Salve Gerônimo.. Por Tuzé de Abreu
Aos poucos vou voltando a escrever.Aí vai uma pequena homenagem a Gerônimo , que estava por terminar e ficou assim. Muitas vezes toquei na abertura do show de Gerônimo , em geral no Pelô, com Ricardo Luedy ao violão e voz. Músicas de Jobim , Chico e Caetano.
Era muito divertido e fazia a gente ficar em contato não apenas com Gerônimo, mas com seus músicos e um grupo de pessoas que costuma acompanhar as apresentações dele. Amigos e artistas .
Conheço Gerônimo há muitos anos. Desde o tempo em que os percussionistas dos trios elétricos ficavam num lugar especial , do lado do caminhão. Fui ver o divertidíssimo espetáculo “De Um Tudo”, totalmente montado na baianidade tradicional e contemporânea, e mais uma vez fiquei encantado com a facilidade que Gerônimo compõe. Todas as canções são dele, que também atua.
Um dia conversando com Ricardo cheguei à conclusão que Gerônimo é um dos mais autênticos baianos , na linha de baianidade proposta por Jorge Amado e Caymmi . Ele tem a etnia adequada , nasceu em Bom Jesus , na beira do mar do recôncavo, é saveirista e é de candomblé. É claro que o fato de ser cantor , compositor , percussionista e trombonista, reforça mais. Suas obras são eminentemente baianas, até no viés caribenho que muitas tem.
Nós com fenótipo (caracteres genéticos externos) negros ou brancos , por mais baianos que sejamos, não podemos nos comparar ao mestiço no índice de baianidade. O destaque desta vai para as misturas étnicas e religiosas. Há pouco vi e ouvi uma bela palestra de Mangabeira Unger , onde ele coloca o sincretismo , na sua maior abrangência , não apenas religiosa, como uma das mais importantes características do povo brasileiro. E , sem dúvida, a raiz mais profunda da brasilidade é a que está no recôncavo baiano.
Gerônimo é o compositor , com ou sem parceria , de dezenas de canções importantes e inesquecíveis .”Eu Sou Negão” é uma de suas obras primas, com um viés experimental. “Acorda Cidade”,”Lambada da Delícia”,”Agradecer e Abraçar” , “Jubiabá”, “Dandá”,etc. Naturalmente é impossível não lembrar “D’Oxum “, parceria com o saudoso Vevé Calazans, que eu , muitas vezes , brincando , disse que eles roubaram de Dorival Caymmi.