Aldeia Nagô
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Veja, Recôncavo, Sertão e UFRB por Emiliano José

5 - 7 minutos de leituraModo Leitura

O pensamento conservador, à falta de argumentos mais consistentes para
criticar
empreendimentos que melhoram a vida do povo, busca sempre dizer que
aquilo
poderia ser muito melhor e já que não é melhor significa que não presta.

É
assim que age a revista Veja quando se refere ao extraordinário
crescimento do
ensino superior que vem ocorrendo sob o governo Lula, que já conseguiu
inaugurar
14 novas universidades federais.


Como não há como contestar esse crescimento,
como não há como comparar o governo Lula com o de Fernando Henrique Cardoso,
então se trata de tentar desqualificar o que vem sendo feito. Foi o que fez a
revista no exemplar de 7 de abril, numa matéria inconsistente, com um evidente
viés ideológico, com um claríssimo objetivo político. É a campanha de Serra em
pleno desenvolvimento, sacando-se, para isso, das aparentes armas objetivas do
jornalismo.

De modo particular, quero me referir ao ataque sofrido pela
Universidade Federal do Recôncavo. Soube que o repórter, ao entrevistar o reitor
Paulo Gabriel, chegou a perguntar-lhe se ele achava que se justificava uma
universidade no Sertão. É, no sertão. O repórter não sabia distinguir o
Recôncavo Baiano, de tantas e magníficas histórias, um dos berços do País, do
Sertão Baiano, também palco da construção do Brasil. A pergunta revelou
ignorância e preconceito. Quem disse que uma universidade no Sertão não se
justificaria? E por que não no Recôncavo? É o pensamento de nossa elite, com os
olhos postados exclusivamente no Centro-Sul, que faz com que repórteres
raciocinem assim, de modo tão preconceituoso. Criação de universidades no
Nordeste não cabe.

Era assim que pensava a oligarquia baiana também. Durante
décadas, orgulhava-se de o Estado contar com apenas uma instituição de ensino
superior, a Universidade Federal da Bahia. Foi preciso chegarmos ao governo
Lula, ao presidente operário, para que começássemos a valorizar efetivamente o
ensino público superior e para, no caso da Bahia, superarmos a triste condição
de contarmos somente com a UFBA.
O presidente-professor, FHC, não deu a
mínima para a educação no País, e estava se lixando para a universidade pública.
Disso, a Veja não fala. Insinua que seria muito melhor subsidiar as faculdades
particulares do que criar novas universidades públicas, que só envolveria, na
opinião de Veja, "altos gastos e baixa produtividade". O pensamento neoliberal
ali fez e faz escola. De cima a baixo.

A criação da Universidade Federal do
Recôncavo foi fruto de um impressionante movimento da sociedade civil de todos
os municípios da região. Assembléias e mais assembléias sacudiram o Recôncavo, e
ela se tornou uma realidade em 2005. Conta atualmente com 4.735 alunos na
Graduação, 36 alunos no Doutorado, 159 em cursos de Mestrado. São, portanto,
quase 5 mil alunos, e mais 435 professores, 552 servidores e 32 cursos até 30 de
março de 2010. E a UFRB tem participado ativamente do programa Todos Pela
Alfabetização (Topa), do governo da Bahia, formando mais de 2.200
alfabetizadores e coordenadores de turmas.

Uma pergunta inocente: não seria o
caso de o repórter se preocupar com esses dados, perguntar sobre eles, ao menos
informar os leitores sobre os números, mesmo que os distorcesse, como é da
rotina de Veja? Não, mas aí ficaria evidente o benefício que a UFRB traz à
população, ao Recôncavo, à Bahia, ao Brasil. E a pauta naturalmente não pedia
isso. Seguia a linha Ali Kamel, do teste de hipóteses. Não importa a realidade.
Importa o que a pauta pede. Os fatos que se danem.
 
O repórter não quer
saber de estudantes, de professores, de funcionários, do significado de tudo
isso para a população e para toda a região. Não quer porque é orientado para não
querer. Segue a pauta, tal e qual lhe foi entregue. Tem que provar a hipótese da
chefia.
E talvez coubesse outra pergunta inocente: e será que uma
instituição universitária como a UFRB surge assim do nada, de repente, se afirma
com a rapidez de uma fábrica, como uma linha de montagem? Claro que não. Quem
conhece uma instituição acadêmica sabe que ela tem que dar passos, às vezes não
tão rápidos, para se consolidar. Para criar uma cultura em torno dela. Mas, para
que perguntar isso, refletir sobre isso, se o importante é tentar desqualificar
aquilo que o governo Lula está fazendo?

Penso que a UFRB, nesses poucos anos
de existência, sob a direção do professor Paulo Gabriel, já conseguiu feitos
impensáveis, como os próprios números que adiantamos indicam. E não são apenas
aqueles números. A instituição está presente em Cruz das Almas, onde se localiza
a Reitoria, Amargosa, Santo Antonio de Jesus e Cachoeira, municípios que somados
totalizam quase 215 mil habitantes.

Chegará proximamente a Santo Amaro da
Purificação, por decisão do ministro Fernando Haddad, e depois a Nazaré das
Farinhas e Valença, que estavam originalmente no projeto da instituição. O
mínimo de sensibilidade indicaria o quanto foi importante para essa região da
Bahia a criação da UFRB. Mas, não. À Veja o que interessa é a campanha do Serra,
é desqualificar qualquer ação do governo Lula, e não importa que desonestamente,
e não importa que contrariando os padrões mais elementares do bom jornalismo.

Certamente, o repórter, seguindo a pauta, não queria saber qual o impacto
social, econômico, cultural que uma universidade traz a uma região. Sem exagero,
a UFRB está mudando o Recôncavo. Cruz das Almas foi a segunda cidade da Bahia
com maior saldo de empregos no primeiro quadrimestre de 2009, perdendo somente
para Salvador, e isso seguramente tem a ver com a presença da UFRB. Cachoeira
hoje é outra cidade, belíssima, com a impressionante recuperação de prédios
históricos decorrente da chegada da UFRB. A região ganhou dinamismo e
vitalidade. O comércio foi alavancado, o ramo de materiais de construção
cresceu. E universidade representa cultura. E educação. E o resgate do
sentimento do Recôncavo, aumento da auto-estima, identidade coletiva que se
afirma.

E a alegria da juventude, que não precisa viajar para outros rincões
para estudar. E há estudantes de vários cantos do País chegando à UFRB. Mas que
interesse tem Veja nisso? Nenhum. Quer apenas fazer campanha, não importa tenha
de mentir, escamotear, deixar o jornalismo de lado. Sorte que os estudantes, os
professores, os servidores, todo o Recôncavo, o orgulhoso Recôncavo de hoje,
sabem da importância da universidade, da UFRB que veio para ficar. Ela é bem
maior do que as mentiras e omissões de Veja.

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