Aldeia Nagô
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Política: Marina, boa novidade na sucessão,. Por Kennedy Alencar

3 - 5 minutos de leituraModo Leitura

A possibilidade de a senadora Marina
Silva se candidatar à Presidência da República pelo PV é a única novidade do
debate sucessório que desperta esperança de alguma inovação na política
brasileira. Tem sido desalentador constatar a pobreza de ideias de nossos
principais presidenciáveis.






Guardadas as devidas proporções, Marina
pode dar ao Brasil um choque positivo semelhante ao de Barack Obama na política
americana. Sua eventual candidatura obrigaria os partidos "favoritos"
a vencer a eleição presidencial de 2010 a modernizar discursos. E não convém
descartar a força de um fato novo em tempos de descrédito da classe política.

Potenciais candidatos à Presidência,
José Serra (PSDB), Dilma Rousseff (PT), Ciro Gomes (PSB), Aécio Neves (PSDB),
Heloísa Helena (PSOL) ignoram a agenda ambiental. É triste constatar isso. No
atual padrão da política brasileira, eles estão entre os melhores quadros.

Serra e Dilma são
"desenvolvimentistas", seja lá o que isso signifique. Parece que são
preocupados com o crescimento da economia, com obras de infraestrutura, com
geração de emprego. Ótimo. Ainda bem. Só faltava serem contra.

Não se ouviu nos últimos tempos uma
ideia inovadora do governador de Minas. O jovem Aécio é um retrato do político
tradicional. O PSDB liga Lula a Sarney na crise do Senado, mas o tucano mineiro
trabalha nos bastidores a favor do presidente do Senado.

Em Belo Horizonte, Aécio decidiu criar
um grande centro administrativo. É uma tentativa anacrônica de invocar JK
contratando um projeto de Oscar Niemeyer para concentrar num só lugar o governo
de Minas e suas secretarias. No mundo inteiro, busca-se revalorizar o centro
das grandes cidades. O poder público tem papel fundamental nisso, mas Aécio
preferiu fazer sua obra faraônica no caminho do ainda distante aeroporto de
Confins. Os gastos reais estouraram a previsão.

Ciro Gomes, ex-ministro e deputado
federal, dedicou as últimas semanas a alimentar uma candidatura artificial ao
governo de São Paulo. Também jovem político, está caindo numa armadilha de
velhas raposas.

Heloisa Helena apareceu na TV, no
programa do PSOL. Mais do mesmo: só haveria pilantras em Brasília. Discurso
moralista. E uma visão econômica de dar medo.

Numa terra arrasada assim, será um erro
ignorar a força de eventual candidatura de Marina Silva. Por ora, tucanos
tratam a possibilidade com incrível amadorismo. O raciocínio é que Marina
prejudicaria mais Dilma do que Serra. Aécio chegou a dizer que, no segundo
turno, Marina estaria ao lado do PSDB.

Os tucanos subestimam a inteligência de
Marina, que deu um nó em Lula ao deixar o governo. Ela pediu demissão e obrigou
o governo a frear um ataque ao meio ambiente em nome de obras de
infraestrutura.

Os petistas estão atônitos com o convite
do PV a Marina. Recorrem a apelos sentimentais. Acham que uma conversa com Lula
poderá resolver. Parece que Marina já está com a decisão tomada. Tende a deixar
o PT pelo PV.

A princípio, claro que Dilma perderia
mais com a eventual candidatura de Marina. Mas o PSDB cometerá um erro se
tratar essa possibilidade como linha auxiliar para derrotar o governo nas
eleições de outubro do ano que vem. É óbvio que o PV, um partido pequeno, teria
enorme dificuldade para arrumar recursos financeiros e tempo de TV para vender
sua candidata.

Ou seja, há obstáculos para que uma
eventual candidatura de Marina consiga ficar de pé a ponto de ter chance real
de ganhar.

No entanto, uma postulação presidencial
que trate o desenvolvimento econômico como parceiro e não como empecilho pode
gerar uma onda verde realista. A capacidade de mobilização via internet
contrabalançaria a falta de dinheiro e de tempo no horário eleitoral gratuito.
A bandeira ambiental tem apelo suficiente para seduzir jovens que só ouvem
falar da crise do Senado.

Aos olhos de hoje, seria muito difícil
Marina vencer. Mas, no mínimo, sua candidatura faria um estrago danado na
envelhecida política brasileira e um bem ao debate público. Na hipótese de
surpresa, pode virar uma terceira via no duelo fratricida entre PT e PSDB.


Kennedy Alencar é colunista da Folha Online

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