Aldeia Nagô
Facebook Facebook Instagram WhatsApp

A Saúde Mental adverte, a política atual faz mal à saúde. Por Marcelo Veras

2 minutos de leituraModo Leitura
Marcelo_Veras

O que ocorre quando uma política de saúde mental é orientada por um modelo hospitalocêntrico? Talvez muitos das novas gerações de profissionais da saúde mental, que já foram formadas em CAPS e demais serviços substitutivos, não tenham conhecido uma verdadeira instituição asilar.

Cabe à todos que conheceram os asilos não deixar essa memória se apagar. A lógica asilar é o fracasso do discurso e da conversação, nela prevalecem o poder e a disciplina como forma de tornar os corpos e mentes dóceis ao Outro social.

Prefiro a babel democrática dos diversos discursos de uma equipe multidisciplinar. Queixa-se com frequência de que a pluralidade do discurso interdisciplinar é infernal, que é nela que reside a maior dificuldade em fazer existir uma unidade terapêutica sintetizada no projeto terapêutico individual. Ora, somente o espaço público e democrático poderá garantir e suportar o choque dos discursos criando um lugar para o sujeito. Mais o sujeito é capturado por um único discurso, mais ele tende a ser eclipsado.

A Saúde Mental não é um conceito organizado a partir de um discurso ou de uma lei. Seu objeto é a loucura de cada um, loucura inapreensível quando se busca alcançá-la através da pureza asséptica de uma política que só pensa em números. É por isso que a clínica é mais do que um simples discurso, ela implica um ato. O obscurantismo dos políticos que agora se arvoram a legislar sobre a saúde mental – muitos sob um fundo religioso – parte invariavelmente da premissa de que todo sintoma é handcap.

É importante que os psicanalistas participem desse debate, há muito que a psicanálise não é apenas divã, ela participa ativamente dos espaços sobre os quais pesam novamente os discursos de segregação da loucura. Doença e loucura são conceitos que nunca se superpõem completamente. Saúde Mental é muito mais do que tratar de uma doença, ela inclui igualmente o tratamento do Outro, de sua falha, sua incompletude. Estamos em um desses momentos em que tratar o Outro é mais importante do que tratar a loucura. Repito uma frase que disse recentemente:

“A Saúde Mental adverte, a política atual faz mal à saúde.”

Marcelo Veras é Psicanalista

Compartilhar:

Mais lidas