Programação infantil na internet pode estimular o consumismo e ostentação nas crianças
Com a restrição da publicidade infantil na TV aberta, o conteúdo destinado aos pequenos tem migrado para a web. É crescente o acesso à rede pelas crianças, em busca de entretenimento.
Hoje, os pequenos estão inseridos em um contexto ainda maior: além de serem influenciados pelo que apreciam na internet, influenciam também outras crianças. Os mini digitais influencers, youtubers mirins e mini blogueiros estão na chamada “crista da onda”, criam vídeos, geram conteúdo, entretenimento para um público específico e muitos acabam se tornando mini celebridades, chegando a lucrar muito com a brincadeira.
No Youtube, entre os vídeos mais populares estão aqueles em que as crianças abrem dezenas de embalagens de brinquedos enviados pelas marcas, mostram todos os seus detalhes, enquanto agradecem os presentes. Entre os temas também é comum encontrar ideias de desafios para fazer com amigos e tutoriais inspirados na técnica “faça você mesmo”. Nas redes sociais, como Facebook e Instagram, muitas sessões de fotos, presenças VIPS, desfiles, presentes, “encontrinhos” com fãs e uma agenda lotada de compromissos. Tudo publicado com arrobas e hastags das marcas e parcerias que rendem milhares de curtidas e retorno em publicidade.
Para a psicóloga Camila Miranda, o acesso a esse tipo de conteúdo pode gerar expectativa de consumo na criança, incentivar a ostentação, dar a percepção de que os desejos devem ser satisfeitos de forma imediata e estimular um brincar com temas pré-definidos (pelos brinquedos das marcas ou pelos tutoriais), onde todos ficam iguais, o espaço para espontaneidade diminui e o “ter” acaba sendo mais importante do que o “ser”. “Hoje, no mundo, tem-se falado muito da necessidade de tolerância e respeito e, para isso acontecer, é importante promover experiências onde as crianças, desde cedo, deparem-se com a diferença no gosto de se vestir, na escolha das brincadeiras, em opiniões diferentes, entre outros aspectos”, completa a Camila.
Segundo a psicóloga, uso das tecnologias e redes sociais pode ser positivo desde que feito com consciência e responsabilidade para não causar prejuízos ao desenvolvimento da criança. “Esse contato direto das crianças com as redes sociais deve ser foco de atenção constante na família, para evitar as várias formas possíveis de abuso como pedofilia, estímulo ao consumismo exagerado e excessos na agenda de atividades. A mini celebridade de hoje vai crescer e pode não ser mais lembrada amanhã. O padrão de consumo atual pode não se manter no futuro. As crianças também precisam estar preparadas para se deparar com esse tipo de realidade e saber lidar com isso quando estiverem maiores. Em todos esses momentos os pais precisam acompanhar e orientar os filhos”, explica Camila Miranda.
Especialistas recomendam que o uso de aparelhos tecnológicos só ocorra após os dois anos de idade e, para crianças entre 2 a 5 anos de idade, é importante limitar o tempo de exposição às mídias ao máximo de 1 hora por dia. “O conteúdo consumido deve ser o principal alvo de atenção e observar a função que a tecnologia está tendo para a criança e a família também é fundamental.”, enfatiza a psicóloga. “As crianças não tem noção do que pode ser maléfico para a sua saúde, do que pode ser perigoso de imitar e ainda não tem entendimento completo do que é certo e errado. Por isso a orientação e acompanhamento dos pais é de extrema importância”, conclui.
Sobre Camila Miranda
Psicóloga com mais de 15 anos de experiência na área educacional e ampla vivência na área clínica. Camila Miranda é graduada em Psicologia pela Universidade Federal da Bahia – UFBA (1998). Possui Pós-graduação em Diagnóstico e Tratamento dos Transtornos do Desenvolvimento na Infância e adolescência pela Faculdade Hélio Rocha e Centro Lydia Coriat e Pós-graduação em Orientação Profissional pela Faculdade Ruy Barbosa (2003). Atua na cidade de Salvador-BA, onde integra a equipe de atendimento da clínica BabyClin, na Garibaldi, e realiza atendimento em Lauro de Freitas, em consultório no Shopping Atlântico Center.