Sem desespero. Por Claudio Guedes
Sem pessimismo, também. Muitos amigos se mostram céticos com o cenário político. O cenário não é bom, a democracia continua ameaçada.
A judicialização da política avança, ainda. Mas em ritmo mais lento e começou a sofrer sérios reveses. O imperador do judiciário brasileiro, o juiz de 1° Instância de Curitiba, e sua guarda de procuradores e policiais federais, que assumiram o papel – não lhes concedido pelas leis, nem pela Constituição – de justiceiros, começam a enfrentar questionamentos de setores que até então os endeusavam.
É luta sempre.
A democracia é mais forte que estes que a ameaçam.
Justiceiros, oportunistas e vigaristas se uniram no país para desafiar o estado de direito. Ninguém honesto no país é contra o combate à corrupção, ação que deve ser permanente das forças policiais e do poder judiciário. Entretanto todos minimamente inteligentes sabem que sob o manto do “combate à corrupção” se escondem interesses políticos particulares e visões autoritárias incompatíveis com a democracia e com a defesa dos direitos e garantias da cidadania.
“Mas cada sombra em última análise também é filha da luz.”
A frase é de Stefan Zwieg, o escritor e intelectual austríaco (1881-1941). A escolhi de propósito, para defender o meu ponto de vista, que devemos sempre afastar o desespero, o ceticismo, a desesperança.
A escolha pode e parece ser contraditória já que Zweig, judeu perseguido implacavelmente pelos nazistas que anexaram sua pátria na escalada autoritária e violenta que descambou na 2° Grande Guerra, mesmo tendo buscado um refúgio seguro no Brasil – veio viver na calma e bucólica Petrópolis – acabou desistindo.
Na sua última manifestação ao mundo, na “declaração” que deixou ao lado da cama onde ele e sua mulher, Lotte, consumaram o suicídio, pode-se ler:
“Saúdo a todos os meus amigos. Que lhes seja dado ver a aurora desta longa noite. Eu, demasiado impaciente, vou-me antes.”
Stefan Zwieg tinha 60 anos de idade, deixou o mundo em 22 de fevereiro de 1941.
Era um dos grandes homens de letras do seu tempo. Nas décadas de 1920/30, seus títulos publicados na Europa e nos Estados Unidos somavam milhões de exemplares e ele se tornou o escritor mais lido do mundo.
Poderia ter sido um pouco mais paciente.
Horrorizado com a guerra que devastava a Europa, onde tinha suas profundas raízes, perdeu a esperança. Tivesse resistido apenas um pouco mais tinha visto a derrota do autoritarismo, da violência, da barbárie nazi-fascista. Apenas dois anos após a sua morte, em 02 de fevereiro de 1943, os soviéticos mudavam o rumo da guerra ao derrotar o poderoso exército alemão na batalha de Stalingrado, abrindo caminho para a derrota final do III Reich.
Às vezes é preciso paciência.
Claudio Guedes é empresário e professor