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Os ricos não roubam?. Por Claudio Guedes

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Claudio_Guedes

Ontem, 18/02, na sua coluna de domingo, na Folha e Globo, Elio Gaspari, reproduz o velho, gasto e surrado argumento das elites nacionais para assumirem os poderes na República.

Segundo o colunista, a intervenção militar no Rio deveria ser ampliada e a defende com um argumento infantil e que beira a leviandade. Li duas vezes para acreditar no que estava escrito. Diz Elio:

“A intervenção federal permitiria que o Estado do Rio passasse por uma faxina. Até a posse do governador que será eleito em outubro, o interventor poderia desmantelar a teia de ladroagens que arruinou o Estado. Quem seria esse interventor? Para que a conversa possa prosseguir, aqui vão dois nomes: Pedro Parente e Armínio Fraga. Os dois estão bem de vida e odiariam a ideia, mas nasceram no Rio e sabem que devem algo à terra.”

Sei. Então quer dizer que os bacanas estão bem de vida e por isso são os nomes certos para comandar o estado. Nasceram no Rio e devem algo aos cariocas também são ótimos (sic) argumentos. Devem o quê? A fortuna que amealharam caminhando na linha tênue que separa os cargos que ocuparam no estado e na iniciativa privada? Sei.

Para a elite tupiniquim os pobres são o problema. Os que atrapalham, os que impedem que a fortuna dos “muito bem de vida” pare de crescer. Como se não fosse o oposto. Em geral, os muito ricos são muito ricos porque roubam diretamente ou porque se apropriam da riqueza produzida por milhares de pessoas. Com algumas, poucas, exceções. Balzac, meu caro Elio, que nasceu em 1799, já dizia que atrás de uma grande fortuna sempre há um crime. O mundo mudou desde o século XVIII? Se mudou, nesse particular, foi um pouco para pior.

Acho que Elio precisa voltar a ler o velho Marx, se é que um dia o leu. Enquanto isso poderia também estudar a história política do país, foco em São Paulo, onde dois distintos cavaleiros do “andar de cima”, nascidos à terra, milionários, ao se apoderarem das rédeas do estado, roubaram tanto que fizeram jus à fama imorredoura de gatunos: os industriais Adhemar de Barros e Paulo Maluf. Estou mentindo?

Para finalizar, algo importante. Elio propõe como interventores os nomes de dois fidelíssimos servidores do tucanato, do indefectível PSDB. Entretanto o partido que os alçou à vida pública não goza de boa reputação em São Paulo – onde é hegemônico há duas décadas e metido em denúncias de corrupção que vão de roubos na merenda de escolas públicas a desvios milionários em grandes obras de infraestrutura – e muito menos no Rio de Janeiro, onde sempre foi rejeitado pela população. É partido também da base de apoio do atual governo federal onde abundam corruptos e vigaristas.

Talvez o que Elio tenha tentado esconder, ao escolher seus interventores do coração, é algo que não passará despercebido ao atento leitor: só como interventores os tucanos alcançarão o poder no estado. Seria um balão de ensaio para uma intervenção também no poder central?

Uma estupidez.

Continuo achando que é melhor deixar a escolha dos governantes ao povo, nas urnas. Sempre o melhor caminho. Esse negócio de faxina por interventores é lenga-lenga surrada do “andar de cima”.

Coisa de golpistas.

Claudio Guedes é empresário e professor universitário.

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