A fundante e fundamental presença de Moraes Moreira (1947-2020) no carnaval de Salvador dispensa apresentações e exige reverência permanente. Pelo segundo ano seguido, seu filho Davi Moraes garante ecoar na festa a vasta e diversa obra deste artista popular, autor de clássicos inesquecíveis, membro do icônico grupo Novos Baianos e um dos compositores mais versáteis do Brasil. Serão cinco apresentações do show “Moraes Carnaval Moreira”, em diferentes pontos da cidade, em parceria com Moreno Veloso. A produção é da Maré Produções Culturais e da Valdir Andrade Produções e Eventos, com incentivo da Prefeitura de Salvador e do Governo da Bahia.

Aos 50 anos de vida e mais de três décadas de carreira, Davi Moraes, guitarrista e cantor, acredita que dar corpo ao legado de Moraes no carnaval de Salvador é uma tarefa escrita há muito tempo. “Meu pai me trouxe muito cedo para os palcos e é como se fosse uma missão já desenhada desde que a gente começou a nossa história juntos na música. Um dos primeiros palcos em que eu toquei foi o trio elétrico. Eu acho que a gente está fazendo hoje o que ele gostaria que a gente fizesse realmente. Como se ele tivesse deixado uma carta para mim dizendo: ‘por favor, continue essa história, continue a alegrar as pessoas’. Tudo tem muita força, muito significado, muita emoção”, conta o artista, comovido.

Davi também comenta da alegria de estar ao lado de Moreno Veloso neste trabalho. “Moreno é meu amigo desde sempre, né? E ele sempre acompanhou nossas saídas de trio e eu me lembro de falar para ele que a gente tinha de montar uma coisa junto, nós dois, puxar um trio elétrico juntos. Então que isso acabou acontecendo ano passado, de uma forma muito boa, muito natural. Para minha alegria, mais uma vez, estaremos juntos este ano. A gente se entende muito bem no palco, dividindo os cantos, as músicas que a gente gosta de tocar, sejam do meu pai, sejam nossas, sejam de Moa do Katendê, de Paulinho Camafeu, de pessoas que a gente ama também e considera muito importantes nessa história toda”, descreve. Inclusive, Davi e Moreno se uniram para gravar uma nova versão da faixa “Todo mundo quer”, lançada por Moraes em 1983 e incluída no álbum “Moraes É Frevo!”, recém-lançado em janeiro pela Orquestra Frevo do Mundo, num projeto assinado por Pupillo, Marcelo Soares e Davi Moraes

MORAES MOREIRA – É impossível contar a história da música popular brasileira sem dedicar grande capítulo ao nome do baiano Moraes Moreira (1947-2020). Grandes referências da cultura nacional, as suas canções narram e exaltam a diversidade musical do Brasil. Sua obra não tem nenhuma fronteira, misturando ritmos como frevo, baião, rock, samba, choro e até mesmo música erudita. Ao lado de Luiz Galvão, Moraes foi o compositor de quase todas as canções dos Novos Baianos. O clássico “Acabou Chorare” (1972), lançado pelo grupo, está em 1º lugar na lista dos 100 melhores álbuns da história da música brasileira, num levantamento da revista Rolling Stone Brasil. Ele foi também o primeiro cantor de trio elétrico e esteve totalmente implicado na criação de Dodô e Osmar, em meados de 1970 – e até o fim da vida, conduziu a pipoca pela avenida. Moraes Moreira gravou de 40 discos, com os Novos Baianos, Trio Elétrico Dodô e Osmar, carreira solo e parcerias Pepeu Gomes. Ao lado de Armadinho, é o responsável pela composição de “Chame Gente”, maior clássico do carnaval baiano. O próprio Moraes fala sobre sua vasta e inesquecível obra: “Minhas canções resistiram a tudo e a todos, dando mostras de que vieram para ficar. Passada a euforia dos sucessos imediatos, elas ressurgem gloriosas, no gogó dos foliões, inteiras e renovadas pela juventude”.