2018, o que esperar? Por Cláudio Guedes
Acho, e já disse algumas vezes, que Alckmin é o único nome da direita, da centro-direita e dos liberais para o pleito de 2018. O governador de São Paulo é confiável à banca e aos grandes empresários. É um conservador jeitoso, manhoso.
Tem um problema sério que é sua identificação de raiz com o interior paulista, o que cria uma dificuldade enorme para a sua projeção como liderança nacional.
João Doria foi um balão de ensaio que, por ter no interior apenas ar deteriorado, e não gás nobre, se diluiu no céu turbulento da política. Doria até teria um lugar na política nacional, apesar de ser, na essência, apenas um neo-vivaldino no ambiente político, se fizesse a lição de casa: uma gestão apenas razoável na Prefeitura de São Paulo e marchasse ao lado de seu mentor partidário – o governador Alckmin – nas eleições do próximo ano como candidato ao governo do estado fortalecendo a campanha presidencial do tucano longevo. Ainda bem que, para o país, ele escolheu o pior caminho.
Os demais balões, Luciano Huck e Henrique Meirelles, são apenas fogos de artifício para a direita e os conservadores desviarem o noticiário da permanência, com tendência de alta, de Lula e do PT – ressurgido das cinzas – das manchetes políticas. São figuras públicas, vazias de conteúdo político, e que apenas teriam alguma chance em um ambiente de grande perturbação e descontrole. As coisas estão difíceis e complicadas no país, mas permanecemos distante do caos.
Jair Bolsonaro é um típico político de extrema-direita. Com um diferencial, quanto o comparamos a Marie Le Pen ou Nigel Farage – o líder do UKIP no Reino Unido -, pois não possui um partido forte e nacional na sua retaguarda e é, de longe, mais despreparado que ambos. Bolsonaro é medíocre, tosco, mesmo quando militar era um quadro inexpressivo. Acho que possui um teto, talvez abaixo dos 20%.
Lula, o ex-presidente extremamente popular, linchado pela classe-média alta, que possui enorme influência nas regiões metropolitanas do sul, sudeste e centro-oeste do país, e por parte da elite que controla a banca e as mídias, permanece como a maior referência política nacional. Tem um pouco mais de 1/3 do eleitorado, que é um v-zero excepcional para processos eleitorais democráticos em dois turnos. Entretanto sobre sua cabeça continua a vibrar a lâmina parcial da justiça, comandada por procuradores e juizes que buscam a notoriedade e os holofotes de uma mídia inebriada por justiçamentos.
Acho que o PT, que se comportou de forma pouco competente e, de forma muito objetiva, facilitou, com a sua inércia e incapacidade de reação, o trabalho dos golpistas e dos oportunistas que encurralaram e derrubaram o governo legitimo de Dilma Rousseff, continua fazendo uma leitura egocêntrica do momento político. Jogar todas as fichas em Lula e considerar que analisar, sondar, experimentar, qualquer outra alternativa para 2018, é golpear (sic) o direito que Lula possui de se apresentar como candidato, pode ser um erro de graves consequências.
Existe um cansaço evidente no país com a política. Fadiga que atravessa classe sociais, estudantes, trabalhadores e a elite intelectual. Nesse quadro, quem sair na frente com propostas de renovação, quem trouxer uma novidade real, com alguma consistência, à política, tenderá a ocupar um lugar precioso no futuro. Por que o PT e as centro-esquerdas não trabalham com essa evidência? Por que não começam, desde já, desde ontem, a trabalhar um nome alternativo a Lula?
Fez muito bem o PC do B ao pré-lançar a candidatura presidencial de sua jovem liderança, a gaúcha Manuela d’Ávila. Uma jornalista com boa formação e grande experiência política, um dos melhores quadros da geração dos anos 80. Qual o problema? Por que isso enfraqueceria o campo popular liderado por Lula e o PT? Que bobagem. Uma idiotice. As esquerda e a centro-esquerda no país não são homogêneas – e é bom que seja assim. Alianças se forjam e se constroem na luta, na rinha, nos espaços abertos e democráticos da luta pela hegemonia.
Faria muito bem o PT em trabalhar de forma objetiva um sucessor de Lula, alguém da linha de frente do partido, uma jovem liderança que pudesse voltar a empolgar a juventude e os não tão jovens – os que nasceram nos anos 80 e 90 e que hoje se desencantam mais e mais com a política.
Um nome que, no meu modesto entender, possui todas as qualificações para tanto é o do ex-prefeito paulista e ex-ministro da Educação, Fernando Haddad. É preciso valorizar um quadro da qualidade de Haddad, pois são raros, aparecem uma ou duas vezes numa geração. Jovem, preparadíssimo, inteligente e competente.
Caso Lula seja impedido, de forma fútil, leviana, pela justiça de seguir sua carreira política, não deve o PT e os democratas ficarem chorando o “leite derramado”. Claro, deve-se denunciar a parcialidade da justiça, a injustiça brutal, é preciso ser solidário com a grande liderança que Lula é, defender o homem, o cidadão. Mas é preciso ir para cima, com outra liderança, voltar a empolgar o país, ocupar o espaço que a centro-esquerda possui no país.
Quadros como Manuela d’Ávila, Fernando Haddad, Guilherme Boulos, Paulo Teixeira, Rui Costa, Lindberg Farias, Alessandro Molon & outros tantos precisam ser valorizados e trabalhados em seus partidos e no ambiente da centro-esquerda, são bons políticos no presente, poderão ser ótimos políticos na futuro próximo.
Claudio Guedes é Empresário e Professor