Uma Nova Forma de Ler e Escrever por Paulo Henrique Almeida
A revista Wired (http://www.wired.
New Literacy. Não consigo achar um sinônimo, vou de "A Nova Capacidade de
Ler e Escrever". O artigo trata de uma pesquisa realizada por Andrea
Lunsford, professora de redação e retórica na Universidade de Stanford (http://www.stanford
Thompson retoma a questão que
atormenta minha geração de professores: será que Facebook, Power-Point, Google
etc. estão anunciando numa nova "era de quase analfabetismo"
de iletrados em massa? O que esperar dessa "desidadrataçã
linguagem que a garotada pratica nos twiters, msn e sms da vida?
Lunsford estudou, entre 2001 e 2006,
14.672 amostras de textos de estudantes de Stanford. Qualquer tipo de texto:
emails, exercícios em sala, postagens em blogs, chats etc. Conclusão: longe de
estar matando nossa capacidade de escrita, a tecnologia está revivendo a
capacidade de redigir. Trata-se, segundo Lunsford, de uma revolução
litérária que não se vê desde a civilização grega.
Primeiro: os jovens escrevem hoje
muito mais do que as pessoas de quaisquer das gerações anteriores. (Agora
tenho pelo menos uma pesquisa empírica a sustentar meu ponto!).
Segundo: quase 40% do texto
produzido por eles é produzido fora da sala de aula! Um dado mais que
importante. Antes da Internet, a maioria dos americanos (e dos brasileiros) não
escrevia quase nada fora da sala de aula. A exceção estava naqueles que
exerciam profissões que exigiam a redação: advogados, jornalistas ou
publicitários. A maioria saía da escola e não escrevia nem cartas. Nem
telegramas.
Terceiro: a nova explosão da prosa é
boa tecnicamente? Sim, responde Lunsford, porque ela tem KAIROS.
Por Kairos, os gregos entendiam
"o tempo da ocasião oportuna". Mas, em retórica, kairos é também
o princípio que governa a escolha das palavras e do estilo na argumentação, o
momento de chamar a atenção do público, a forma, o conjunto de métodos
necessários à persuassão. É como se, alavancados pela tecnologia, estivéssemos
todos nos transformando em filósofos gregos, praticando, numa academia ou
symposium ampliado, a arte da argumentação. O que nos obriga, mais uma
vez, a associar a Internet ao conceito marxista de intelecto geral… mas
voltemos ao artigo de Thompson.
Quarto: Lunsdorf mostra que a
garotada escreve para uma audiência. Isso modifica o sentido do que constitui
um "bom texto". Bom texto é aquele que organiza o debate, persuade,
convence. O que nos leva ao significado da Internet para a radicalização da
democracia..
Quinto: isso leva os jovens a
perderem o interesse pela redação em sala de aula – para que escrever para um
só indivíduo, o professor? Só para ganhar uma nota?
Sexto: isso não significa dizer que
os meninos de Stanford não consigam distinguir as duas esferas. Os textos
"acadêmicos" continuam sendo feitos em prosa acadêmica, careta,
conforme às normas… para conseguir a nota…
Sétimo: mas o texto extra-classe
leva a garotada à uma coisa fundamental – à concisão. Ah, que coisa maravilhosa!
Quem é vítima daqueles chatos que não conseguem entender que esta é outra mídia
sabe do que estou falando. A arte da síntese. Seja preciso, claro e breve!
Não serei aqui. Conversava outro dia
com uma escritora, lá para os seus 60 e alguma coisa, sobre a onda dos
"pockets". Não falo daqueles livros de bolso que minha geração
conheceu. Falo dos ultra pockets de hoje, tipo "Freud em 15
minutos". Tipo "Glauber Rocha em 15 minutos de vídeo". Ou Romeu
e Julieta no twiter, em 12 capítulos de 120 toques. "O horror",
concordou a ilustre senhora. Mas, pensando bem. E se milhões tiverem contato
com o pocket? Algumas dezenas ou centenas de milhares não terão o
interesse despertado para a versão integral ou original?
Oitavo: Lunsdorf comprova, por fim,
que a garotada pode produzir textos incrivelmente longos. Sobretudo, quando
trabalha ou se diverte coletivamente, nos blogs ou listas de discussão – não
resisto: de novo, o intelecto geral, a inteligência coletiva…
Fecho do artigo de Thompson:
"O que a juventude de hoje sabe
é que saber para quem você está escrevendo e porque você está escrevendo pode
ser o fator mais crucial de todos".
Paulo Henrique é Economista e Professor da UFBA.