Aldeia Nagô
Facebook Facebook Instagram WhatsApp

Pic-nic à sombra da manipulação … (ou os limites do jornalismo). Por Cláudio Guedes

4 - 5 minutos de leituraModo Leitura
Claudio_Guedes

Leio no meio de uma coluna de conhecido jornalista, comentando sobre a prisão de Eike Batista, a seguinte frase:
“Eike teria muito a falar sobre suas relações com o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, e, ainda, com o ex-presidente Lula”.

Continuei a ler, certo de que o jornalista iria apresentar algum indício objetivo das tais “relações”. Entretanto nada mais foi dito.
Apenas comentários vagos sobre a tese que o jornalista defende, há meses, na sua coluna, da existência de uma rede de propinas entre o BNDES/empresas e o PT, comandada pelos citados.
Há meses procuro uma informação concreta, um fato, que o jornalista tenha conhecimento e nos traga para iluminar a sua tese. Nada. Só aleivosias, difamação sutil e palavras ao vento … tipo … “Eike teria muito a falar …”
Teria mesmo?
Vamos aos fatos:
1. A política de parceria do BNDES com os setores industriais brasileiros capazes de ocupar um espaço no mercado global, não foi inventada pelos governos do PT, como o jornalista insinua de forma contínua. A política de apoio do banco aos chamados “campeões nacionais” – estes setores onde o país é competitivo globalmente, como as indústrias do óleo & gás, construção civil de grandes obras de infraestrutura, processamento de carnes & aves e manufatura de jatos executivos, entre outros menos importantes – vem de muito antes, como aliás já foi dito de forma contundente pelo ex-presidente do BNDES no governo FHC, Luiz Carlos Mendonça de Barros.
2. Fosse o jornalista um pouquinho mais culto saberia que, na verdade, a política de bancos de fomentos nacionais investirem em seus conglomerados para que estes conquistem mercados externos, é próprio do capitalismo e da sua fase de internacionalização/globalização. Foi, por exemplo, o que os EUA fizeram, desde meados do século passado, com a GE, Schlumberger, GM, Ford, Coca-Cola; o que o Japão fez com a Sony, Honda, Mitsubishi, Toyota; a Alemanha com a Bayer, Krupp, MB; a Suécia/Suiça com a ABB; a França com a Airbus, Suez … e por aí vai.
3. A Brasil, como sexta/quinta economia do mundo, apenas tenta seguir a lição: internacionalizar suas empresas de ponta, exportar serviços & tecnologia e gerar divisas. Não existe nada de novo neste assunto. Só a ignorância pode achar que a idéia dos “campeões nacionais” foi invenção de petista.
4. Como toda atividade empresarial, disputar mercados internacionais num ambiente concorrencial às vezes dá certo, outras não funcionam. É assim. É da vida empresarial.
5. Eike Batista é um empresário brasileiro já sênior. Fez fortuna com lances audaciosos, pegou o “boom” da abertura do setor de óleo & gás no país e tentou jogadas ousadas. Parece que não deram certo. É do capitalismo. Ou não é?
6. Foi apoiado, não apenas pelos governos, mas principalmente pelo MERCADO. Nada tem a ver o governo com os bilhões que Eike levantou em IPO’s, conduzidos na Bolsa de Valores e coordenados pelo Bancos Pactual, Credit Suisse, ITAU BBA e Banco Santander. Grandes e sólidos bancos dando seus preciosos avais às operações e milhares de acionistas comprando. Por quê? Porque acreditaram na aventura. Achei insensato, mas é assim que no capitalismo as coisas funcionam. Ou não é?
7. O empresário era louvado e incensado pela imprensa e pelas TV’s como um gênio, um empreendedor fantástico – capa de Exame, VEJA, ISTO É, destaque na FORBES – a bíblia do empreendedorismo e do capitalismo global – na Globo, Bandeirantes … O que o governo tem com isso? Apenas acompanhar e apoiar na medida das suas funções e possibilidades. Não era isso que lhe era cobrado? Não é esse um dos papéis do governo num regime de livre iniciativa?
Ora, ora, ora. O que o governo tem que ver se a aventura não deu certo? Ou se o empresário na sua trajetória cometeu ações irregulares, criminosas? Ele que se acerte com a justiça.
Nada foi provado, até o momento, que o BNDES tenha agido de má fé, ou cumplicidade, ao participado de qualquer triangulação para favorecer determinado partido político, seja PT, PMDB ou PSDB, nas operações que fez com os empresas de Eike Batista, ou com qualquer outra empresa privada ou pública nacional.
Nada. Todos que conhecem o BNDES, sabem que o banco funciona de uma forma séria, seguindo protocolos rígidos, quanto à aprovação de financiamentos e tem forte credibilidade no mercado. É só ver os excelentes resultados em todo o período, apresentados nos seus balanços.
Luciano Coutinho, que o dirigiu nos últimos anos, é um economista renomado. PhD em Economia pela Universidade Cornell (EUA), foi professor visitante nas Universidades de Paris XIII, do Texas e da USP, além de professor titular na Unicamp. Formou-se em Economia pela USP. É o maior especialista brasileiro em política industrial. Nunca foi acusado por ninguém, nem nenhuma empresa, nacional ou não, de conduta antiética.
Lula é ex-presidente da República. Deixou o governo com a maior taxa de aprovação da história do país. Líder operário e fundador do PT, o maior partido político da país.
Por que essas duas personalidades iriam ter “relações” especiais com o empresário Eike Batista, além das relações normais da vida política e empresarial? Por quê?
Se o jornalista acha que as “relações” ultrapassaram os limites da lei, da ética, por que não traz um fato objetivo, concreto, que prove isso?
Porque é fácil, muito fácil, levantar dúvidas, denegrir reputações, deixar questões soltas no ar. É fácil e leviano.
Não é jornalismo, é proselitismo político, é jornalismo sem caráter.

Compartilhar:

Mais lidas

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *