Aldeia Nagô
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O silêncio dos jornais por Luciano Martins Costa

3 - 4 minutos de leituraModo Leitura

A Folha de S.Paulo e o Globo ignoraram a notícia, mas o Estado de
S.Paulo publica na edição de terça-feira (24/3), com destaque, que o Tribunal
Regional Federal da 3ª Região impôs ontem uma importante derrota à estratégia de
defesa do banqueiro Daniel Dantas.
O controlador do banco Opportunity queria trancar a ação penal nascida
da acusação de corrupção ativa, por tentativa de subornar um delegado federal
para ser excluído da chamada Operação Satiagraha.


A decisão é fundamental para o prosseguimento das ações judiciais
contra Dantas. Por essa razão, os leitores da Folha e do Globo ficarão menos
informados sobre o assunto do que os leitores do Estadão.
A defesa de Daniel Dantas queria que a Justiça Federal considerasse
irregular a parceria feita entre a Polícia Federal e a Agência Brasileira de
Inteligência – Abin – durante as investigações. Se a Justiça acatasse essa tese,
o processo poderia ser abortado, mas os magistrados votaram por unanimidade
considerando que a ação conjunta entre a Abin e a Polícia Federal não tem nada
de errado.
Muito barulho
Fica, portanto, sobre a mesa, uma questão incômoda para ser respondida
pela imprensa. A quem mais, a não ser ao próprio Daniel Dantas, interessaria
toda a campanha feita principalmente pelos jornais O Globo e Folha de S.Paulo e
pela revista Veja, no sentido de criminalizar as ações da Polícia Federal junto
com a Abin?
Fica evidente, até mesmo para o leitor mais distraído com a paisagem,
que parte da imprensa brasileira tem dedicado os últimos meses mais energia e
espaço à tentativa de desqualificar os investigadores do que a investigar o
acusado.

Foi tão desproporcional a concessão de espaço para supostas revelações
sobre desmandos atribuídos ao delegado Protógenes Queiroz e ao juiz responsável
pelo caso Satiagraha, Fausto de Sanctis, que algum leitor poderia supor que o
delegado e o juiz é que eram os principais acusados.
O fato de parte da imprensa omitir na terça-feira (24) de seus leitores
que a Justiça Federal considera normal a parceria entre a Polícia Federal e a
Abin chega a soprar na brasa da teoria conspiratória segundo a qual o banqueiro
contaria com a solidariedade de algumas redações.
Será que foi apenas um "furo" do Estadão? Os outros jornais não têm
acesso à agenda da Justiça Federal?
Depois de todo barulho a respeito das ações conjuntas entre as duas
instituições, o silêncio da Folha e do Globo chega a ensurdecer.
A disputa pelos leitores
O caso Satiagraha deflagrou uma guerra nos bastidores da imprensa, que só
pode ser acompanhada pela internet.

Desde o já clássico confronto entre a revista Veja e o jornalista Luis
Nassif, até os vazamentos e contravazamentos de supostas revelações da Polícia
Federal, o escândalo envolvendo o banqueiro Daniel Dantas dá uma idéia de outra
disputa que marca este começo de século: a disputa entre a imprensa tradicional,
de papel, e a nova imprensa, que trafega pelos meios eletrônicos, pela atenção e
o tempo dos leitores.
A internet está completando sua segunda década. A configuração gráfica
da comunicação entre computadores, inaugurada com o navegador Mosaic, em 1994,
cresceu, se espalhou pelo mundo e se miniaturizou, conquistando espaço também
nas telinhas dos telefones celulares. O jornalismo infiltrou-se pelos novos
meios, e agora o leitor, antigo receptáculo passivo de informações, é também
agente e observador da imprensa.
 
Artigo publicado originalmente no http://www.observatoriodaimprensa.com.br

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