Aldeia Nagô
Facebook Facebook Instagram WhatsApp

Segurem o tchan!!! Por Franciel Cruz

2 - 3 minutos de leituraModo Leitura
Franciel-Cruz

Aqui & alhures ouço estudiosos decretando o fim ou a estagnação axé-music. Porém, ao contrário do críticos apocalípticos (beijo, aliteração), entendo que o movimento segue rebolando. E, neste ano da desgraça de 2018, já começa a desfilar com figurino novo na avenida.

Qual é? Já conto. Antes, porém, um pouquinho de história que, assim como caldo de galinha, em dose moderada, prejudica quase nada. Seguinte.

Há cerca de três décadas, pouco mais, pouco menos, quando o império axezeiro começou a se tornar hegemônico na (mono) cultura baiana, além da (mal) dita herança musical, herdamos também novos trejeitos manuais. Em um ano, o negócio era botar a mão na cabeça; noutro, usá-la para segurar a bundinha; no seguinte, o joelhinho; depois o umbiguinho, desce mais um pouquinho…

Nunca, porém, estes gloriosos artistas tiravam a mão de um lugar sagrado: o bolso – principalmente o do contribuinte. E, para isso, fecharam a mais bem sucedida Parceria Público-Privada (PPP) da história da música no Brasil, com o auxílio luxuoso dos órgãos oficiais de turismo. Em contrapartida, repetiam ad nauseam alguns mantras em louvor do mandatário de plantão desta ainda bela e cada vez mais besta província. Esta monocórdia bajulação foi a trilha sonora dos últimos carnavais.

E cadê a novidade? Pergunta o entorpecido e impaciente folião.

Pois muito bem.

Nesta recente história de extorsão e exclusão, destacou-se o glorioso Bloco Eva. Vocês, moços, pobres moços, podem não saber ou recordar, mas este velho e cansado locutor/folião se lembra muito bem. No início desta chibança, a referida entidade carnavalesca era a mais elitista da cidade, a que só aceitava gente bonita, eufemismo para expulsar os negros e/ou pobres. Assim faziam a seleção dos integrantes a partir de fotografias e comprovantes de residência. Os desvalidos que queriam frequentar o bloco, pegavam emprestado os tais comprovantes de pessoas amigas que moravam nas (mal) ditas regiões nobres da cidade.

Pois muito bem. Tempos depois, este mesmo bloco inventou de abrir um camarote com o Ilê Ayiê, obrando uma parceria que nasceu condenada ao fracasso, pois era, digamos assim, muito heterodoxa até pra os insanos padrões baianos.

Já que o negócio não gerou muito lucro, o mesmo Bloco Eva aparece este ano nos outdoors com uma mensagem mais ou menos assim: “Desça, luxo é curtir a rua”.

Enquanto isso, os outros blocos axezísticos ameaçam não desfilar por causa dos camarotes. E exige mais grana do poder público, no caso, nosso suado dinheirinho. É bicho engolindo bicho, vou te devorar, crocodilo eu sou, na cocó.

Tudo parece muito contraditório, né? Mas quem se importa, se o fundamental é estar antenado com mais uma tendência do verão? Então, é só voltar a balançar as mãozinhas, sem esquecer, é óbvio, de deixá-las mexendo no maltratado bolso dos idiotizados foliões.

Enquanto isso, este desconfiado locutor, com o couro curtido em seculares disgrama momescas, prosseguirá dançando com a bunda na parede.

Evoé.

Franciel Cruz é Jornalista

Compartilhar:

Mais lidas