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Política externa brasileira, vista dos EUA por Marco Nogueira

3 - 5 minutos de leituraModo Leitura

O jornalista MARK WEISBROT é diretor do Centro de Pesquisas
Econômicas e Políticas (www.cepr.net), de
Washington. Seu
artigo na Folha de S Paulo¹ deste domingo (21) representa um olhar
realista,
imune ao passional clima pré-eleitoral brasileiro. O assunto é a
campanha dos
Estados Unidos pela adoção de sansões contra o Irã, cuja recusa pelo
Brasil é
alvo de infundadas críticas dos opositores ao governo. Lula vem
argumentando que
a estratégia estadunidense de confrontos e ameaças é
contraproducente.


Os argumentos contra Lula, segundo o analista, foram
resumidos pelo oposicionista José Serra, na Folha de S Paulo² de 23/11/2009.
Serra ataca Lula por ter recebido Ahmadinejad, cuja reeleição teria sido
"notoriamente fraudulenta", pelo teor repressivo do governo e pela negação do
Holocausto. Weisbrot argumenta que a primeira acusação é inaceitável por quem
tenha examinado as evidências. A vitória de Ahmadinejad por uma diferença de 11
milhões de votos teve apuração testemunhada por centenas de milhares de pessoas.
Mais: os resultados corresponderam às pesquisas de intenção de voto e também de
boca de urna.

Por outro lado, articulista não tem dúvidas de que o governo
do Irã é repressivo, embora também o sejam alguns aliados dos Estados Unidos na
região. O Egito, a Arábia Saudita, Israel. Quanto à negação do Holocausto por
parte de Ahmadinejad, Weisbrot relembra que "Lula a condenou fortemente". No
entanto, questiona se deveria Lula também recusar um encontro com Hillary
Clinton, que apoiou a invasão e a ocupação do Iraque (Inútil guerra que já matou
mais de 1 milhão de pessoas). Hillary também apóia as mortes de civis cometidas
diariamente por forças dos EUA no Afeganistão.

Para o analista estadunidense, "Lula se reúne com todos os
lados na disputa porque está tentando exercer um papel de mediador para impedir
outra guerra desnecessária. É isso o que fazem os mediadores. A equipe de Obama,
assim como a do ex-presidente Bush, tem dificuldade em compreender esse
conceito. Ela prefere adotar uma abordagem do tipo "Poderoso Chefão" para as
relações internacionais. A abordagem da equipe de Lula é oposta, algo que se
deve à sua experiência sindical: ele procura o diálogo, as negociações e as
concessões, visando solucionar conflitos."

Na mesma linha arrogante de Obama, que não difere da de Bush,
o ex-subsecretário de Estado de Bill Clinton, James Rubin, publica na
"Newsweek³" desta segunda-feira (22) o artigo "Pressionando Lula". No subtítulo,
"aliados que se negam a sancionar Irã também devem pagar". No texto, "Boa
vontade e respeito nem sempre são o bastante. Algumas vezes, até países
amigáveis precisam entender que vão pagar um preço por desafiar os EUA. Muito
provavelmente, essa ação vai funcionar. O Brasil vai ajustar sua posição. E o
resto do mundo vai perceber." Rubin parece não saber que o Brasil já não é mais
quintal dos EUA.

Também parecem não saber (ou não querem saber) nossos eternos
padecentes do complexo de vira-latas, como o ex-presidente FHC, que quer "para o
Brasil uma relação mais estreita com os Estados Unidos, que desse espaço para o
país se afirmar mais em sua área de influência." (Na Folha de S Paulo* desta
sexta-feira, 19). Quinta-colunismo sem criatividade, pois repete um outro
arrivista dos anos 60, Juracy Magalhães: "o que é bom para os EUA é bom para o
Brasil".

Alheio às prioridades de Washington que não se destinam aos
interesses mais amplos, Lula, como disse Mark Weisbrot, "tornou-se um dos
líderes mais respeitados do mundo e, por essa razão, possui potencial singular
de ajudar a resolver alguns dos conflitos políticos mais sérios do planeta."
Satanizado por Washington e pelos vira-latas da mídia e da oposição brasileiras,
nosso presidente, diz o analista, "vem assumindo uma atitude pautada por
princípios e que atende aos interesses mais verdadeiros não apenas do Brasil,
mas da humanidade. (…) O mundo precisa seriamente desse tipo de
liderança."

 

Artigo
publicado originalmente em
http://colunistas.ig.com.br/luisnassif

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