Aldeia Nagô
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O que Fazer Nesta Crise? Por Stephen Kanitz

5 - 6 minutos de leituraModo Leitura

Toda crise tem sete fases.
Fase 1. Não há problema na economia, diz a autoridade econômica, é tudo boato.





Fase 2. Sim, temos um problema
mas tudo está sob controle. Fase 3. O problema é grave mas medidas corretivas
já foram tomadas. Fase 4. O problema é muito grave mas as medidas emergenciais
surtirão efeito. Fase 5. Pânico geral e salve-se quem puder. Fase 6. Comissões
de inquérito e caça aos culpados. Fase 7. Identificação e prisão dos inocentes.

Os Estados Unidos e a Europa estão na fase 5. Brasil, China e Índia estão na
Fase 3. Precisamos nos proteger contra a possibilidade de chegarmos na Fase 5,
quando basta um entrevistado na televisão afirmar "que esta crise é igual
ou pior que a de 1929", como vários já falaram, ou escrever no jornal
"as conseqüências da crise chegaram definitivamente no Brasil", como
já foi publicado, e gerar pânico por aqui. Não, a crise ainda não chegou no
Brasil, ainda estamos na Fase 3 e mesmo se crescermos 0% este ano, o que ninguém
prevê, toda empresa irá vender a mesma coisa no ano que vem. Sua promoção pode
estar em risco mas não o seu emprego.

Ademais esta crise nada tem a ver, nem
terá, com a severidade da crise de 1929, quando 25% dos trabalhadores perderam
seus empregos e que durou até 1940 com 14%. Na pior das hipóteses, o desemprego
nos Estados Unidos aumentará 3%, mesmo assim só por 24 meses. Se tivessem
líderes administrativos socialmente responsáveis, eles já teriam ido a público
garantir que manteriam o nível de emprego de suas empresas nos próximos 12
meses. Hoje custa mais para se treinar um novo funcionário do que para mantê-lo
fazendo algo por 12 meses.

Depois que Alan Greenspan e Nouriel Roubini saíram
dizendo que a crise era igual à de 1929, todos os americanos pararam de gastar,
aumentando sua poupança e prevendo o pior. Ninguém sabe quem serão os 25% de
desempregados. Quando 100% dos consumidores param de gastar por um único mês,
cria-se uma espiral recessiva imprevisível. Outra alternativa seria alertar os 3%
que talvez sejam demitidos para economizar, para que os 97% possam manter
normalmente suas compras evitando a espiral recessiva. Na crise de 1929, 4.000
bancos quebraram, e a mera referência a 1929 como fizeram Greenspan e Roubini,
leva pessoas leigas a correr para os bancos, o que aconteceu agora na Europa.

A
imprensa perdeu a capacidade de filtrar e processar informação premida pelo
tempo exíguo para colocar tudo na internet. Publicam o que vier, especialmente
se for notícia ruim. Nenhum banco comercial irá quebrar, nenhum ainda quebrou
nos EEUU, e mesmo se forem um ou dois, nada se compara com 4.000. Bancos sempre
quebram mas ninguém percebe. Mesmo se quebrarem, o seu dinheiro, ao contrário
de 1929, está no fundo DI e não no Banco.

O Fundo DI está no SEU NOME e dos
demais cotistas, e se um banco brasileiro quebrar, o que não vai acontecer, seu
dinheiro está salvo. No máximo você terá de esperar uma semana para a troca de
administrador do seu fundo. O dinheiro está aplicado em títulos do tesouro em
SEU NOME, não do Banco. Deixar o dinheiro onde está é o mais seguro. Se você resgatar o
seu fundo DI, o dinheiro cai na sua conta, e se o banco quebrar justo neste
dia, você vira um credor do banco. Nossos bancos estão recebendo depósitos dos
apavorados estrangeiros. Muita gente em pânico está saldando suas cotas em
fundos de ações e o seu gestor é OBRIGADO a vender uma ação mesmo com ela
caindo 20% no dia, algo que você jamais faria. Acionistas majoritários não
estão em pânico, nem podem nem querem vender suas ações. Só os minoritários se
sentem uns idiotas porque não venderam na "alta". Não temos bancos de
investimento no Brasil.

De fato, Roberto Campos implantou
neste país este mesmo modelo americano que está ruindo, mas felizmente foi uma
lei que "não pegou". Problema a menos. Só temos bancos comerciais, e
estes são muito bem controlados pelo Banco Central. Além do mais, nossos bancos
têm dono, e por isto estão pouco alavancados, 4 a 5 vezes, contra 20 a 25 vezes dos bancos de
investimentos americanos. O
Brasil não
está alavancado. Nossos créditos diretos ao
consumidor não passam de 36% do PIB, e devem crescer para 40% no ano que vem.
Os Estados Unidos estão alavancados em 160% do PIB e é esta desalavancagem
súbita que está causando problemas.

Nosso Banco Central, adotou o que venho
alertando há anos a países e famílias – a política de ter reservas para os dias
de crise e hoje temos US$ 200 bilhões. Pela primeira vez o Brasil tem reservas para
sustentar uma crise duradoura, sem ter que se endividar para cobrir furos de
caixa. Temos um sistema financeiro dos mais modernos e rápidos do mundo
implantado devido à inflação galopante dos anos 90.

Nos Estados Unidos
demora-se duas semanas para se descontar um cheque entre bancos, por isto o
sistema travou. Nenhum banco confia em outro banco numa crise destas. Esta é a hora para disseminar a nossa
força, as nossas reservas, a competência de Henrique Meirelles,
primeiro administrador financeiro (Coppead) a comandar o nosso Banco Central, e
já se nota a diferença. Está na hora de mostrarmos ao mundo que como a China e
Índia, nós vamos crescer via mercado interno, com produtos populares, tese que
há anos venho defendendo.

Esta é a
hora
de mostrar o que DÁ CERTO no Brasil em vez de conseguir
fama no rádio e na televisão mostrando o que poderia dar errado. Lembre-se que
os verdadeiros culpados já estão se movimentando para culpar os inocentes, e
assim saírem incólumes e mais poderosos.

 

stephen@kanitz.com.br

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