Sobre a cobertura de Lula em Israel por Luis Nassif
Nos últimos anos, Guila Flint tornou-se conhecida como
respeitada correspondente em Israel pela BBC Brasil. Na viagem de Lula a
Israel,
coube a Guila o momento mais curioso. Com praticamente toda a cobertura
falando
em vexames, em erros de Lula, Guila passou uma informação até então
inédita: a
viagem tinha sido um sucesso.Por todo esse impacto da viagem, Guila
estranhou a
cobertura dada por correspondentes brasileiros à visita. Assim como tem
estranhado a cobertura dada ao país. O artigo é de Luis Nassif.
Guila Flint é brasileira, filha de judeus poloneses e
mora desde 1969 em Israel – para onde se mudou menor de idade. Nos últimos anos
tornou-se conhecida como respeitada correspondente em Israel pela BBC Brasil.
Frequentemente passa boletins para a BBC Brasil e para a CBN.
Na viagem
de Lula a Israel, coube a Guila o momento mais curioso. Com praticamente toda a
cobertura falando em vexames, em erros de Lula, Guila passou uma informação até
então inédita: a viagem tinha sido um sucesso.
De férias por aqui, Guila
considera que o Brasil conseguiu uma relevância única na região. Passou a ter
uma dimensão similar ao das grandes potências e a ser visto efetivamente como
fator de conciliação.
Em parte, se deve ao carisma de Lula. Na visita a
Jerusalem, o trajeto até a embaixada estava coberto por bandeiras brasileiras –
algo inédito na visita de governantes estrangeiros.
O mais respeitado
jornal israelense, o Haaretz, dedicou cinco páginas a Lula, dois no caderno
principal – onde foi chamado de "profeta do diálogo" -, dois no caderno
econômico, com ampla cobertura sobre a economia brasileira.
Parte
relevante desse sucesso se deveu ao trabalho do Itamarati, diz Guila. Antes da
visita, o chanceler Celso Amorim esteve várias vezes em Israel explicando a
posição do Brasil, principalmente depois de ter abrigado uma reunião da Cúpula
Árabe.
Na visita a Lula, houve a preocupação de um absoluto equilíbrio
entre Israel e Palestina. Em geral, governantes ficam em Israel e fazem uma
breve visita à Palestina. Lula ficou um dia e meio em cada parte, hospedou-se em
um hotel nos dois lados.
Do lado israelense, colocou flores no monumento
ao Holocausto e no túmulo do soldado desconhecido. Recusou a armadilha de
colocar flores no túmulo do fundador do Estado de Israel, Theodor Herzi, por não
constar do roteiro original negociado entre as duas chancelarias. "Era uma
armadilha do chanceler israelense", diz Guila. "que achava que podia dar um
passa-moleque em um país de botocudos. E acabou quebrando a cara".
Do
lado palestino, Lula colocou flores no túmulo de Arafat. A isonomia de
tratamento evitou desgastes de lado a lado. "Na Palestina, Lula é visto quase
como um libertador", conta Guila. "A ponto de inaugurarem uma Rua do Brasil em
frente o cemitério onde está Arafat".
Por todo esse impacto da viagem,
Guila estranhou a cobertura dada por correspondentes brasileiros à visita. Assim
como tem estranhado a cobertura dada ao país. "Em todos os grandes jornais
estrangeiros se percebe uma imensa aposta no Brasil, nas mudanças que estão
ocorrendo", diz ela. "Agora mesmo, em visita ao Brasil, percebi diferenças
enormes. Mas pelos grandes jornais, parece que o país está indo para
trás".
Embora todos os grandes jornais mundiais estejam passando por
crises variadas e a presença da Internet imponha mudanças, Guila considera que
por aqui o impacto das mudanças foi maior. Talvez devido à excessiva politização
da cobertura.
Artigo publicado originalmente em
http://www.advivo.com.br/luisnassif/