Uma armadilha para Sergio Moro, por Moisés Mendes
O jornalismo de direita comete um erro grave, quase infantil, ao tentar induzir Sergio Moro a pensar que não há outra saída que não seja prender Lula.
A estratégia é precária, porque constrange o juiz. Moro sabe que se transformou em ídolo dos golpistas. É dado estatístico que quase todos os seus gestos (inclusive fotos e presença em eventos) acabam por atender as demandas dessa turma.
Mas o juiz, que tanto valoriza a comunicação com a população, também sabe que seus atos não podem ser vistos como gestos inspirados no ativismo da direita na imprensa. Um juiz não pode ser guru da direita mais reacionária, em lugar algum.
Prender Lula é o desejo primitivo de quem bateu panelas, apoiou o golpe de agosto e viu a quadrilha do Jaburu apropriar-se do poder. E está vendo agora a destruição dos seus ídolos tucanos Aécio, Serra e Alckmin. E verá mais adiante que não terá nem Previdência nem leis trabalhistas. E que seu guru passa a ser Doria Júnior e que um dia poderá vir a ser Luciano Huck.
Essa gente deprimida, que já andou de braços dados com Bolsonaro, não pode acreditar que orienta a missão do Judiciário na Lava-Jato.
Moro não tem o direito de cometer novas barbeiragens. Duas delas, em circunstâncias normais, teriam avariado seriamente sua carreira: o grampo da conversa de Dilma com Lula, depois entregue à Globo, e a condução coercitiva de Lula.
Prender Lula agora, sem provas, não seria apenas mais uma barbeiragem. Poderá ser um dos maiores erros já cometidos pela Justiça, com consequências políticas imprevisíveis.
Os jornalistas de direita, que babam pedindo a prisão de Lula, os patos sonegadores da Fiesp e os batedores de panela atormentados pelos estragos do golpe que eles mesmos patrocinaram não podem ter a ambição de orientar a conduta de Sergio Moro.
E o juiz sabe que os brasileiros não podem ser induzidos por esta direita abusada ao equívoco de achar que os golpistas pedem e ganham tudo da força-tarefa da Lava-Jato em Curitiba
Um juiz com a missão de Sergio Moro não é alguém tomando decisões em uma ilha, alheio às ansiedades e expectativas de um país inteiro. Um juiz indiferente ao que se passa ao seu redor, nessas circunstâncias, pode cometer falhas brutais.
Se um juiz ignora seu contexto, ou se acha que seu talento e seu marketing pessoal são infalíveis, que Themis, a deusa da Justiça, o proteja.
Moisés Mendes é jornalista desde os 17 anos. Em 1970, começou como repórter (e depois foi editor) da Gazeta de Alegrete, jornal criado em 1882 por Luís de Freitas Vale, o Barão do Ibirocay, com a missão de combater a escravidão.
Artigo publicado originalmente em http://www.blogdomoisesmendes.com.br/uma-armadilha-para-sergio-moro/