Pela primeira vez em Salvador, um grupo de amigos, que são jovens artistas e ativistas negros, se reúne e organiza um festival totalmente dedicado à cultura negra, ressaltando principalmente o protagonismo das mulheres. É o Ubuntu – Festival de Negras Artes, que vai do dia 23 ao dia 26 de novembro, com sessão especial dia 04 de dezembro, envolvendo trabalhos que promovem visibilidade sobre a realidade e cultura negras.
Além de três espetáculos teatrais e um recital poético-musical, de quarta a sábado às 19h, o Festival traz também um show musical no encerramento, domingo dia 04 de dezembro, às 17h, com uma banda formada só por mulheres, a Verona’s.
Nomes como Mônica Santana (vencedora do Prêmio Braskem por Isto Não é uma Mulata), Naira da Hora, Shirlei Sanjeva, Vera Lopes, Sanara Rocha e Verona Reis, estarão no palco representando a beleza, a força e o talento artístico das mulheres negras de Salvador.
1° DIA : Eles não Sabem de Nada - Naira da Hora e Shirlei Sanjeva 23/11 (quarta) - 19h Para abrir o Festival, o espetáculo que estreou no Gamboa Nova com grande sucesso e mostra duas mulheres negras, independentes, militantes, empoderadas, cercadas de um senso de humor relativamente tendencioso. Com direção de Leno Sacramento, as atrizes prometem arrancar boas gargalhadas e reflexões do público, através da invasão do universo masculinizado em que vivemos, gerando conversas que mostram o quão ridícula e perigosa é a postura machista que o mundo insiste em cultuar. Um humor inteligente, poético, político e social, explorado por duas mulheres negras numa mesa de bar.
2° DIA : Quadros - Vera Lopes 24/11 (quinta) - 19h O recital poético musical dialoga com a vida e a obra da escritora mineira Carolina Maria de Jesus, que na década de 60 ficou nacional e internacionalmente conhecida por sua obra “Quarto de despejo – diário de uma favelada”, escrevendo também diversas obras e poemas fortes que servem de inspiração para o universo feminino do trabalho. Na equipe Emillie Lapa, Maurício Lourenço e Jessé Oliveira, artistas que, junto com a intérprete e pesquisadora Vera Lopes, garantem que o espetáculo abranja diversas manifestações artístico-culturais, como as artes cênicas, visuais, música e literatura. De forma lúdica, faz um convite ao público a mergulhar pelos caminhos da escrita nas mais possíveis vertentes, estimulando o conhecimento da obra da escritora. Segundo Vera Lopes, o recital transita entre a descoberta da solidão e a necessidade de se fazer forte para enfrentar e vencer as diversas fomes que caracterizam sua vida: do saber, do amor, de viver com dignidade.
3° DIA : Isto não é uma Mulata - Mônica Santana 25/11 (sexta) - 19h Vencedor do Prêmio Braskem de Teatro 2015, na categoria Revelação, o solo teatral Isto Não É Uma Mulata é uma obra que provoca reflexões sobre a representação da mulher negra, além de apontar as fragilidades do mito da democracia racial brasileira, com ironia e humor. Com criação e atuação de Monica Santana, a obra ganhou ressonância na cena teatral de Salvador por trazer uma perspectiva de discussão sobre as questões raciais, com uma linguagem aproximada com a performance, mas também incorporando elementos de cultura pop, ironia, depoimento pessoal e apontamentos de teatro épico. Partindo da famosa frase proferida por Gilberto Freyre “Branca para casar. Mulata para fornicar. Negra para trabalhar”, a artista Mônica Santana tece obras que questionam as formas de representação da mulher negra: seja a mestiça hipersexualizada, de formas exuberantes e sempre disponível para o sexo, seja a negra escura para o serviço braçal. É com o ponto de partida de ironizar a imagem canonizada da mulher negra nas artes e na mídia, visitando diferentes referências e criando novos discursos que a performer. O projeto conta com a produção da Gameleira Artes Integradas e traz a direção musical de André Oliveira, figurinos de Cássio Caiazzo, soluções cenográficas de Deilton José, maquiagem de Nayara Homem e iluminação de Luiz Guimarães.
4° DIA : Antônia - Sanara Rocha 26/11 (sábado) - 19h O espetáculo teatral aborda a violência contra a juventude negra brasileira, livremente inspirado na obra Antígona, de Sófocles. É um protesto poético, com recursos dramáticos e de encenação épicos, para contar a história de Antônia, uma mulher negra que se manifesta de forma estratégica para reaver o corpo desaparecido de um dos seus irmãos durante uma operação policial e fazer justiça quanto a sua inocência. Durante a sua luta Antônia questiona a permanência de um sistema que institucionaliza a violência contra a população negra contribuindo assim com o seu extermínio. A concepção artística e direção geral e musical são de Sanara Rocha, a assistência de Antônio Marcelo e a dramaturgia original assinada por Daniel Arcades. No elenco Andreia Fábia, Diego Alcântara, Felipe Dias, Jamile Alves e Shirlei Sanjeva. Ainda na equipe Thiago Romero (figurino emaquiagem), Edeise Gomes (coreografia), Wellington Rosário (adereços), Diego Alcântara (musicista), Thom Galiano (designer gráfico), Andreia Fábia (produção executiva) e Vanessa Damásio (produção/assessoria) |