Aldeia Nagô
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A impotência e a Síndrome de Estocolmo por Eduardo Guimarães

4 - 5 minutos de leituraModo Leitura

Por conta do post de ontem
tratando de novas manifestações do MSM, conversei por telefone e por e-mail com
várias pessoas ligadas ao Movimento. São formas de comunicação com vocês que,
ainda que não possam ser rotineiras, são muito ricas.
 


Depois de falar, falar, escrever e
escrever, fiquei pensando: acho que todo jornalista, todo blogueiro, todo aquele
que escreve para muitas pessoas lerem deveria conversar com seus leitores. 

 A experiência que este blog e,
depois e mais do que ele, o MSM vêm me proporcionando em termos de conhecimento
da alma humana, é insuperável e extremamente didática. Comportamentos dos mais
díspares podem ser vistos. Formas totalmente antagônicas de ver o mundo.
Sabedoria, generosidade e humildade se contrapõem à ignorância, ao egoísmo e ao
pior de todos os sentimentos, o ódio, muitas vezes gratuito. 

 Mas há um sentimento que noto na
maioria dos que compartilham meus pontos de vista políticos e ideológicos: a
impotência.
 
Vou lhes dizer, fico
verdadeiramente consternado ao constatar pessoas de todos os níveis sociais, de
todas as faixas etárias, de todas as partes do país que não cabem mais em si de
indignação com a mídia. Mas o sentimento de impotência dessas pessoas, por
saberem que têm que ler e assistir mentiras e mais mentiras se sobrepondo nos
meios de comunicação sem poderem contestar, é o que predomina.
 

O sentimento de impotência é
demolidor do espírito humano. O pior de seus efeitos colaterais é similar à
eminente Síndrome de Estocolmo, em que o cativo acaba estabelecendo uma
submissão amistosa com seu carcereiro. As pessoas, sob determinadas condições de
inferioridade, tendem a se submeter à "inevitabilidade" do cativeiro. Isso se
reproduz na situação de impotência da sociedade diante do que faz a mídia.
 

Ontem li um artigo excelente no Observatório da
Imprensa
que trata da novela das oito da Globo. Eu já havia assistido
alguns capítulos, pois me interessa muito o uso que a emissora faz das
telenovelas para vender suas teorias político-ideológicas. Na trama, um jovem
universitário negro que reclama de racismo é apresentado como um agitador
irresponsável e mau-caráter, enquanto a reitora endinheirada da universidade é
apresentada como uma heroína. E mais: ricos brancos cariocas vivem freqüentando
uma favela. Negros pobres e brancos ricos convivem em perfeita harmonia. Estudam
juntos, freqüentam os mesmos lugares e quem fala de racismo é apresentado como
vilão. 

 Demorou muito para alguém escrever
sobre esse absurdo – e eu mesmo, que já tinha idéia de escrever sobre o assunto,
acomodei-me.. O fato é que as pessoas estão aprendendo a conviver com o que a
mídia faz. Tirando algumas milhares de pessoas que vêm à internet para desabafar
e buscam acreditar que estão conseguindo influir em alguma coisa, a maioria
absoluta já se entregou faz tempo à mídia.
 

A ilusão que o apoio a Lula gera é
a de que a mídia está sendo derrotada. E, na verdade, está. Mas não é por Lula
ou pela esquerda, mas pela boa administração do país pelo governo do
ex-operário. Não canso de dizer que Lula só se mantém forte politicamente porque
seu governo é bom – e só por isso. O brasileiro não quer mais promessas, quer
ver acontecer a realização dessas promessas.
 

Temo que, se até 2010 não
conseguirmos acordar a sociedade para o perigo da mídia, esta conseguirá colocar
quem quiser no poder, ou seja, José Serra, o PSDB e o PFL, que tratarão de
interromper o processo redistributivo de renda que está em curso no país. No
médio prazo, um novo governo tucano poderá gerar, aí sim, um grave conflito
social, uma luta de classes exacerbada, que primeiro se traduzirá por nova onda
de aumento da violência e da criminalidade como a que houve durante a era FHC.
 

Mas o que alenta é um núcleo de
pessoas sempre dispostas a ir à luta e que percebem tudo isso que estou dizendo.
O que temos que fazer, agora, é transformar esse núcleo em disseminador da
contrariedade com a acomodação e com o imobilismo. Se cada um de vocês engajados
se incumbir de convencer mais dois, mais três a tomarem atitudes, em vez de
crescermos em progressão aritmética cresceremos em progressão geométrica.
 

Não temos pressa. Temos tempo até
2010. Vamos caminhando, e sempre combatendo a Síndrome de Estocolmo.

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