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A perseguição à esquerda e as crenças dos imbecis convictos. Por Bruno D’Almeida

3 - 4 minutos de leituraModo Leitura

Em 2016, Lula foi nomeado ministro no governo Dilma. Foi impedido pelo STF, sob alegação de ser investigado e que o foro privilegiado atrapalharia investigações. Esse foi o início do golpe que tirou Dilma do governo.

Hoje, quase um ano depois, Moreira Franco, que também é investigado pela Lava Jato, nomeado ministro do governo Temer, numa situação idêntica a de Lula, teve sua nomeação validada pelo mesmo STF.

Em primeiro lugar, é necessário estabelecer o ordenamento jurídico das coisas: investigado não é réu, não é julgado e sequer condenado ainda. Deve valer a presunção de inocência. Em tese, de acordo com as leis, nem Lula ou Moreira Franco deveriam ter suas nomeações questionadas. O Supremo Tribunal Federal mostra sua cara golpista ao rasgar a Constituição para Lula e defendê-la para Moreira Franco. Não vivemos tempos normais, há um estado de exceção instalado e esse conflito de nomeações é muito pedagógico para o momento atual.

O mais estarrecedor é a normalidade com que as pessoas que foram às ruas contra Lula e PT, agora silenciam com uma situação idêntica. É um silêncio que grita. Significa, ao fim e ao cabo, que não se trata de haver uma base fundamentada ou legal, é ódio escancarado mesmo, fomentado pela mídia e aceito passivamente por setores importantes da sociedade. Um ódio que extrapola o PT e atinge a esquerda como um todo.

Fico observando no dia a dia o discurso dessas pessoas que gritaram “fora PT”. Muitos deles familiares e colegas de trabalho. São pessoas que, no cotidiano, criticam a luta sindical, furam greves e admiram “empresários de sucesso”, mesmo que sejam explorados pelo patrão; são machistas e acham que mulher “precisa se dar o respeito” e serem submissas ao homem; são homofóbicos e acham que “viado é uma aberração” e que devem morrer; e são racistas, pois menosprezam o genocídio do povo negro com essa conversa de que “a raça é humana”. É muito comum essas pessoas inclusive incitarem a violência contra as minorias. Ora, o golpe caiu como um prato cheio para essas pessoas extravasarem seus preconceitos que foram historicamente construídos no Brasil.

Essas pessoas preconceituosas não são ignorantes ou burras. Elas têm consciência de suas crenças. Não sentem vergonha de suas intolerâncias e vomitam seu ódio confundindo liberdade de expressão com liberdade de opressão. Elas perceberam que havia um governo que, mesmo com todos os erros, estava melhorando a vida do povo pobre. Essas pessoas perceberam que minimamente pobres, pretos, mulheres, gays, que toda massa brasileira aos poucos começava a ocupar espaços de poder e ameaçar privilégios de quem tem. Há uma dupla disputa em curso, que é cultural, pois reflete nosso pensar e posicionamento diante do mundo, e ao mesmo tempo de buscar igualdade em todos espaços da sociedade. Triste, mas triste mesmo, é ver tanta gente pobre sendo massa de manobra das elites.

Logo, essa questão central, que é a disputa de poder, se tornou mais importante dos que os fatos. Na era da pós-verdade, a imagem que temos das coisas é mais importante do que as coisas. A imagem e as crenças imperam sobre a realidade concreta. Não importam os fatos, o que importam são as interpretações. O golpe é a metonímia de todos os nossos ódios cotidianos. Por isso não importa se um Alexandre Morais escreveu livros com plágios roubados de outros autores. Não importa se um indicado ao STF cometeu crime que compromete a reputação ilibada exigida. O que importa, para quem se reconhece na figura de Alexandre Morais, é que se trata de uma pessoa que está ao mesmo lado do preconceito e do ódio.

Por isso boa parte da população ignora que o STF hoje foi uma engrenagem do golpe. Estão se lichando se Moreira Franco é investigado da mesma forma que Lula. Essas pessoas pensam: dane-se, o que importa é que esses esquerdistas estão fora do poder. Não importa que o governo Temer seja formado por uma quadrilha de ladrões. Roubar não importa, corrupção nunca importou. Essas pessoas não querem saber da verdade. Eles sabem que há um governo que, no fim das contas, vai varrer os pobres dos espaços de poder.

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