A grande descoberta por Franciel Cruz
Quem decide escantear as emoções de plástico e viver à vera, inevitavelmente vai se esbarrar na disgramada da sinuca de bico. Sim, amigos de infortúnios, a vida pela bola 7 é aquele desassossego dos 600 DEMÔNHOS que exige uma rápida decisão.
Os (des) caminhos são trilhados ali, no quente, pois o tempo, que urge e ruge, nunca suspende seu voo. Um passo em falso e fudeu Maria Preá.
Pois bem. A culta plateia, claro, conhece a história do Corneteiro Lopes, mas não custa repetir, pois é exemplo clássico de que, nem sempre, a decisão mais razoável, mais ponderada & prudente é a melhor.
Relembrando. As tropas portuguesas, chefiadas pelo tenente-coronel Madeira de Melo, desciam a madeira, botavam pra vê tauba lascá ni banda na briosa localidade de Pirajá para impedir a independência do Brasil, dos 18 continentes e, quiçá, até da Bahia.
Ao ver que a casa estava fedendo a homem, o major Barros Falcão, comandante das tropas de Pindorama, ordenou o recuo. Porém, talvez inspirado por Padre Antônio Vieira, que pregou o primeiro sermão ali em Pirajá, no Engenho São João, o corneteiro teve um estalo, desobedeceu às ordem e deu o toque inverso pra cavalaria baiana (que não existia) “avançar e degolar”. O resto é história. Os portugas se cagam até hoje e a Bahia se consagrou como a terra dos culhudeiros.
Pois muito bem.
Na manhã deste domingo, eu e meu amigo Iuri Vasconcelos estivemos em Cachoeira, cidade que muito contribuiu para a independência da província, diante de dilema tão ou mais importante do que este do corneteiro.
Seguinte foi este.
Possuídos por uma laricosa fome descomunal, que contou com o auxílio luxuoso de substâncias não recomendadas pela Carta Magna, precisávamos decidir se seguiríamos o cortejo da Festa da Ajuda com o estômago roncando ou se nos deslocaríamos a algum estabelecimento pra forrar a barriga e correr o risco de perder a chibanca. Valentes, optamos pela jogada mais arriscada. Fomos à padaria.
Como imprudência pouca é bobagem, em vez de seguir o exemplo deste moderado locutor e pedir uma média, meu amigo arrisca um suco de laranja. O meu cafezinho acompanhado do singelo misto (frio, pois a moça esqueceu de esquentar a chapa) saiu logo, coisa de 20, 30 minutos. Já o suco…
Depois de umas 2 horas de espera (não me pergunteo tempo exato, pois não uso relógio), meu amigo perdeu a fleuma e foi para o ataque, igual as tropas de Pirajá.
– “Moça, você tem notícia de meu suco?”
E foi então que rolou o segundo estalo de Vieira. Os olhos da atendente brilharam. Ela olhou para a cozinha e anunciou a boa nova.
“Rosana, eu DESCOBRI de quem é o suco”.
Não riam, por favor. O momento é solene. E a descoberta da criatura não foi tão fácil assim como alguns maledicentes possam insinuar. Afinal, existiam 3 (repetindo em caixa alta e por extenso TRÊS) mesas. É fato que em duas delas as pessoas já haviam sido atendidas, mas, mesmo assim, descobrir de quem era o suco era algo que exigia muita catilogência.
Ô, cidade de Cachoeira papa-capim dos meus sonhos.
Franciel Cruz é Jornalista