Surpresa anunciada por Marcos Coimbra
Engana-se quem pensa que
tudo está parado, aguardando a Copa do Mundo. Assim como quem acha que
Dilma
"deu a virada" com a mídia partidária do PT e que Serra devolverá a
ultrapassagem quando tiver a do PSDB. O que houve foi apenas mais um
passo no
caminho que o eleitorado está percorrendo faz tempo
Aconteceu. Depois de meses
de expectativa, finalmente Dilma Rousseff apareceu à frente de José
Serra em uma
pesquisa de intenção de voto. Na verdade, em duas.
Uma foi feita pela Vox
Populi e divulgada no fim de semana. A outra, de responsabilidade da
Sensus,
saiu na segunda-feira. Com intervalo de dias, elas mostraram a mesma
coisa.
Os resultados chegam a ser,
em muitos casos, idênticos. No voto espontâneo, a Vox aponta 19% para
Dilma e
15% para Serra, ficando Marina com 2%. Na Sensus, Dilma tem 19,8%, Serra
14,4% e
Marina 2%. No estimulado, segundo a Vox, na lista com 11 pré-candidatos,
Dilma
tem 37%, Serra 34% e Marina 7%. Em cenário análogo da Sensus, a
ex-ministra fica
com 35,7%, o ex-governador com 33,2% e a senadora com
7,3%.
Há uma única discrepância
relevante entre as pesquisas, que ocorre quando a pergunta estimulada é
feita
utilizando lista reduzida, com apenas as três candidaturas principais.
Na Vox,
Dilma mantém a dianteira, com 38%, contra 35% para Serra, enquanto que,
na
Sensus, o tucano passa a ter 37,7% e Dilma 37%. As duas são iguais,
levando em
conta as margens de erro, mas a diferença deve ser
considerada.
A rigor, ambas indicam que
o quadro de "empate técnico" entre as candidaturas do PSDB e do PT está
mantido.
Desde o fim de março, as pesquisas dos dois institutos vêm dizendo a
mesma
coisa, no que se assemelham às do Ibope. Agora, o empate permanece, mas
com
posições invertidas. O que quer dizer muito na política, pois liderar,
mesmo que
com vantagem pequena, é liderar. E estar em segundo lugar é sempre pior
que em
primeiro.
Foram resultados
inteiramente previsíveis para quem acompanha as pesquisas e procura
entendê-las.
Não há nada de abrupto ou surpreendente neles.
Estas eleições começaram
cedo no meio político e entre pessoas muito politizadas, mas só chegaram
à
opinião pública mais ampla no fim de 2009, início de 2010. Nas pesquisas
da Vox
Populi, por exemplo, Serra tinha 6% de intenção espontânea em maio de
2008, há
dois anos, e ficou com 7% em novembro de 2009, o que quer dizer que
permaneceu
no mesmo lugar durante um ano meio. Nesse período, Dilma foi de 2% a 5%.
Nos
três meses de janeiro para cá, no entanto, ele passou de 9% a 15% e ela
de 5% a
19%. A soma do voto espontâneo dos dois, que era de 12 pontos em
novembro, quase
triplicou nos seis meses seguintes, alcançando 34% agora.
Essa intensificação do
ritmo de formação de intenções de voto tem sido mais favorável a Dilma.
Nos
dados da Vox para o voto estimulado, Serra tinha 42% em novembro e 35%
agora.
Enquanto isso, Dilma foi de 26% a 38%. Ou seja, houve uma mexida de 19
pontos
(entre o que ele perdeu e ela ganhou) em favor da candidata do
PT.
Se considerarmos os
resultados de todos os institutos, não vemos, de janeiro a meados de
maio,
nenhum dos fenômenos de sobe e desce que marcaram eleições como a de
2002.
Sequer a saída de Ciro Gomes, que muitos imaginavam que poderia causar
impacto
maior, provocou terremotos, por pequenos que fossem.
As coisas estão indo,
devagar e sempre, no andar que um general de antigamente chamava lento,
gradual
e seguro: Dilma crescendo aos poucos, Serra caindo aos poucos, Marina no
mesmo
lugar.
Engana-se quem pensa que
tudo está parado, aguardando a Copa do Mundo. Assim como quem acha que
Dilma
"deu a virada" com a mídia partidária do PT e que Serra devolverá a
ultrapassagem quando tiver a do PSDB. O que houve foi apenas mais um
passo no
caminho que o eleitorado está percorrendo faz tempo.
É o que as eleições
marcadas pelo desejo de continuidade sempre trilham. Menos
sobressaltado, menos
cheio de emoções. Nelas, à medida que a ideia vai encontrando seu rosto,
a
decisão vai se tornando mais fácil para a maioria dos
eleitores.
Artigo
publicado originalmente no Correio Braziliense –
19/05/2010