Ônus e Bônus por Jaime Sodré
Evidente que as alianças serão sempre bem vindas, pois é sabido que a solidariedade seria um fator característico da condição humana, é comovente observar gestos generosos daqueles que erguem o seu braço amigo e a sua voz, incorporando nas suas preocupações o problema do outro.
A situação de desigualdade experimentada pela população brasileira, em especial a afro descendente, fruto de fatores históricos de uma evidencia inquestionável, experimentará recuo, pelos esforços deste segmento, aliado, na superação do quadro deficitário de oportunidades e políticas públicas se apoiados por amigos sinceros.
Um bom observador presencia manifestações no espaço cultural, em especial no campo da musica baiana, de pessoas não necessariamente negras, desfrutando do capital simbólico negro, identificando-se com o mesmo, aproximando-se de forma concreta e utilizando o potencial afro em suas ações artísticas.
Este desfrute, esta proximidade, gera significativo capital financeiro e prestigio, este último dividido com a comunidade inspiradora.
Assim é que, nesta bem vinda aliança, cabe retornos mais concretos para a comunidade inspiradora, o segmento afro descendente, em desvantagem sócio-econômica evidente. Não se trata de pedágio, é claro, mas de contrapartida real e experimentável, cujo uso fruto anseia os afros descendentes.
Artistas talentosos e solidários, nossos aliados, devem como sugestão, utilizar o seu prestigio para postar-se na linha de frente da nossa pauta de luta, para a superação das nossas demandas.
Logo, apresentamos aqui, de forma seletiva, uma listagem das nossas aspirações, que julgamos ser do conhecimento, mas aqui cabe como oportuna lembrança.
Além do natural posicionamento rígido contra o racismo, devem pronunciar-se claramente contra a intolerância religiosa que atinge o Candomblé, este fruto de inspiração, geradora de direitos autorais aos compositores que buscam nesta referencia cultural a sua inspiração, alicerce do seu sucesso.
Exercer o seu prestigio e possibilidades junto aos órgãos de saúde para a concretude ou ampliação de programas para o tratamento das manifestações da anemia falciforme.
Posicionar-se claramente e sem subterfúgios, favoráveis a adoção de cotas para negros nas universidades, estimular os nossos jovens a freqüentar a escola, realizar campanhas
que resultem na inibição do uso de drogas, estímulos e posicionamentos para oportunização de empregos para os jovens negros.
Uma solicitação especial me ocorre, seria uma intensa campanha para arrecadação de fundos ou efetivar doações, objetivando a instalação da sede da Steve Biko entidade que realiza cursos para a inclusão de negros na universidade, cujo imóvel, cedido pelo governo do estado, localizado em um trecho no qual as atrações carnavalescas passam bem a sua porta, hoje com um painel grafitado no seu muro, que pela beleza desta arte não acreditamos que os nossos astros não tenham visto. Quem sabe um grande show, onde a arrecadação do mesmo seja destinada as obras naquele prédio.
Para aqueles sensíveis astros afro-descendentes ou não, seria oportuna uma campanha para a conclusão das obras que se arrasta na Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, localizada no Pelourinho.
Na verdade não cabe aqui uma listagem extensa, pois acreditamos que os atores artísticos e sociais, se apurado a observação, poderá se incorporar as inúmeras iniciativas de ações que resultem em efetivo apoio.
Na condição de outra e importante sugestão, esta inquestionável, seria a observação
das necessidades das nossas crianças, escolas, creches e adoções, devem ser prioridades neste gesto solidário de bem fazer. Apoio as ações sociais empreendidas pelas unidades populares de matriz africana que se preocupam na formação das crianças, através de doações de livros, equipamentos e alimentação.
Volto a TV, vejo uma atriz branca, rainha da bateria de uma escola de samba, agradecendo aos instrumentistas negros, que repercutem os tambores para o seu sucesso midiático. Que haja uma reciprocidade verdadeira.