Pesquisa Eleitoral: Entenda o Datafolha por Eduardo Guimarães
Datafolha que vazou no fim da noite de sexta-feira na internet e que foi
divulgada oficialmente hoje pela Folha de São Paulo, talvez não esteja
olhando direito os números.
Datafolha que vazou no fim da noite de sexta-feira na internet e que foi
divulgada oficialmente hoje pela Folha de São Paulo, talvez não esteja
olhando direito os números.
É claro que, em comparação com a pesquisa Vox Populi divulgada também
na sexta, o Datafolha não é tão bom para Dilma nem tão ruim para Serra.
Todavia, se compararmos o que vinha sendo feito pelo instituto de
pesquisas da família Frias antes de a procuradoria-geral eleitoral
acolher a representação do Movimento dos Sem Mídia pedindo investigação
dos quatro grandes institutos (Datafolha, Ibope, Sensus e Vox Populi),
chegaremos à conclusão de que a suposta manipulação de dados do
Datafolha refluiu, e muito.
Em dezembro do ano passado, a vantagem que o Datafolha atribuía a
Serra em relação a Dilma era de 14 pontos percentuais. Em fevereiro, a
vantagem caiu para 7 p.p. Eis que, em março, quando o Vox Populi e o
Sensus já atribuíam empate técnico entre Dilma e Serra, o Datafolha joga
a diferença a favor do tucano para 10 p.p. Em abril, o mesmo Datafolha
aumenta essa vantagem ainda mais, agora para 12 p.p. (!!!)
No começo de maio, a procuradoria-geral eleitoral aceita a
representação do Movimento dos Sem Mídia e emite um despacho à Polícia
Federal para que esta instaure inquérito para apurar possível crime
eleitoral de falsificação de pesquisas. A investigação abrange os
institutos Datafolha, Ibope, Sensus e Vox Populi.
Em 35 dias, no Datafolha, some uma vantagem de Serra sobre Dilma de
DOZE PONTOS PERCENTUAIS. Em 21 de maio, a pesquisa Datafolha conclui que
aquela estrondosa diferença caiu a… ZERO (!).
Naquele momento, a blogosfera entrou em festa. Apesar de a mídia
esconder a instauração de inquérito policial contra os institutos de
pesquisa, os principais blogs progressistas e até os portais IG e
Comunique-se entrevistaram-me e veicularam todos os detalhes da
representação do MSM, assinada por mais de dois mil leitores do meu
antigo blog, o Cidadania.com.
A manchete mais comum que se viu na blogosfera foi “A sinuca do
Datafolha”. Ora, para os Frias e para o PIG em geral, foi a morte.
Entendam que o principal poder da mídia é o de se colocar acima dos
outros poderes da República – o Quarto Poder, no Brasil, acha que é o
Primeiro.
Desta forma, a boa e velha margem de erro, levada ao paroxismo, pode
permitir uma tendência muito menos divergente dos resultados que o
histórico de todas as pesquisas mostra que têm sido os mais acertados,
pois a cada três ou quatro meses fazem os outros resultados convergirem
para si, ou seja, Datafolha e Ibope sempre acabam convergindo para os
resultados de Sensus e Vox Populi.
De qualquer forma, em meados de maio, coincidentemente no momento do
acolhimento pela Justiça Eleitoral da Representação do Movimento dos Sem
Mídia, a diferença maluca de doze pontos percentuais a favor de Serra,
uma diferença que nenhum outro instituto viu (nem o Ibope), reduziu-se a
zero.
Em junho, porém, há uma reação da Folha, aumentando essa diferença em
um mísero ponto percentual a favor do tucano, que, agora, a mídia
mantém, porque a sua lógica é a seguinte: manipulação de pesquisa já
havia ocorrido à época dos dez e, depois, dos doze pontos percentuais de
vantagem para Serra. Queda ainda mais abrupta dessa vantagem ou
ultrapassagem de Serra por Dilma só complicaria ainda mais a situação do
Datafolha diante das investigações. Manter uma divergência, qualquer
que seja, é dar coerência ao passado, se é que vocês me entendem…
O fato é que a mera análise dos números mostra que o Datafolha, no
transcurso de uma linha de tempo, vai tentando puxar Serra para cima em
duas pesquisas consecutivas. Em março, puxou essa diferença, que era de
sete pontos em fevereiro, para dez pontos; em abril, de dez pontos em
março, para onze pontos; em maio, teve que reduzir a diferença a zero –
não me lembro de outra queda tão abrupta de um candidato a presidente em
período tão curto (35 dias).
E a diferença do Datafolha a favor de Serra continua a zero desde a
representação do MSM, pois o único ponto percentual a favor do tucano,
nas duas pesquisas do instituto em julho, ficou dentro da margem de erro
de dois pontos percentuais.
Quero garantir uma coisa aos leitores em geral e aos filiados ao MSM:
a Folha não está ignorando o fato de que é a maior suspeita de estar
manipulando pesquisas através de seu instituto-laranja. Há todo um
intrincado cálculo na divulgação desses números. Até porque, um
passarinho me contou que Serra não levaria sua candidatura à frente se
Ibope e Datafolha não o mantivessem em vantagem sobre Dilma, mesmo que
dentro da margem de erro.
A investigação da Polícia Federal sobre os institutos de pesquisa já
está sendo monitorada pelo Movimento dos Sem Mídia. Em breve, teremos
novidades sobre o que, a meu juízo, é direito da sociedade de saber. A
Folha e seu instituto-laranja estão seguindo uma linha de atuação que
lhes parece menos suicida – e eu talvez até concorde com ela, se for
enxergar o assunto pela ótica dos seus interesses.
O fato é que não haverá o que o grupo político-midiático de Serra não
faça para vencer a eleição deste ano. Há interesses não só do pico da
pirâmide social, mas também interesses alienígenas (estrangeiros) na
vitória dele. A vitória de Dilma pode tirar dezenas de bilhões de
dólares das classes A e B e entregá-los às classes C, D e E.
Estamos falando de uma elite que já deu um golpe de Estado por não
aceitar distribuição de renda promovida pelo governo da hora e que,
assim, manteve o país acorrentado a uma ditadura por mais de vinte anos.
E estamos falando do sétimo país mais desigual do mundo, segundo o
índice de Gini. O Brasil não chegou a esse ponto com essa casta
dominante assustando-se com pouco. Até porque, há chefes militares
garantindo apoio.
O que este blogueiro e ativista político faz, portanto, é apostar na
legalidade, nas instituições, e, no limite, na indisposição que me dizem
haver nas tropas de obedecerem a ordens de comando golpistas, caso a
direita tucano-pefelê-midiática e seus mentores decidam não aceitar
ficarem de fora do poder por mais quatro anos.
Contudo, essa decisão-limite da direita golpista precisará se amparar
no Judiciário, mais ou menos como aconteceu em Honduras. É o novo modus
operandi golpista latino-americano. Porém, o Judiciário pós-Lula já não
é mais o mesmo. A maioria dos juízes da Suprema Corte foi nomeada por
este governo. O procurador-geral da República é um homem de bem.
Em minha opinião, até a doutora Sandra Cureau tem méritos a seu favor
e tenho minhas dúvidas de que esteja atuando de forma partidária.
Aceitou uma representação de uma ONG desconhecida, apesar de apoiada por
mais de dois mil cidadãos, e, depois que o PT resolveu se mexer e
acionar a Justiça Eleitoral naquela questão da “propaganda antecipada”,
também tem acusado os tucanos.
Em minha opinião, a situação das pesquisas está muito melhor hoje. A
ousadia diminuiu muito. E não creio que terão pernas para dar um golpe
branco, a la Honduras. Além disso, as próximas pesquisas poderão ser
avassaladoras para Serra. O Vox Populi mostrou que a sociedade não está
dando bola nem para os ataques reiterados a Dilma nem à manipulações de
pesquisas. Quero ver o que fará o Datafolha quando Sensus e Vox Populi
estiverem dando 15 pontos de vantagem para Dilma e a eleição estiver
chegando…
O que essa gente não entendeu, é o seguinte: eles podem fazer quantas
pesquisas quiserem, quantas notícias de jornal quiserem, quantos
programas de televisão quiserem. Podem tentar criar climas eleitorais
artificiais à vontade. No fim, porém, prevalecerá o princípio máximo da
democracia, o de que a cada cidadão só cabe o próprio voto, e o de que
na cabine indevassável, naquela hora do cidadão com a sua consciência,
quem tem o poder é o povo.
Artigo publicado originalmente em: http://www.blogcidadania.com.br