Aldeia Nagô
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Os Ricos e Pobres por Martha Medeiros

3 - 4 minutos de leituraModo Leitura

Anos atrás escrevi sobre
um apresentador
de televisão que ganhava R$ 1 milhão por mês e que em entrevista
vangloriava-se
de nunca ter lido um livro na vida. Classifiquei-o imediatamente como um
exemplo
de pessoa pobre.


Agora leio uma declaração
do publicitário
Washington Olivetto em que ele fala sobre isso de forma exemplar.Ele diz
que há
no mundo os ricos-ricos (que têm dinheiro e têm
cultura), os
pobres-ricos (que não têm dinheiro, mas são
agitadores
intelectuais, possuem antenas que captam boas e novas idéias) e os
ricos-pobres, que são a pior espécie: têm dinheiro
mas não
gastam um único tostão da sua fortuna em livrarias, shows ou galerias de
arte,
apenas torram em futilidades e propagam a ignorância e a grosseria. 

Os ricos-ricos movimentam a
economia
gastando em cultura, educação e viagens, e com isso propagam o que
conhecem e
divulgam bons hábitos. Os pobres-ricos não têm saldo invejável no banco,
mas são
criativos, efervescentes, abertos. A riqueza destes dois grupos está na
qualidade da informação que possuem, na sua curiosidade, na inteligência
que
cultivam e passam adiante. São estes dois grupos que fazem com que uma
nação se
desenvolva. Infelizmente, são os dois grupos menos representativos da
sociedade
brasileira. 

O que temos aqui, em maior
número, é um
grupo que Olivetto nem mencionou, os pobres-pobres,
que
devido ao baixíssimo poder aquisitivo e quase inexistente acesso à
cultura,
infelizmente não ganham, não gastam, não aprendem e não ensinam: ficam à
margem,
feito zumbis. E temos os ricos-pobres, que têm o bolso cheio e poderiam
ajudar a
fazer deste país um lugar que mereça ser chamado de civilizado, mas que
nada:
eles só propagam atraso, só propagam arrogância, só propagam sua pobreza
de
espírito.

Exemplos? Vou começar por
uma cena que
testemunhei semana passada. Estava dirigindo quando o sinal fechou.
Parei atrás
de um Audi preto do ano.

Carrão. Dentro, um sujeito
de terno e
gravata que, cheio de si, não teve dúvida: abriu o vidro automático,
amassou uma
embalagem de cigarro vazia e a jogou pela janela no meio da rua, como se
o
asfalto fosse uma lixeira pública. O Audi é só um disfarce que ele pôde
comprar,
no fundo é um pobretão que só tem a oferecer sua miséria existencial.Os
ricos-pobres não têm verniz, não têm sensibilidade, não têm alcance para
ir além
do óbvio. Só têm dinheiro.

Os ricos-pobres pedem no
restaurante o
vinho mais caro e tratam o garçom com desdém, vestem-se de Prada e
sentam com as
pernas abertas, viajam para Paris e não sabem quem foi Degas ou Monet,
possuem
tevês de plasma em todos os aposentos da casa e só assistem programas de
auditório, mandam o filho pra Disney e nunca foram a uma reunião da
escola. E,
claro, dirigem um Audi e jogam lixo pela janela. Uma esmolinha para
eles, pelo
amor de Deus.

O Brasil tem saída se
deixar de ser
preconceituoso com os ricos-ricos (que ganham dinheiro honestamente e
sabem que
ele serve não só para proporcionar conforto, mas também para promover o
conhecimento) e  valorizar os pobres-ricos, que são aqueles inúmeros
indivíduos
que fazem malabarismo para sobreviver mas, por outro lado, são
interessados em
teatro, música, cinema, literatura, moda, esportes, gastronomia,
tecnologia e,
principalmente, interessados nos outros seres humanos, fazendo da sua
cidade um
lugar desafiante e empolgante. É este o luxo de que precisamos, porque
luxo é
ter recursos para melhorar o mundo que nos coube. E recurso não é só
money: é
atitude e informação. A maioria deles são políticos ou querem ser, eles
criaram
um modo de vida e não uma contribuição a nação.

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