Um Homem é Homem por Antonio Godi
No
domingo, 4 de abril a Revista Muito desse jornal teve como capa: O
"Alemão da
Bahia".
Congratulações a todos da equipe pela execução responsável e importante
da pauta. Ressaltando um homem que aportou na Bahia sem se deixar assombrar pelas
ameaças e as chamas tantas da guerra fria. Um homem que aqui chegou e
constituiu família e cultura diversificada. Um alemão que dialogou com a
alteridade a ponto de contribuir decisivamente para a construção da importante
cultura soteropolitana de fins do século XX.
Em minha juventude assisti "Um
Homem é um Homem" de B. Brecht sob direção de João Neves no Instituto Cultural
Brasil-Alemanha administrado pelo alemão Roland Schaffner. No ICBA tive contato
tanto com o surgimento do cinema europeu e norte-americano quanto das artes
emergentes locais e internacionais. Lá, encontrava amigos e visitava a pequena
mas poderosa biblioteca do instituto com um acervo seleto e diferenciado sobre
arte, filosofia e cultura. Ali parte de minha geração construiu política,
cultura e humanidade militante.
Em
1977 o Grupo de Teatro Palmares Ynãron estreiou no ICBA com o espetáculo
"Estórias Brasileiras". Colocando na mesa de nossas reflexões uma estética
étnica diferenciada onde para além dos colonizadores, índios, negros e
sertanejos viram protagonistas. Inusitadamente, também o ICBA passaria a ser
uma referência determinante para a instituição do Dia da Consciência Negra. Foi
lá que realizamos a Segunda Executiva Nacional do MNU. O evento deveria ser
realizado na Associação dos Funcionários Públicos em meados de 1979.
Entretanto
fomos perseguidos e proibidos pela ditadura militar. Que ocupou a AFP e nos
obrigou a sair de mãos dadas da Avenida Carlos Gomes na direção de uma ilha
segura, o ICBA. Lá, votamos definitivamente a proposta de criação do "Dia da
consciência Negra". Sugestão da inesquecível socióloga Lélia Gonzáles proposta
na Primeira Executiva Nacional do MNU no IPCN no Rio de Janeiro.
Um homem é um
homem para além de sua cor e origem. Obrigado, Schaffner! Hoje, diante da
inoperância e vacância da Fundação Cultural Gregório de Mattos. Com breves
saudades das ações positivas e relevantes do ex-gestor Paulo Lima. Fico a
sonhar que "um alemão da Bahia" poderia vir a gestar a cultura soteropolitana.