Prisão de Assange fere a democracia por Altamiro Borges
Satanizado pelos EUA e furiosamente perseguido pela Interpol, o australiano Julian Assange, criador do sítio Wikileaks, decidiu se entregar à polícia do Reino Unido na manhã desta terça-feira (7).
A prisão representa um duro golpe
contra a liberdade de expressão, principalmente contra a liberdade na internet.
Não é para menos que os barões da mídia, no Brasil e no mundo, evitam fazer
alarde. Se um blogueiro fosse detido na China, Irã ou Cuba, a gritaria seria
infernal.
A desculpa para justificar a caçada a Assange é a denúncia da
Justiça sueca de que ele teria cometido crimes de estupro, assédio sexual e
coerção ilegal contra duas mulheres, em agosto passado. A sentença é bastante
confusa, levando-se em conta que no país a prática de sexo desprotegido, sem o
uso de preservativo, é considerada uma categoria leve de estupro. Assange nega
as acusações e garante que a perseguição é uma retaliação ao Wikileaks pelo
vazamento de documentos das embaixadas dos EUA.
Cresce o apoio ao
Wikileaks
Apesar da cumplicidade da mídia ianque e das suas sucursais
colonizadas, a prisão de Assange não deverá cair no silêncio. Desde que os EUA
deflagraram a caçada mundial ao Wikileaks, exigindo sua retirada do ar e a
prisão do seu criador, cresce o apoio ao sítio. Através do Twitter foi lançado
na semana passada o movimento "imwikileaks" ("eu sou Wikileaks"). Em apenas dois
dias, mais de 500 sítios na web clonaram o seu conteúdo para "tornar impossível
que o Wikileaks seja retirado totalmente do ar".
Também está em curso uma
jornada internacional de boicote à Amazon Web Server (AWS), empresa que
hospedava o sítio, mas que se sujeitou à censura imposta pelo governo de Barack
Obama. O portal está agora hospedado num servidor do Partido Pirata suiço e
oferece instruções para que qualquer sítio use o seu conteúdo. No mundo da
internet, pelo menos por enquanto, o poder imperial dos EUA mostra-se
vulnerável. Eric Holder, censor dos EUA, já admitiu que Washington tem
dificuldade para silenciar o Wikileaks.
A prisão de Julian Assange é um
grave atentado à democracia, à verdadeira liberdade de expressão. Merece repúdio
imediato. Uma das formas de solidariedade é continuar difundindo os textos
"sigilosos" que comprovam que a diplomacia ianque é um antro de espionagem e
terrorismo. Ela serve aos interesses do império – uma obviedade, mas que deve
ser repetida para muitos que achavam que o imperialismo já não existia.