se o primeiro parceiro comercial do Brasil, o
segundo é a
América do Sul como um todo, em terceiro os EUA. A crise revelou os
efeitos
dessa mudança: pudemos superá-la rapidamente pela diversificação do
comercio
internacional e a menor dependência das relações com os EUA, a Europa e o
Japão.
(Além do papel importante do mercado interno de consumo populasr.)
Esse
é
um dos temas que está em jogo: o lugar do Brasil no mundo. Seguir
aprofundando
essa nova inserção ou voltar à aliança subordinada com os EUA e as
potências
centrais do sistema.
O outro tema – em que igualmente houve maior
mudança
na passagem do governo FHC para o de Lula: as políticas sociais. No
governo
anterior, a distribuição de renda seria resultado mecânico da
estabilidade
monetária. Controlada a inflação – "um imposto aos pobres" -, se
recuperaria
capacidade de compra dos salários.
No governo Lula, as políticas
sociais
tiveram um papel reitor. O modelo econômico não separava o crescimento
econômico
e a distribuição de renda. A recuperação da capacidade do Estado de
promover o
desenvolvimento – este um tema abolido no governo FHC – foi também um
aspecto
novo, junto à extensão do mercado interno de consumo de massas. Mudou a
direção
do comercio exterior e seu peso, reforçando-se o mercado interno.
Esse
tema também está em jogo. Os governos neoliberais deram prioridade ao
ajuste
fiscal, ao controle inflacionário. O governo Lula priorizou a esfera
social.
Está em jogo também o papel do Estado. Como costuma
acontecer, o
candidato opositor considera excessiva a presença do Estado, a carga
tributária,
os gastos estatais, os investimentos e os custos da maquina estatal. As
criticas
ao supostos "corporativismo" e a comparação com Luis XIV tem como
direção o
Estado mínimo e a presença maior do mercado.
No seu sentido
geral,
podemos dizer que as eleições deste ano definem se o governo Lula é um
parêntese, com o retorno das coalizões tradicionais que governaram o
Brasil ao
longo do tempo ou se é uma alavanca para definitivamente sair do modelo
neoliberal e construir uma sociedade justa, solidária, democrática e
soberana.
Caso se dê esta última alternativa, os setores conservadores sofrerão
uma
derrota de proporções, com toda uma geração dos seus representantes
políticos
praticamente terminando suas carreiras e abrindo espaço para grandes
avanços na
direção das orientações do governo Lula.
*Emir
Sader.
Sociólogo e cientista politico
http://contrapontopig.blogspot.com/2010/06/contraponto-2555-o-que-esta-em-jogo-nas.html