Aldeia Nagô
Facebook Facebook Instagram WhatsApp

Para Dilma Rousseff: o feminino e a política atual por Leonardo Boff

4 - 5 minutos de leituraModo Leitura

Dilma
Rousseff, como mulher, desperte para sua missão histórica única. Sua
candidatura é providencial para o Brasil e para o equilíbrio da Mãe Terra. Que
os eleitores, homens e mulheres, ao elegê-la Presidenta, se tornem artífices de
um processo de regeneração e de um destino bom para todos.


A reflexão antropológica dos últimos anos tem mostrado que masculino-feminino não
são entidades autônomas, mas princípios ou fontes de energia que continuamente
constroem o humano como homem e mulher. Estes são resultado da ação destes
princípios anteriores e subjacentes que se realizam em densidades diferentes em
cada um deles.

O feminino no homem e na mulher é aquele momento de integralidade, de
profundidade abissal, de capacidade de pensar com o próprio corpo, de decifrar
mensagens escondidas sob sinais e símbolos, de interioridade, de sentimento de
pertença a um todo maior, de cooperação, de compaixão, de receptividade, de
poder gerador e nutridor e de espiritualidade.

O masculino na mulher e no homem exprime o outro pólo do ser humano, de razão,
de objetividade, de ordenação, de poder, até de agressividade e de
materialidade. Pertence ao masculino na mulher e no homem o movimento para a
transformação, para o trabalho, para o uso da força, para a clareza que
distingue, separa e ordena. Pertence ao feminino no homem e na mulher a
capacidade de repouso, de cuidado, de conservação, de amor incondicional, de
perceber o outro lado das coisas, de cultivar o espaço do mistério que desafia
sempre a curiosidade a a vontade de conhecer.

Observe-se: não se diz que o homem realiza tudo o que comporta o masculino e a
mulher tudo o que expressa o feminino. Trata-se aqui de princípios presentes em
cada um, estruturadores da identidade pessoal do homem e da mulher.

Continua sendo o drama da cultura patriarcal o fato de ter usurpado o princípio
masculino somente para o homem fazendo com que ele se julgasse o único detentor
de racionalidade, de mando, de construção da sociedade, relegando para a
privacidade e para tarefas de dependência a mulher, não raro, considerada um
apêndice, objeto de adorno e de satisfação. Ao não integrar o feminino em si,
se enrijeceu e se desumanizou. Por outra parte, impedindo que a mulher
realizasse o seu masculino, fragilizou-a e lhe fez surgir um sentimento de
implenitude. Ambos se depauperaram e mutilaram a construção da figura do ser
humano uno e diverso, recíproco e igualitário.

A superação deste obstáculo cultural é a primeira condição para uma
relacionamento de gênero mais integrador e justo para cada uma das partes.

O movimento feminista mundial colocou em xeque o projeto do patriarcado que
dominou por séculos e desconstruiu as relações de gênero organizadas sob o
signo da opressão e da dependência. Inaugurou relações mais simétricas e
cooperativas. Tais avanços deixam entrever os albores de uma virada no eixo
cultural da humanidade. Esboça-se por todas as partes um novo tipo de
manifestação do feminino e do masculino em termos de parcerias, de colaboração
e de solidariedade nas quais homens e mulheres se acolhem em suas diferenças no
horizonte de uma profunda igualdade pessoal, de origem e de destino, de tarefa
e de compromisso na construção de mais benevolência para com a vida e a Terra e
de formas sociais mais participativas e solidárias.

Mas no momento atual, vivemos uma situação singular da humanidade. Como
espécie, estamos num novo limiar. O aquecimento global, a exaustão dos bens e
serviços naturais, a escassez de água potável e o estresse do sistema-vida e do
sistema-Terra no colocam esse dilema: ou nos parimos como outra espécie humana,
com outra consciência e responsabilidade ou iremos ao encontro da escuridão. O
Brasil, dada a sua situação ecogeográfica privilegiada, deve assumir seu lugar
central na construção do novo equilíbrio da Terra ou corremos risco de um
caminho sem retorno.

É nesse momento que se exigem como nunca antes na história a vivência dos
valores do feminino, da anima, como os descrevemos acima: dar centralidade à
vida, ao cuidado, à cooperação, à compaixão e aos valores humanos universais.

Dilma Rousseff, como mulher, desperte para sua missão histórica única. Sua
candidatura é providencial para o Brasil e para o equilíbrio da Mãe Terra. Que
os eleitores, homens e mulheres, ao elegê-la Presidenta, se tornem artífices de
um processo de regeneração e de um destino bom para todos.

(*) Leonardo Boff escreveu com Rose Marie Muraro, Feminino e Masculino
(Record) 2002.


Leonardo
Boff é teólogo e escritor.

Compartilhar:

Mais lidas

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *