Vai abraçar árvores agora? Por Walter Takemoto
Hoje de manhã participei, como já tinha feito anteriormente, de uma manifestação contra o BRT do ACM Neto. E logo após encontrei com um amigo e a primeira pegunta que ele me fez foi:
– Abraçou muitas árvores hoje?
Era uma piada desse amigo, mas me fez lembrar de umas matérias que a imprensa do ACM Neto fez sobre mim em 2013/2014 dizendo que eu tinha carro, moto Harley Davidson e viajava para Paris, portanto o que é que eu fazia protestando contra o aumento das tarifas de ônibus ou a licitação do transporte coletivo de Salvador?
Tem uma frase do dramaturgo Terêncio que considero emblemática para todos e todas:
– Nada do que é humano me é estranho
Me importa, e deveria importar a todos, que quase 40% da população de Salvador anda a pé por não ter como pagar a tarifa do transporte coletivo, e que 25% desses sofrem algum acidente ortopédico causado pelas péssimas condições das ruas e calçadas da cidade.
Deveria importar a todos, e não apenas aos ambientalistas e moradores da privilegiada região em que o ACM Neto quer construir seu elefante branco, que mais de 500 árvores serão cortadas, e que esse BRT irá tornar Salvador ainda mais excludente, enquanto empreiteiras ganharão dezenas de milhões que poderiam ir para a educação e a saúde, abandonadas pelo prefeito.
Lutar contra esse BRT é lutar por uma cidade para todos, principalmente para aqueles que moram na maior parte da cidade e que é esquecida pelo poder público.
Se parte dos que estão participando dessas manifestações são moradores do Itaigara, do Horto, Cidade Jardim, que não se manifestaram contra a retirada de direitos sociais e trabalhistas, são eleitores do ACM Neto, importa que agora estão indo às ruas por uma causa justa, e estão lá para escutar o que temos a dizer, seja sobre as 579 árvores, o BRT, ou o que ACM Neto vem fazendo em Salvador, tornando-a uma cidade que segrega e aprofunda a exclusão social. Se parte deles começarem a compreender que o que acontece em Paripe, no Nordeste de Amaralina, em Cajazeiras, também os afeta, então a luta vale a pena.
Da minha parte vou continuar indo lá, pois sou humano e nada do que é humano me é estranho.
Walter Takemoto é educador