Aldeia Nagô
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Os dilemas do Banco Central e do jornalismo econômico, por Luis Nassif

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No XXII Congresso de Economia, em Belo Horizonte, participei de uma mesa redonda sobre Jornalismo Econômico com dois velhos colegas,  João Borges, da Globonews, Cláudio Conceição, da revista Conjuntura Econômica, e um colega recente, Fernando Brito, do blog Tijolaço.

No debate, João Borges propôs um desafio interessante. Me nomeou presidente do Banco Central e se colocou no papel de entrevistador, perguntando o que eu faria com os juros.

Dei uma explicação mais longa, mostrando como, na minha opinião, deveria ser a política econômica, casada com a Fazenda, o Planejamento, o Banco Central e a Casa Civil, para um choque de investimentos públicos na economia. Mas esse choque necessitaria um presidente com dimensão de estadista. Posto que o atual presidente da República é pequeno, obviamente, não haveria condições políticas para as mudanças.

Ele perguntou o que eu faria com o câmbio, se a taxa de juros baixasse. Respondi-lhe que, com 300 bilhões de dólares em reservas, não haveria a menor preocupação. Depois, no auditório, o economista Fernando Ferrari Filho apresentou dados em que a alta da Selic coincidiu com explosão de dólares, mostrando não haver correlação.

João insistiu que eu não responderá à questão do câmbio. Eu insisti que respondi.

Na avaliação final ele mostrou como uma explicação mais ampla sobre a economia, em uma coletiva aos jornalistas econômicos, acabaria induzindo a confusões nas conclusões. Eu respondi que o exemplo mostrou como era fácil a manipulação da entrevista se um presidente do BC ousasse uma explicação minimamente mais complexa sobre a economia. Essa é o padrão de mediocrização do jornalismo econômico.

O pequeno teatro foi pedagógico para exemplificar as relações entre a cobertura econômica e as autoridades. Qualquer opinião que vá além do sim ou não, dá margem a toda sorte de mal-entendidos, porque há um tipo de jornalismo dominante – e não é de agora – buscando muito mais a declaração ou não declaração de efeito, do que entender a intenção do formulador, principalmente se tratando de analise de realidades mais complexas.

Em todo caso, o desafio do João me fez pensar depois, o que significaria uma guinada no BC. Antes de se pensar em qualquer mudança de política, o primeiro passo seria mudar a composição da diretoria, trazendo economistas de várias linhas de pensamento, com análises variadas sobre a economia.

Depois, recriar de algum modo o antigo Conselho Monetário Nacional (CMN) que era composto por grandes empresários não-financeiros.

Mais que isso, trataria de seguir o modelo norte-americano, montando CMNs em cada estado, com a participação de um grande varejista, um grande industrial, as associações representativas dos pequenos empresários e associações representativas da sociedade, como os Procons.

Nenhuma novidade em relação aos EUA, onde a diversidade de pensamento e de agente é fundamental para se pesar todas as nuances da economia. No Brasil de dezembro de 2008 as encomendas medidas pela Abimaq haviam caído 30%. Mas o BC de Henrique Meirelles insistia em aumentar os juros mencionando sinais robustos da economia.

Não é à toa que, com a objetividade que caracteriza seu assalto às instituições, o primeiro passo dos economistas do Plano Real foi dissolver o CMN e montar conselhos, como o Copom, constituído exclusivamente de integrantes do mercado financeiro.

A diversidade é fundamental. E, tratando-se de um país continental, ter a sensibilidade da economia na ponta é central para um bom cenário econômico.

A história de entender o futuro a partir das apostas feitas pelo mercado financeiro, em um quadro em que quanto maior a expectativa de inflação, maior a taxa real de juros mirada pelo Banco Central, cria um viés intransponível.

Artigo publicado originalmente em http://jornalggn.com.br/noticia/os-dilemas-do-banco-central-e-do-jornalismo-economico-por-luis-nassif

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