A escolha do parceiro adequado é um passo crucial na relação amorosa por Ailton Amélio
A escolha de um parceiro amoroso adequado vai facilitar o início e o desenvolvimento do relacionamento, contribuir para ele que seja mais satisfatório e dure mais tempo.
As pessoas possuem certas características que são muito difíceis de mudar. Por isso, a escolha de um parceiro inadequado poderá produzir uma fonte contínua de insatisfação enquanto o relacionamento durar — e ele pode durar uma vida toda.
O amor é míope
O amor é míope, e o casamento, um bom par de óculos
Muita gente acredita que o amor é cego. Esta é uma crença errônea. Se o amor fosse cego, ele nasceria indiscriminadamente entre pessoas que possuem todos os tipos de características e, assim sendo, ele seria observado frequentemente entre ricos e pobres, universitários e analfabetos, bonitos e feios, moços e velhos etc.
Muitas vezes não conseguimos enxergar claramente todos os defeitos das pessoas que nos atraem, mesmo quando tais defeitos são bastante óbvios para outras pessoas. Muitas vezes até enxergamos tais defeitos, mas subestimamos as suas importâncias, o que também é um tipo de miopia. Tal miopia é registrada em ditados populares do tipo: “O amor supera todos os obstáculos”, “Quem ama o feio, bonito lhe parece”. Esta miopia pode fazer com que nos apaixonemos por pessoas altamente inconvenientes para nós.
O grau de miopia amorosa varia muito. Algumas pessoas são quase cegas, outras têm um grau moderado de visão e outras, ainda, enxergam perfeitamente nesta área. A miopia amorosa pode ser consideravelmente corrigida. As pessoas podem aprender a escolher melhor os seus parceiros.
Se a cegueira não é a regra que rege a escolha de parceiros, quais seriam as regras? Neste artigo, vamos ver algumas das melhores respostas que as pesquisas científicas oferecem para esta pergunta.
PRINCÍPIOS QUE REGEM A SELEÇÃO DE PARCEIROS
A seleção de parceiros segue um conjunto de princípios gerais. As pessoas usam estes princípios para deduzir as qualidades que querem e os defeitos que não querem num parceiro amoroso. Vamos examinar agora alguns desses princípios.
O Princípio da Admiração
“A admiração é um requisito para o amor.” (Stendhal)
Segundo Stendhal (Henri Marie Beyle), famoso romancista francês e autor de uma das teorias mais respeitadas sobre o apaixonamento, a admiração é um dos requisitos essenciais para o nascimento do amor. Quando uma pessoa é admirada, isto significa que possui qualidades que o admirador valoriza e gostaria de ter em si ou para si. Segundo a Teoria da expansão do Ego, ter um relacionamento amoroso com uma pessoa admirada é uma forma de incorporá-la, juntamente com as suas qualidades desejadas, ao ego do admirador. Ou seja, esta é uma forma de o amante adquirir as qualidades admiradas do amado.
Em geral, preferimos um parceiro amoroso que tenha o maior número possível de qualidades e a intensidade máxima de cada uma delas. Por exemplo, suponhamos que vamos escolher um dentre dois pretendentes, os quais diferem apenas quanto ao grau que possuem de uma determinada qualidade como, por exemplo, grau de beleza. Qual deles seria o escolhido? Quase todo mundo escolheria, sem pestanejar, o mais bonito.
Existem duas restrições que impedem que este princípio seja seguido ao pé da letra por todo mundo:
(1) Tenho que escolher um parceiro que corresponda ao meu interesse amoroso (senão ele não vai topar um relacionamento amoroso comigo).
(2) Tenho que escolher um parceiro cujas características sejam compatíveis com as minhas (para que o relacionamento tenha uma boa chance de dar certo).
Pelo que foi dito acima, poderíamos concluir que aquelas pessoas que não conseguem um parceiro excelente para um relacionamento amoroso ficariam frustradas e que, nos casos em que estas pessoas viessem a se relacionar amorosamente com outro parceiro menos qualificado, este relacionamento não seria baseado na atração, no amor, mas, sim, no conformismo e na resignação por “não ter conseguido nada melhor” ou que “é melhor um pássaro na mão do que dois voando”.
Esta conclusão é equivocada: para o nascimento do amor é suficiente que haja semelhanças entre os parceiros nos atributos mais relevantes para um relacionamento amoroso. Basta que eles possuam qualidades que sejam mutuamente admiradas e que eles se interessem amorosamente um pelo outro. Em geral, nos apaixonamos por quem é apenas um pouco melhor do que nós em algum atributo que achamos importante. Tais condições são perfeitamente preenchidas por pessoas que estão longe de serem “superparceiras” amorosas.
O Princípio da Homogamia
“Temos algo em comum.” / “Eles são farinha do mesmo saco.”/ “Ela é muita areia para o meu caminhãozinho.” (Frases populares)
Este princípio afirma que os relacionamentos amorosos têm mais chance de serem iniciados e de darem certo quando os parceiros são semelhantes entre si.
Este é o princípio mais importante da seleção de parceiros. Os estudos científicos vêm mostrando, cada vez mais claramente, que nos relacionamentos amorosos que dão certo (são iniciados mais facilmente, têm um grau maior de satisfação, duram mais etc.) os parceiros são semelhantes entre si em um número muito grande de características.
É relativamente raro encontrarmos casais onde um dos cônjuges seja analfabeto e o outro universitário, um cônjuge com 18 anos e o outro com 70 anos, um cônjuge de 2m de altura e o outro de 1,50m, um cônjuge milionário e o outro paupérrimo etc. Esta raridade de parcerias tão discrepantes indica que na vida real a homogamia é o princípio mais adotado na seleção de parceiros amorosos.
Este princípio vem sendo amplamente confirmado por muitas pesquisas científicas. Por exemplo, algumas destas pesquisas procuram medir o grau de semelhanças entre os parceiros de relacionamentos amorosos que dão certo e de relacionamentos amorosos que não dão certo. Uma das melhores pesquisas deste tipo, que confirma o princípio da homogamia, foi realizada Michael e outros (1994)com uma amostra da população americana que estava começando um relacionamento, já tinha iniciado, mas não moravam juntos, moravam juntos ou eram casado.
O Princípio da Complementaridade
“Os complementares se atraem.” / “Quem é tímido geralmente arranja uma namorada extrovertida.” (Frases populares)
Este princípio afirma que a complementaridade entre certas características dos parceiros contribui para que o relacionamento amoroso entre eles se inicie mais facilmente e seja mais satisfatório e duradouro.
A complementaridade em certas características realmente propicia as condições para que os parceiros possam funcionar como uma equipe, o que aumenta as suas eficácias para atingir objetivos em comum.
A teoria da complementaridade foi apresentada formalmente por Winch (1955). Segundo esta teoria, as pessoas procuram satisfazer as suas necessidades casando-se com parceiros que tenham características que as “complementem”. Quando dois parceiros se complementam em vários aspectos, eles satisfazem várias necessidades mútuas.
Embora esta teoria seja muito atraente, sua comprovação empírica é pequena: as pesquisas realizadas para testá-la não conseguiram mostrar que ela realmente funcionava nas escolhas de parceiros.
Uma versão mais recente da teoria da complementaridade, formulada por Robert J. Sternberg, autor de várias teorias sobre o amor e professor da Universidade de Yale está sendo comprovada pelas pesquisas. Segundo esta teoria, as experiências afetivas fazem com que as pessoas desenvolvam histórias a respeito do que é o amor, como o amor deve nascer, como o amor deve se desenvolver e quais os papéis complementares que os amantes devem desempenhar nesta história. Em seguida, as pessoas tentam realizar as suas histórias de amor associando-se com um parceiro que desempenhe os papéis complementares aos seus próprios, previstos em suas histórias de amor. Em outras palavras, geralmente nos apaixonamos por aquelas pessoas que poderão desempenhar papéis complementares aos nossos.
O Princípio das Médias Ponderadas dos Defeitos e Qualidades
“Ninguém é perfeito.” / “Este cara feio deve ser muito rico para conseguir namorar uma mulher como aquela.” (Frases populares)
Este princípio afirma que as pessoas avaliam o grau de atração dos seus parceiros amorosos levando em conta as suas qualidades e defeitos. Nesta avaliação, as pessoas também levam em conta as importâncias de cada um destes defeitos e qualidades.
Se houver uma discrepância muito grande entre os valores médios de atração de duas pessoas, é menos provável que elas iniciem um relacionamento amoroso entre si e, naqueles casos onde este relacionamento é iniciado e progride para um casamento, é menos provável que este seja satisfatório e que dure muito tempo.
O escore de atração de uma pessoa depende dos critérios de cada avaliador: diferentes avaliadores podem atribuir diferentes pesos para cada uma das qualidades e defeitos de um parceiro que está sendo avaliado.
Os critérios levados em conta para selecionar um parceiro amoroso também podem variar de acordo com o estágio do relacionamento. Por exemplo, a beleza pode pesar mais nos primeiros encontros (por exemplo, para tomar a decisão de namorar com uma pessoa ) do que em estágios mais avançados do relacionamento (por exemplo, na hora de tomar a decisão a decisão de casar com a pessoa).
As pessoas não têm muita consciência de que usam tais princípios. Se perguntarmos para as pessoas quais as regras que elas seguem para escolher um parceiro amoroso, a maioria delas terá muita dificuldade para falar sobre isso e poderá, inclusive, negar que siga qualquer regra com esta finalidade.
Problemas graves e duradouros com o parceiro? Procure a ajuda de um psicólogo.
Nota: Este artigo foi baseado no Capítulo 4 do meu livro “O Mapa do Amor”, Editora Gente. Este capítulo inclui a bibliografia que embasa as afirmações deste capítulo.
Artigo publicado originalmente em http://ailtonamelio.blog.uol.com.br/arch2013-07-01_2013-07-31.html