Quando o apelido ainda não era Bullyng Por Zuggi Almeida
Um apelido quando era estudante no Colégio Estadual Duque de Caxias, no bairro da Liberdade tinha um significado especial. Um tipo de marca ou até posso dizer, uma grife carregada com muita honra.
Evidente que alguns chegavam mais próximos à alcunha.
A arte em apelidar exigia criatividade, muita observância e acima de tudo, uma boa dose de irreverencia. No colégio tinha uns caras que eram verdadeiros craques na arte dos codinomes. Dois eram verdadeiros peritos: um era chamado Maloca, o outro, atendia como Testinha.
Hoje, a pedagogia contemporânea estabeleceu conceitos para classificar situações de assédios, abusos ou hostilização nas escola, sendo que o apelido é tratado como bullying. Bem diferente da época onde as relações entre os colegas de escolas era pautada no companheirismo, fraternidade e acima de tudo, cumplicidade e muito humor.
Maloca, digo Edvaldo de Jesus Villas Boas, hoje, um eficiente administrador escolar e José Jorge Barros (Testinha) professor aposentado da Escola Técnica Federal da Bahia seriam denominados troladores nas redes sociais. Lá atrás eram os verdadeiros gozadores de plantão.
Eu, por exemplo, apelidado como Zug ( a grafia era assim), recebi o apelido de forma inusitada. Um apelido nem sempre é criado, pode surgir numa oportunidade. Lembro que o primeiro a me chamar de Zug foi o Pinguim ou Carlos Roberto Brandão da Silva.
Numa certa noite foi exibido uma animação na tv denominada Jonny Quest. No episódio, um explorador branco era perseguido por uma tribo nativa nas selvas africanas. O grito de guerra era algo próximo de ” zug-ug-zuga-uga”. Na manhã seguinte, alguém puxou o coro na sala de aula e fiquei bravo, não sabendo que ali estava relacionado à minha ascendência africana.Não sei como explicar, o Zug foi absorvido e antecede ao cidadão identificado como José Alberto Almeida da Cruz. Um apelido que tornou-se nome, referência,a ponto de assinar como Zuggi Almeida.
Quando me perguntam o significado de zug, esclareço que não é um vocábulo afro. A única referência é encontrada na língua germânica sendo a palavra que denomina trem. Portanto, bem longínquo das minhas raízes.
Todo apelido, tem no início, a proposta de irritar, caçoar, porém, os detentores usando da sabedoria e jogo de cintura podem transformar tudo numa brincadeira.
Aqui fica registrado a minha gratidão e respeito a Pinguim, Maloca, Testinha, Bolinha, Jorge Pique, Jorge Two Noses ( depois Jorge Taime), Fratelão, Duquinha, Jaglobé ( depois Zebrinha), Hulk, Maciste, Garnier, Galo, Serrinha, Duzeco, Biribinha, Jorge Tlês, Baé,Gordo, Coelho, Ronaldo Cebolinha para lembrar alguns jovens estudantes que foram apelidados e não sofreram transtornos psicológicos e sentem-se bem quando reencontram os amigos e são chamados desses modos carinhosos.
O interessante é que o apelido sempre era posto nos meninos, sendo que as meninas eram sempre respeitadas. Exceção para algumas mais retadas que recebiam uma condecoração, mas a ética não me permite citar.
Qual de vocês não tem um amigo que chamam pelo apelido desde sempre e não sabe o nome de registro do cidadão?
Zuggi Almeida é baiano, escritor e roteirista.