Aldeia Nagô
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Sinceridade bilionária por Paulo Moreira Leite

3 - 4 minutos de leituraModo Leitura

Todo país gosta de um bilionário falastrão e corajoso, capaz, de vez em
quando, de se colocar acima de seus interesses pessoais e dizer verdades
que todos precisam ouvir.


Os Estados Unidos atravessam uma fase
de estagnação econômica e desmoralização política, quando um presidente
eleito em nome de mudanças não pára de capitular diante de adversários
ultra-conservadores.

Mas os EUA podem festejar a intervenção de um bilionário como Warren Buffett.

Ontem,
no New York Times, Buffet publicou um artigo precioso pela disposição
de reconhecer uma injustiça que beneficia os muito ricos e bilionários
da América.  Referindo-se ao acordo entre Barack Obama e os
republicanos, o bilionário faz uma observação precisa:

"Nossos
representantes falam em ‘dividir o sacrifício.’ Mas na hora de fazer o
combinado, me  pouparam. Conferi como meus amigos mega-ricos para saber
qual sofrimento eles esperavam. Eles também não foram atingidos."

Dono
daquela que já foi a segunda maior fortuna do planeta, estimada em 50
bilhões de dólares, Buffett é um dos heróis da livre iniciativa
americana. Costumava ser comparado a Bill Gates e tornou-se um desses
personagens obrigatórios em reportagens economicas e mesmo em programas
de auto-ajuda para o cidadão comum. Seu pronunciamento tem a
credibilidade daquelas pessoas que assumem posições que contrariam os
próprios interesses.

Ele diz que paga poucos impostos e defende
que o Congresso aumente a tributação de pessoas como ele.  Sem jamais
abandonar os princípios da economia capitalista, o argumento inclui uma
certa visão de justiça social:

"Enquanto os pobres e a classe
média lutam por nós no Afeganistão, nós, mega-ricos tiramos proveito de
grandes isenções fiscais," escreveu.

Falando de sua última
declaração ao fisco americano, Buffet lembra que o sistema é tão injusto
que lhe permite pagar – em termos relativos – menos impostos do que
seus empregados.

Ele escreve que deixou US$ 6,9 milhões nos
cofres do governo.  "Até parece grande coisa," observa, para esclarecer
que só pagou o equivalente a 17,4% de seus ganhos, a mais baixa
porcentagem entre os 20 funcionários de seu escritório. "A carga
tributária que eles pagam varia de 33% a 41%, sendo que na média fica em
36%."

Essa curiosa situação em que um empresário paga, como
pessoa física, menos imposto do que seus funcionários, é produto de uma
legislação criada nas últimas decadas, que oferece imensas oportunidades
para grandes investidores cairem para alíquotas mais baixas, em
ginásticas tributarias que incluem lances de esperteza e até de má fé.
Este período foi iniciado com o governo de Ronad Reagan, que realizou
cortes profundos na previdência social e no imposto de renda das camadas
mais altas.

Buffett  bate duro na mitologia dos fanáticos de
mercado, que gostam de dizer que a queda nos impostos ajuda a estimular
os investimentos. Tudo fantasia, explica, com o testemunho  de quem fez
grandes investimentos antes da década de 80, num período em que os
impostos para ganhos de capital e investimentos financeiros eram muito
mais altos.

"Eu trabalhei com investidores por 60 anos e ainda
não conheci ninguém – nem mesmo quando os impostos sobre ganhos de
capital eram de 39,9%, entre 1976 e 1977 -que deixou de fazer um negócio
por causa dos impostos. As pessoas investem para ganhar dinheiro e
nunca ficaram amedrontadas em função dos impostos que iriam pagar."

Quando fala de empregos, Buffet é simples e direto:
"Para
aqueles que argumentam que alíquotas altas dificultam a criação de
empregos, eu poderia notar que perto de 40 milhões de postos de trabalho
foram criados entre 1980 e 2000. Você sabe o que aconteceu depois
disse: alíquotas mais baixas e criação de empregos ainda mais baixa."

Pegue o link para ler o artigo na íntegra

http://www.nytimes.com/2011/08/15/opinion/stop-coddling-the-super-rich.html?src=ISMR_AP_LO_MST_FB

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