Quem tem medo da Petrobras por Mauro Santayana
Os mesmos jornais que atacam a Petrobras revelaram, ontem, que a empresa foi,
entre as não financeiras, a mais lucrativa das Américas, no segundo trimestre
deste ano.
Isso comprova que está sendo bem administrada. No passado se dizia
que o melhor negócio do mundo era uma empresa de petróleo, e que o segundo
melhor negócio do mundo continuava sendo uma empresa de petróleo, mesmo mal
administrada. Se a Petrobras foi a empresa mais lucrativa da América – e na
mesma lista não se encontram outras empresas petrolíferas – reforça-se o êxito
da empresa criada por Vargas. Não há por que apelar para o concurso das
petrolíferas estrangeiras na exploração do pré-sal. O contrário é que é o certo,
e a Petrobras tem participado, com êxito, da exploração de petróleo no exterior,
principalmente em associação com empresas também estatais.
Defensor da
iniciativa privada, o ex-ministro Delfim Netto prefere não distinguir as
empresas estatais das empresas privadas, senão pelo fato de serem bem ou mal
dirigidas. A Petrobras, mesmo em seus anos piores, tem sido bem administrada
porque, se os diretores nomeados falham, o corpo histórico de técnicos e
administradores sabe cumprir seu dever e resistir – como resistiu ao golpe de
1997, perpetrado com a legislação conseguida pelo presidente Fernando Henrique,
ao desfigurar a grande empresa.
Se os mais jovens soubessem que a
Petrobras tem sido, desde suas primeiras horas, vitória da pertinácia nacional,
estariam nas ruas, como estiveram seus pais e avós, repetindo o slogan poderoso
de há mais de 50 anos: o petróleo é nosso. Ao reservar para o povo brasileiro o
óleo fora das áreas de concessão, infelizmente já outorgadas aos estrangeiros, o
atual governo volta sim, ao passado, como é da conveniência de nosso povo. Os
que promoveram a amputação da Petrobras, durante o governo dos tucanos de São
Paulo, voltam a se mobilizar contra o projeto do governo federal. O governo Lula
está agindo constitucionalmente. Apesar de todos seus esforços, o senhor
Fernando Henrique não chegou a quebrar o monopólio da União sobre o petróleo.
Falam hoje da necessidade de que haja discussão, como se a sociedade, que se
manifestou como pôde em defesa da estatal, tivesse sido ouvida em 1997, quando o
governo repetia, com entusiasmo, o pensamento único neoliberal, e contava com a
grande mídia para impô-lo ao Congresso e aos "formadores de opinião". Convém que
as normas do processo se definam imediatamente. Não há melhor momento para
começar a construção do futuro do que agora.
Mesmo que haja excesso de
otimismo com relação às jazidas do pré-sal, será imperdoável erro histórico não
viabilizar a exploração das novas reservas. Todos os argumentos dos
oposicionistas não dissimulam os interesses que se encontram por detrás de seus
atos. Tal como no passado, começam a surgir institutos, associações e
movimentos, com seus "consultores", para contestar o controle da exploração do
petróleo pelo Estado. Há quem diga que o petróleo não tem futuro. Se não tem
futuro, tem presente. É pelo petróleo que os norte-americanos estão matando e
morrendo no Iraque e no Afeganistão.