Aldeia Nagô
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A elite tupiniquim. Por Cláudio Guedes

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Claudio_Guedes

Desde há muito, quando aprendi a pensar um pouquinho, uma idéia me acompanha: a tragédia do país não é, nem nunca foi, o nosso “povo”.

Essa sempre foi a desculpa primeira do conjunto majoritário da nossa elite para culpar os desacertos e as desventuras do Brasil. Apenas uma desculpa esfarrapada, como tantas.

Sempre tive claro que a desfortuna do país estava nas suas elites dirigentes que, ao longo dos séculos, sempre se comportaram de forma predadora e egoísta. Viajando pelo mundo descobri, como tantos, que os povos são todos iguais, com suas diferenças étnicas e culturais, mas que a ambição de evoluir e se desenvolver é geral.

A diferença está sempre nas elites pensantes, do mundo da produção, da educação, da economia, do trabalho, da cultura. Temos nossas glórias, poucas, mas geniais – principalmente no mundo da cultura – mas somos de uma pobreza gritante quanto às nossas classes dirigentes e que controlam os meios de produção, a banca e os grandes negócios.

É o tema do artigo de hoje, de Roberto Dias, na Folha, 21/09, que reproduzo, com prazer:

“Nossa elite é a nossa tragédia

SÃO PAULO – Livre dos terremotos e furacões que arrebentam a parte central das Américas, o Brasil acabou a outro tipo de tragédia: sua elite.

Parte significativa dos nossos maiores empresários é o que a Lava Jato demonstrou que é. Como explicitado a certa altura do filme sobre a operação, o grupo deveria deveria reunir o que o país tem de melhor, não um bando de criminosos.

Da elite política, a que faz rodar o mar de lama, é que evidentemente não aparecerá nenhuma saída digna —está aí a discussão da reforma eleitoral para provar isso.

Na liderança, por sinal, nosso desnível se nota até no detalhe. Quem olhou com atenção a imagem do jantar do presidente americano com seu pares latino-americanos percebeu que o único fone de tradução visível aparece na orelha do brasileiro.No aspecto gerencial dessa elite, uma notícia desta semana resume muita coisa: no Estado mais rico do país, construiu-se do zero um aeroporto para ser a principal porta de entrada do Brasil e uma linha de trem para acessá-lo, mas o trilho acaba a 2,5 km do novo terminal.

A elite intelectual, por sua vez, assiste inoperante ao derretimento de suas universidades, algo demonstrado em imagens e rankings mundiais. Não por acaso, quem viaja por eventos internacionais de tecnologia logo percebe que o Brasil neles inexiste.

Com uma elite burocrática que trabalha voltada aos interesses do funcionalismo, o imobilismo não surpreende. Mas na esfera privada a coisa não é tão melhor. Soa emblemático o caso da chef que teve queijos apreendidos no Rock in Rio por não cumprir uma regra sanitária básica. Quando confrontada, a nata da sociedade reage como criança mesmo quando poderia ajudar a solucionar um problema real.

Se a desigualdade estivesse em queda livre, haveria um fiapo de esperança, mas não é o caso. A elite, além de tudo, parece petrificada.” (Roberto Dias, Folha de S. Paulo 21/09)

Cláudio Guedes é professor universitário e empresário.

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