Fenômeno vivido no dia a dia por mim na cidade do Salvador: venho andando por uma calçada. Um casal de pessoas com peles claras percebe a minha presença logo atrás dele.

Imediatamente, mas não tão acintosamente assim, ele, o casal, muda de calçada a perceber que me aproximo – do meu destino, não dele, mas pela dúvida…

A priori, represento um perigo.

Essa situação é repetida por grupo de mulheres, por idosos, por jovens etc.
Se a razão é pelo risco que posso oferecer por ser um afro-descendente, imaginem se souberem, ou se se derem conta, dos males causados à humanidade por russos, franceses, ingleses, alemães, belgas, italianos, espanhóis, japoneses, americanos etc, todos com peles claras? Onde iríamos parar?!

O racismo traz consigo, e de mãos dadas, o pré-conceito, a intolerância, a aversão ao diferente e à história – aqui como depositária dos fatos a nos colocar a todos na categoria de detentores desses males que acima mencionei.

Todo processo de intolerância racial ou religiosa nasce do desejo de dominar e exterminar o outro, como forma de garantir o mundo exclusivamente àqueles iguais a nós. Missão injusta, inglória e impossível nos dias de hoje.

Resta-nos dignificarmos as nossas existência na busca de sermos melhores, e para melhores sermos, necessário se faz que melhoremos tudo, absolutamente, TUDO, que nos cerca.

Joatan Nascimento é professor de música na Emus/Ufba