Aldeia Nagô
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Os políticos e a imprensa por Sonia Montenegro

6 - 8 minutos de leituraModo Leitura

Em 25 de abril de 1984, a emenda que viabilizaria a eleição direta foi
derrubada, apesar do grande movimento popular que clamava a volta da democracia
e o direito ao voto.





Neste tempo, o político mineiro Tancredo Neves, apesar de comparecer aos
comícios das Diretas Já, torcia para que a emenda não fosse aprovada, para que
ele pudesse se candidatar pelo PMDB, e ser eventualmente eleito presidente pelo
Colégio Eleitoral. Tancredo sabia que sua única chance seria a eleição
indireta.
 
Em 23 de julho, PMDB e PFL assinam aliança Tancredo-Sarney, como candidatos do
Colégio Eleitoral para a escolha do novo Presidente e vice da chamada "nova"
República.
 
Tancredo conseguiu a aprovação da imprensa, já havia se entendido com o Roberto
Marinho das Organizações Globo, e construiu uma grande aliança que garantiu sua
vitória no Colégio Eleitoral, porém, na véspera de sua posse, foi internado,
sofreu 7 cirurgias, vindo a falecer
 
Sua morte só foi anunciada à nação no dia 21 de abril, para coincidir com a
morte de Tiradentes, seu conterrâneo e mártir da independência. Tancredo era
então o mártir da República. Enquanto ele agonizava, a imprensa o beatificava,
com matérias e reportagens que geraram uma comoção popular, como de costume,
aliás.
 
Em 15 de março de 1985 Sarney assume provisoriamente a presidência, e em 22 de
abril, definitivamente. Nesta altura, já tinha tido vários mandatos como
deputado, governador biônico (eleito indiretamente) do Maranhão, senador e
presidente do PDS. Sua vida pública já era conhecida de todos, mas teve apoio
no Congresso e conseguiu inclusive aumentar em mais 1 ano o seu mandato. Depois
de deixar a presidência, elegeu-se senador pelo Amapá e compunha a base de
apoio do governo de FHC.
 
Em 2002, sua filha, Roseana Sarney se candidata à presidência pelo PFL e começa
a ameaçar a ida do tucano José Serra para disputar o 2º turno da eleição com
Lula. Isso deixou os tucanos de orelha em pé, com a certeza de que alguma coisa
teria que ser feita para impedir a vergonha do candidato de FHC não chegar nem
ao 2º turno.
 
No dia 1º de março de 2002, a PF invade o escritório da Lunus (MA), empresa do
marido da então candidata à presidência Roseana Sarney, e encontra R$ 1,3
milhão no cofre. A imprensa divulga imediatamente a pilha de dinheiro e derruba
a candidatura da Roseana.
 
Em 20 de março, o senador José Sarney, pai de Roseana, faz discurso no plenário
e acusa textualmente o candidato José Serra como o responsável pela ação da PF.
Todos os envolvidos nela eram "gente do Serra". Não se tem notícia de que tenha
sido processado por seu discurso, nem que tenha sido ameaçado por "quebra de
decoro", pelas graves acusações que fez.
 
"Acusam a governadora pela aprovação da Usimar e esquecem o ex-ministro José
Serra, que responde ao processo 96.00.01079-0 por ‘improbidade administrativa –
ressarcimento ao erário’, a outra ação, 2000.34.00.033429-7, com a finalidade
de ‘reparação de danos ao erário’, e ainda a várias outras ações ordinárias,
cautelares, civis públicas, populares".

O texto acima serve apenas para mostrar a hipocrisia dos políticos e da
imprensa:
 
1- Tancredo fingia que apoiava o movimento pelas Diretas, mas torcia para
que não fosse aprovada. Obviamente, a imprensa tinha conhecimento de tudo, mas
como não interessava, não divulgava. (Há pouco tempo o jornalista Maurício Dias
escreveu a esse respeito em Carta Capital)
 
2-  Sarney, quando era da base de apoio do governo FHC era um político
ilustre. Foi presidente do Senado no 1º ano do mandato de FHC (entre 1995 e
1997), seguido de ACM, Jader Barbalho…
 
3-  As abundantes irregularidades do Senado agora denunciadas, já
acontecem há pelo menos 15 anos, segundo se diz, mas só agora existe um real
interesse em denunciá-las. Aliás, mais uma vantagem de ter Lula no poder: pela
1ª vez, os políticos que mandaram e desmandaram por todo tempo neste país
querem apurar as irregularidades, embora retrocedam quando estas retroagem a
2002. FHC espertamente disse que o que aconteceu no seu governo já faz parte da
história.
 
4-  Renan Calheiros renunciou à presidência do Senado porque tem uma
filha fora do casamento (reconhecida por ele) que foi sustentada por um
empresário, mas FHC tem um filho também fora do casamento (não reconhecido por
ele), que é sustentado pela Rede Globo (sua mãe é jornalista global, e foi
transferida para a Espanha, para não causar transtornos ao pai), mas disso a
imprensa não fala, exceto a revista Caros Amigos, que divulgou o fato, e não
foi acionada nem contestada. Agora Renan é corrupto, mas ele foi Ministro da
Justiça de FHC.
 
5- Sempre que são feitas denúncias de corrupção, a imprensa elege os
"arautos da moralidade" para fazer seus comentários indignados. Os cidadãos
desavisados tendem a acreditar que essas figuras são corretas, o que não
corresponde à realidade. É pura hipocrisia!
 
6- Se a imprensa tivesse compromisso com a verdade, escolheria aqueles com
ficha limpa, tendo portanto uma enorme responsabilidade pela péssima qualidade
do nosso legislativo.
 
7-  A imprensa apoiou o golpe de 64, a ditadura, o Collor, o FHC, e
continuará apoiando o que de pior existe na política brasileira, para preservar
seus interesses e de seus anunciantes. Essa é a sua lei maior!!!
 
8-   José Agripino Maia é primo de Agaciel Maia, que em 19 de
junho último casou sua filha, e contou com a família de Agripino pra prestigiar
a festa! Fez-se na política nos tempos da ditadura, quando a corrupção não era
noticiada pela imprensa, mas ainda assim, basta procurar para encontrar uma
série de denúncias e irregularidades em sua vida pública, como dinheiro "por
fora" para campanhas eleitorais. É dono também de alguns veículos de
comunicação.
 
9-  Heráclito Fortes também é político dos tempos da ditadura, e faz
parte da "tropa-de-choque" do banqueiro condenado Daniel Dantas. Tinha em seu
gabinete, desde 2003, como funcionária fantasma morando em São Paulo, Luciana
Cardoso, filha de FHC. Recentemente defendeu o pagamento de R$ 6,2 milhões em
horas extras para 3.883 funcionários durante o mês de janeiro, em pleno
recesso, quando não houve trabalho parlamentar no Congresso.
 
10- Arthur Virgílio é o rei da cara-de-pau. Bradava contra o caixa 2 do
PT, que chamam de "mensalão" apenas para dar uma impressão de maior gravidade,
mas em entrevista ao Jornal do Brasil em 19/11/2000, reconhece que "foi
obrigado" a fazer caixa 2 na campanha para o governo do Amazonas, e que podia
reconhecer o fato publicamente porque o crime já prescrevera. Quando foi
prefeito de Manaus, teve nada menos que 46 operações e obras classificadas de
irregulares, por uma auditoria no Tribunal de Contas do Município (TCM) JB
18/3/92. Recentemente, divulgou-se que seu assessor pediu a Agaciel US$10 mil,
garantindo que um rateio entre "amigos" quitou o empréstimo. Agaciel nega ter
recebido. Por atos secretos do Senado, contratou seu professor de jiu-jitsu, 3
filhos de seu subchefe de gabinete Carlos Homero Nina Vieira, um deles morando
na Espanha, e ainda a mulher e a irmã de Nina Vieira, sem contar os gastos R$
723 mil com despesas médicas de sua falecida mãe, em 2006.
 
Esses são os políticos que a imprensa escolhe para dar depoimentos condenando a
corrupção. Seria cômico se não fosse trágico!
 
Claro está que a intenção da imprensa e da oposição não é absolutamente a de
moralizar o Senado, mas toda essa repentina perseguição ao Sarney tem alguns
objetivos importantes para a oposição: paralisa o Senado, em tempos de crise
mundial, prejudicando o governo e principalmente o país, e intimida os
parlamentares da base de apoio deste governo. É como se estivessem dizendo a
todos os parlamentares: cuidado, apoiar o governo Lula é muito perigoso!!!

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