Por que o mercado derrubou dona Leitão por Ricardo Berzoini
A colunista econômica Mirian Leitão escreveu um
artigo, após a mudança de comando no Banco do Brasil, intitulado "Por que
a demissão derruba as ações do BB".
Conhecida defensora das teses
neoliberais que arruinaram o Brasil sob FHC, dona Leitão não se conformava com
o exercício, pelo acionista majoritário, do direito de mudar a presidência da
empresa. Para dona Leitão, o BB é do "mercado" e os minoritários (que
ninguém consultou para saber se seriam contrários à mudança) devem mandar no
majoritário. Curioso é lembrar que, nos casos Encol e Maxblue, não vimos dona
Leitão criticar os tucanos (à época legitimamente exercendo o papel de
acionista majoritário) pela gestão temerária.
Disse dona Leitão em seu texto: "O Banco do Brasil é empresa de capital
aberto. O governo não é o dono, é o maior acionista. Por isso, a demissão
assusta e derruba as cotações. O spread bancário é um problema grave, mas o
presidente da República não pode administrar um banco de economia mista. É um
disparate. Nenhuma intenção de defender o presidente do Banco do Brasil que foi
demitido, apenas é preciso entender como a economia funciona: se o BB tem
acionistas privados, ele tem que operar com as regras do mercado, buscando
lucro e competindo com os outros bancos. Se ele vai ser administrado pelo
presidente da República ou pela chefe da Casa Civil, então não pode ter ações
no mercado. Ou uma coisa ou outra."
De fato, o governo não é o dono do BB, mas o Estado brasileiro é o acionista
amplamente majoritário. Quem compra ações do BB sabe disso, sabe inclusive que
é um banco que não quebra. O acionista do BB não corre o risco que atingiu os
cotistas do Banco Nacional, do Bamerindus, do Econômico ou do Lehman Brothers.
Ele deve sim, óbvio, dar lucro. Mas quem disse que deve dar uma rentabilidade
de 30% ao ano? Onde está escrito isso?
Recentemente, o presidente da Petrobrás (não é Petrobrax, como queriam os
amigos de dona Leitão), Sérgio Gabrieli, foi incluído entre os finalistas do
Premio Platts de Energia, na categoria "CEO do Ano" (executivo-chefe
do ano). Gabrieli é filiado ao PT e reconhecido mundialmente como um dos
melhores gestores do setor. A Petrobrás é uma das ações mais valorizadas dos
últimos seis anos.
Não há contradição em ser uma empresa estatal e ter ações na bolsa. E não há
problema quando o acionista majoritário anuncia que tem diretrizes para a
empresa que não se restringem à busca de remuneração para os acionistas. Quem
compra ações sabe que em qualquer empresa o majoritário manda, no que não
contrarias as leis e o estatuto da companhia.
Dona Leitão também sabe disso. Mas é preciso criticar o governo Lula. E
defender o neoliberalismo.
O problema é que dona Leitão não entende nem mesmo de mercado. Depois de
anunciada a mudança no BB, dia 8 de abril, as ações do banco, de fato, caíram
8,15 % no primeiro dia, e 2,8% no segundo. Hoje, no momento em que escrevo esse
artigo, as ações estão praticamente no mesmo valor que tinham no dia 7 de
abril. Alguns especuladores devem ter vendido ações no dia 8, prevendo já os
artigos iluminados dos neoliberais. Talvez tenham recomprado dias depois,
embolsado um lucrinho. Talvez vendam na semana que vem e comprem daqui a um mês.
Assim é o mercado.
Mas não pensem que dona Leitão fará autocrítica. Ela prosseguirá dizendo que é
preciso cortar os gastos, que o Estado é um mal e que só o mercado salvará a
humanidade. Nós, do PT, nunca negamos que o mercado deve ser fortalecido. Em 2002,
debatemos com o grupo de diretrizes do mercado de capitais, na BOVESPA, as
medidas que o governo Lula tomaria para fortalecer as regras e o funcionamento
do mercado acionário e de títulos. Nós entendemos de mercado. E sabemos que as
flutuações momentâneas só enganam os tolos. E alimentam os discursos dos
"espertos".
Mas nós, do PT, sempre dissemos o que agora parece claro, até para alguns
liberais. Sem um poder público forte, democrático e transparente, que regule e
supervisione o mercado e atue em certas áreas diretamente, a conta vai para o
povo, que sofre as consequências da esperteza alheia.
Sérgio Porto (Stanislaw Ponte Preta) era funcionário do BB. Grande escriba,
produziu o FEBEAPA, coletânea de crônicas sobre o Festival de Besteira que
Assola o País. Se estivesse vivo, poderia escrever o FEBEACON (Festival de
Besteira que Assola os Colunistas Neoliberais)
Ricardo Berzoini é presidente nacional do PT, deputado federal por SP e
funcionário do Banco do Brasil desde 12/07/1978