A Bahia me deve a Mega Sena da Virada!. Por Marconi De Souza Reis
Eduardo Alencar, ex-prefeito de Simões Filho, foi condenado em novembro passado por atos de improbidade administrativa, com a perda dos direitos políticos por cinco (05) anos. Irmão do senador Otto Alencar, ele pretendia ser candidato a deputado federal em 2018.
Os atos de improbidade foram cometidos em licitações envolvendo a empresa Marpel Engenharia no ano de 2002. Fui eu que descobri a falcatrua à época – Eduardo Alencar era o prefeito –, e denunciei em várias reportagens no jornal A Tarde. O caso foi parar na Justiça Federal, que o condenou agora, 15 anos depois.
Este é apenas um dos mil atos de corrupção que denunciei entre 1995 e 2005 envolvendo vereadores, prefeitos, deputados, secretários, governadores, magistrados, desembargadores, empresários, artistas, jornalistas, advogados, médicos, arquitetos, socialites, delegados, e que acabaram nas barras da Justiça.
Somente para se ter uma ideia, no ano de 2000 escrevi a série de reportagens “Desvio de Verbas”, na qual denunciei 45 prefeitos, e que, logo em seguida, provocou uma cassação de mandatos sem precedentes na Bahia, por meio de ações movidas por promotores públicos pelo interior afora.
Da TV Bahia ao Liceu de Artes e Ofícios, passando pelos presidentes do Bahia e do Vitória, ninguém ficou de fora. Pense em algum corrupto baiano, eu denunciei o bandido. Modéstia à parte, trata-se de algo épico o que está retratado no livro “ACM e Adriana – uma história de amor, traição e grampo”.
Pouca gente sabe, mas fui eu que também reinventei a esquerda baiana. Rui Costa, por exemplo, era um sindicalista anônimo, totalmente desconhecido, que eu trouxe às páginas do jornal. Ele nunca havia dado entrevista, quando me foi apresentado por Emiliano José. Ao pé do ouvido, Emiliano me disse:
– Esse rapaz é muito sério, mas tão tímido, que caga nas calças.
Eu virei para o sindicalista e perguntei:
– Como é seu nome?
– Rui Costa dos Santos, falou, com a voz mais trêmula do que vara de bambu.
– Vou usar só Rui Costa, avisei.
Bem, eu estava publicando uma série de reportagens em que denunciava a publicidade que o governo do Estado e a prefeitura de Salvador jogavam na TV Bahia e no Correio. Então decidi, num dos textos, criar uma frase e atribuí-la a Rui Costa. Pronto. Ele ficou famoso no meio sindicalista e elegeu-se vereador cinco meses depois.
Passados 14 anos, na campanha para governador do Estado, Rui Costa repetiu a minha frase, embora desta feita somente envolvendo a prefeitura de Salvador:
– “Há um duto ligando os cofres da prefeitura à TV Bahia e ao Correio”, disse Rui Costa, revivendo a minha frase.
ACM Neto prometeu processá-lo por calúnia e difamação. E sabe por que não ajuizou a ação? Porque quando ACM, o avô, me processou pela série de reportagens sobre o “Duto da Publicidade”, o Ministério Público reverteu as ações contra a TV Bahia e o Correio. Simples assim.
Olha, naquela época os políticos viviam me ligando para saber como agir em diversos casos, a exemplo de Paulo Jackson, Nelson Pellegrino, Emiliano José, Alice Portugal, Moema Gramacho, Lídice da Mata, Zezéu Ribeiro, Walter Pinheiro, Zé Neto, Celso Cotrim, Luiz Bassuma, Colbert Martins e Arthur Maia.
Se não tivesse escrito aquelas cinco mil reportagens em dez anos – e tudo aquilo não estivesse registrado nas páginas do jornal A Tarde com farta documentação em cada edição –, nem eu mesmo acreditaria na epopeia. Há fatos, porém, que não estão nas páginas dos jornais. Por exemplo:
– “A Bahia não precisa da Polícia Federal. A gente tem Marconi”. A frase é de Nelson Pellegrino, proferida no camarote de Daniela Mercury, durante o Carnaval de 2003, quando eu escrevia as reportagens dos grampos telefônicos. A frase me foi passada pelas jornalistas Cintia Kelly e Lenilde Pacheco.
– “Com Marconi a gente não precisa da esquerda baiana”. A frase é do jurista Arx Tourinho, quando escrevi as reportagens denunciando Amadiz Barreto, e que o levaram a perder a eleição para Dultra Cintra no Tribunal de Justiça da Bahia. A frase chegou a mim por meio da advogada Ana Rita Teixeira, hoje vereadora.
Pois bem: viajando anteontem para Alagoinhas com a minha esposa, os principais tópicos desses parágrafos acima foram abordados e arrematados num diálogo, mais ou menos assim:
– Eu acho que fui naquela época, ao mesmo tempo, o advogado-mor e o promotor-mor da Bahia.
– E sem ganhar um só centavo de honorários. Ao contrário, a gente passava fome com aquele seu salário de repórter, replicou a minha esposa, já pensando no vil metal.
– Pois é…
– Quanto você acha que rendeu para a Bahia tudo aquilo que você fez?, questionou-me.
– Mais de um bilhão de reais, avaliei por baixo, porque o valor é, de fato, inestimável, inapreciável.
– A Bahia então lhe deve pelo menos uma Mega Sena da Virada, isto é, uns 200 milhões de reais, comparou a minha esposa, referindo-se aos 20% que, em média, têm direito um advogado.
– E ainda há uma pechincha de uns três milhões de reais referentes ao subsídio que ganharia um promotor público ao longo de dez anos, acrescentei.
Nesse momento, um carro fez uma ultrapassagem arriscada, vindo pela contramão em nossa direção – entre Catu e Alagoinhas –, e por pouco nós não perdemos a vida. Evitamos a colisão. Incontinenti, ela resumiu a nossa conversa numa só frase, e não voltamos mais ao assunto:
– O mais importante é que você acabou vivo para curtir seu maior tesouro, a bela família!
Pois é… No próximo dia 11 de dezembro completo 53 anos de idade, com a certeza do afeto da família e de alguns amigos sinceros. Aliás, acredito que alguns deles (familiares e amigos) vão presentear-me com um perfume, uma gravata, um chocolate, e sem pensar em receber nada em troca, assim como o fiz na minha luta na Bahia.
Marconi é Advogado e Jornalista