Sistema cicloviário com urgência
Em meio à crise de mobilidade urbana gerada
pelo excessivo
número de automóveis, reduzida expansão de vias, insuficiência e má
qualidade do
transporte coletivo, e diante da exclusão de parcela significativa de
pessoas de
baixa renda, sem disponibilidade para pagar a tarifa de ônibus, é
urgente a
implantação de um sistema cicloviário em Salvador e
macrorregião.
Governo e Prefeitura dispõem de projetos nesse sentido, mas
não demonstram, ainda, a vontade política necessária para contemplar 47% da
população que andam a pé ,ou (7%) de bicicleta, pelo menos meio quilômetro
diariamente, conforme pesquisa da Associação Nacional de Transportes Públicos.
A infraestrutura necessária à implantação de um sistema
cicloviário é a que dispende menor custo, pelo poder público, em relação a
qualquer outro sistema de transporte. Em tempos de economicidade, a bicicleta
conta com fatores importantes como preço, baixa manutenção, consumo zero de
combustível e nenhuma emissão de poluentes, além de possibilitar exercício
físico com ganho para a saúde do usuário.
A "magrela" é sete vezes mais eficiente que o automóvel. Ou
seja, a circulação de carros, por hora, numa faixa de tráfego, comporta 2 mil
pessoas; por ônibus, 9 mil; enquanto de bicicletas permite 14 mil pessoas. Não
há dúvida que a bicicleta representa uma solução fundamental para o transporte
nas cidades. Seja por garantir o direito de ir e vir, seja por liberar a
população carente da exclusão territorial e para práticas sócioespaciais
ampliadas.
Iniciativas nesse sentido têm sido adotadas com êxito em
diversas capitais brasileiras, e em inúmeras cidades em âmbito mundial, mas
Salvador permanece na contramão desse processo. Com 2,8 milhões de habitantes, a
cidade dispõe de cerca de 16 km de ciclovias destinadas ao uso da bike, em
caráter meramente de lazer. E apenas uma ciclofaixa inferior a um quilômetro de
extensão. Aracaju, com 520 mil habitantes, tem 80 km; Curitiba, 120 km para uma
população de 1,8 milhão. O Rio de Janeiro, 180 km, para 6 milhões de moradores.
Mesmo com equívocos no traçado dos acessos, São Paulo inaugurou, esse ano,
ciclovia com 14 km paralelos às linhas de trens
metropolitanos.
Não se trata meramente de pintar ciclofaixas e ciclovias,
mas de dotar o equipamento e seu usuário de um completo plano de mobilidade, com
bicicletários e implantação de circuitos especiais, principais e secundários. O
sistema requer logística específica e gestão (pública, privada ou mista) que
envolvam campanhas de conscientização e proteção, além do estímulo à cadeia de
produção e comercialização, incluídos serviços de manutenção e locação.
Há estimativa de 20 mil usuários e dezenas de grupos de
passeio organizados, em Salvador, segundo a Associação de Bicicleteiros da
Bahia. Para a associação, é preciso haver ciclovias em, no mínimo, três trechos
da cidade: São Cristovão/Iguatemi, Iguatemi/Estação da Lapa e Calçada/Paripe.
Há, ainda, toda a área plana da Península Itapagipana. O ciclista não é um
obstáculo nas vias, faz parte do transito, está inserido na legislação. A ele
não está conectado apenas o veículo em si, mas um conjunto de acessórios que
envolvem equipamentos especiais das indústrias de calçados (tênis), viseiras,
luvas, capacete, além de inúmeros adereços para turbinar a
bike.
Circulando por ruas, avenidas, bairros e rodovias, mas sem
contar com a educação para o transito e um planejamento cicloviário, estão
expostos a acidentes na guerra insana do tráfego, com estatística crescente e
proporcional à ampliação do número de usuários. Dados de 2008 apontam a
ocorrência de 364 acidentes com 16 mortes.
A circulação de bicicletas, em condições de segurança e
maior comodidade, para amplo contingente de trabalhadores, é importantíssima nas
ligações intermodais. A transversalidade de um sistema cicloviário demonstra
inúmeras interfaces. Desde a mobilidade e inclusão territorial à ampliação do
universo de utilização e dos calendários desportivo e turístico; estímulo ao
empreendedorismo; melhorias na condição de saúde do cidadão; ampliação da
consciência ecológica. Tudo isso pode proporcionar, sem dúvida, o advento de uma
radical renovação da cultura urbana. Frente à Copa e à Olimpíada, o que falta
mesmo?
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Albenísio Fonseca
é jornalista
71 9912-5961
albenisio@yahoo.com.br